O dia decorre numa ambiguidade de primavera a oferecer, neste instante, um calmo sentar à mesa.

E assim começa a ideação da crónica…
Mas a pena não age servilmente. Não obedece a tema suposto.
Treme entre os dedos, hesita e não avança. Teima e não desiste da sua intrínseca vontade.
É uma pena seduzida pelo odor da primavera que se vê fascinada pelos verdes renovados. É uma pena sugestionada pelas cores do horizonte que se sente desafiada na calidez do tempo.
Ela segue o seu querer.
Há de persistir em embalos doces, entre quentes e frios, entre sóis e brumas, entre pássaros e cantos.
Prosseguirá perante o que se espera que floresça, e o que se anseia que frutifique.
Não é fácil subjugar uma pena assim!
Ela nunca será o que não é. Nunca escreverá o que não ama. Nunca mentirá a si própria.
Só na sua verdade será feliz.
Deslizará, pois, suavemente, na exata medida do seu desejo. Acomodar-se-á meigamente entre os dedos e cumprirá como quem alcança.
Não vacilará por dentro do seu decurso e desfrutará da cumplicidade do papel para mostrar ao mundo a sua verdade.
Só finalizará quando deixar visíveis os ditos da sua alma. Só terminará quando, entre metáforas, estiver certa de ter desenhado a verdade leve de um instante primaveril.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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