Em 1994, Adelino Gomes definiu que eram os jornalistas quem tinha maiores dificuldades em exercer a profissão… «O jornalismo português tem três heróis: um é individual e vou nomeá-lo… Tolentino da Nóbrega (1952-2015), que há 20 anos é correspondente dos jornais do continente na Madeira e que, por tudo o que já fez, bem merecia a Ordem da Liberdade; o segundo é o conjunto de jornais e jornalistas dignos desse nome na imprensa regional portuguesa; o terceiro é o conjunto de jornais e jornalistas dignos desse nome na imprensa desportiva.»

«A estes é possível acrescentar um outro grupo: os que trabalham na área do desporto em órgãos de informação regionais», acrescentou Luís Sobral no preâmbulo de um livro que escreveu (em co-autoria com Pedro Magalhães) em 1999: «Introdução ao jornalismo desportivo» (Edição CENJOR/CNID).
Na altura, eu trabalhava na revisão do jornal desportivo «A BOLA», onde Luís Sobral era jornalista. Pediu-me para dar uma «olhadela» no livro, apenas com o intuito de limar arestas (de escrita entendia ele). Fi-lo com agrado e considerei que se tratava de um excelente «manual de jornalismo»; muito dirigido aos profissionais da chamada imprensa regional, na qual os «poderes» exercem mais pressão; a proximidade é maior e todos se conhecem – aumentando assim o grau de dificuldade em manter a isenção jornalística; à boa maneira de Tolentino da Nóbrega.
Lembrei-me deste livro interessante (a merecer reedição) e respiguei curtos excertos:
«Na generalidade das profissões, o erro é privado. Muitas vezes individual ou limitado ao colectivo de uma empresa ou serviço. Num jornal, uma simples gralha, quantas vezes alheia ao jornalista, provoca irritação, riso, comentário público. A exposição é o quotidiano de quem tem por função informar e contar histórias aos outros.»
«Nenhum leitor está interessado em saber se o jornalista dormiu pouco, correu muito ou esteve a ponto de ser agredido ou levar um tiro para obter aquele conjunto de palavras e imagens. Não raro, as dificuldades nascem e morrem com ele. De facto, só ao jornalista interessam.»
«Um sinal de pontuação altera o sentido de uma frase. Depois de impresso, o erro multiplica-se. Pode ser emendado na edição seguinte, mas a reparação nunca terá a força do texto inicial. E quem leu o primeiro pode nem dar pelo segundo.»
«Em jornalismo, escrever bem é tudo menos somar palavras bonitas, complicadas, longas.»
«A informação desportiva pressupõe saber específico; mas nisso é igual a qualquer outra.»
Luís Sobral – um jornalista desportivo
Luís Sobral foi director editorial da Media Capital Digital. Diretor e fundador do jornal desportivo «Maisfutebol». Editor do programa «Maisfutebol», na TVI24. Responsável pela equipa newsdesk na TVI24. Foi diretor-adjunto (2014) e subdiretor de informação (2009/10) e editor de desporto na TVI (2002/09). Comentador da TSF entre 2001 e 2004. Desempenhou funções de coordenador da secção «Benfica» em «A BOLA», onde trabalhou durante oito anos. Foi formador do CENJOR, escola de jornalismo com sede em Lisboa. Foi docente na pós-gradução em jornalismo da Media Capital/ISCTE (2013 e 2014). Co-autor do livro «Introdução ao Jornalismo Desportivo», editado por CENJOR (Centro Protocolar de Formação de Jornalistas) e CNID em 1999. Licenciado em Antropologia pela Universidade Nova de Lisboa. Nascido em 1968.
Há dez anos, Luís Sobral deixou o jornalismo e dedicou-se à consultadoria e à formação na FPF-Federação Portuguesa de Futebol.
Terminou recentemente essa actividade. E agora? «Já não sou jornalista há dez anos, mas não perdi o encanto por uma reportagem bem feita. Em 2014, tive oportunidade de conversar sobre comunicação com duas turmas de treinadores que frequentavam o curso UEFA PRO. Entre eles estavam Sérgio Conceição, Nuno Espírito Santo, Paulo Fonseca, Pedro Emanuel, Marco Silva, Helena Costa, Francisco Neto e vários outros com experiências bem distintas. Gosto muito de dar formação e geralmente quando chega o dia não gosto nada; tamanha é a responsabilidade. Mas o período entre dizer sim e chegar ao local é óptimo, pelo que obriga a reflectir e organizar ideias.»
De regresso ao jornalismo? «Nesta altura não tenho qualquer vínculo com instituições relacionadas com media, futebol ou desporto. Ou outra qualquer. Se tiver, interromperei esta actividade (novo espaço digital). Isso permitir-me-á ser verdadeiramente livre. Sem agenda, pensarei apenas pela minha cabeça. Utilizarei a experiência e a curiosidade para produzir textos que possam acrescentar conhecimento sobre as áreas que me interessam: media, jornalismo, comunicação, futebol e desporto. Ler, estudar e escrever.»
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«Estas coisas da alma», crónica de Manuel Sequeira
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