:: :: 2000 (2) :: :: Na caravana rumo a Segovia e aos Pirenéus para depois seguir para os Alpes suíços (passando pela histórica e mítica Zermatt) e franceses. Passagem junto da fronteira italiana, para subir a Val d’Isère e aos Cols de Iseran e Galibier; a 2764 metros de altitude.

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2000
(segunda parte)
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2000… De terras pirenaicas a terras da Dordonha
22.07.2000 | Terminara mais um ano lectivo. Na caravana, partimos rumo a Segovia e aos Pirenéus. Ao segundo dia, estamos no Vale de Hecho, extremo ocidental dos Pirenéus aragoneses. Era mais um paraíso para descobrir, ao longo do rio Aragón Subordán e entre picos que ultrapassam os 2300 metros de altitude. Passada Hecho, a estrada aperta-se entre os enormes paredões rochosos da Boca del Infierno, para terminar na Selva de Oza, magnífico bosque de faias, abetos e pinheiros silvestres.
O dia 24 foi assim dedicado a uma esplêndida caminhada, subindo o curso do Aragón Subordán, paralelamente à fronteira francesa. Nos céus, cruzavam-se abutres e milhafres. Foram cerca de 11 quilómetro até ao lugar de Aguas Tuertas, nome aragonês para os meandros que o rio desenhou naqueles prados de altitude, para os quais correm numerosas cascatas e torrentes. Estávamos a 1600 metros de altitude e a pouco mais de dois quilómetros já da fronteira mas havia que regressar à caravana, na Selva de Oza, e a Hecho. A aldeia é também uma pequena jóia arquitectónica, denotando já a influência da proximidade com Navarra. Tínhamos conhecido mais um recanto paradisíaco dos Pirenéus!
No dia seguinte, passámos de terras aragonesas para terras Navarras, por Ansó e Roncal. É o reino da montanha, em que tão depressa subimos a um puerto como descemos a um profundo vale. Passámos Isaba, subimos, e, a 1760 metros de altitude entrámos em França. Estávamos no Col da Pierre St-Martin. Nos meus tempos da Espeleologia, tinha ouvido falar muito da gruta do mesmo nome, situada nas proximidades do Col. Com os seus mais de 1300 metros, era considerada a gruta mais profunda do mundo.
Depois, por Pau – de onde dissemos adeus aos Pirenéus – Tarbes, Auch e Agen – onde cruzámos o Garona – o destino era a Dordogne, as terras da Dordonha, especialmente o vale do Vézère, ou Vallée de l’Homme, o berço do Homem moderno. Em Les Eyzies e nas grutas de Lascaux, revivemos o quotidiano dos nossos antepassados do Neanderthal. E, ao longo do Dordogne, sucediam-se belas paisagens, complementadas por imponentes castelos e culminando nas construções monásticas de Rocamadour, onde «venerámos» a respectiva Virgem Negra.
Ao fim da tarde do dia 28 de Julho estávamos mais uma vez em Tours e mais uma vez a bela cidade do Loire nos recebia. Lá passámos os três dias seguintes, em família para depois seguirmos para os Alpes!
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Dos Alpes suíços e franceses… aos Pirenéus
No primeiro dia de Agosto de 2000 partimos, eu e a «sócia», de Tours para Paris. Estávamos em férias, tínhamos descoberto mais um recanto paradisíaco dos Pirenéus e tínhamos atravessado a Dordonha. Em Paris, a caravana ia contudo apanhar mais dois «passageiros», os cunhados com quem tínhamos partilhado a «aventura» de 1993. Ao contrário desse périplo sete anos antes, desta vez as crianças já não eram crianças e éramos portanto só os dois casais.
Atravessada a França no sentido NW/SE, entrámos na Suíça pelo Jura, direitos a Neuchâtel e a Berna. Depois lagos e montanhas, glaciares e paisagens alpinas! Thun, Interlaken, os Thuner See e Brienzer See, e subimos para o Grimselpass. Acima já dos 2000 metros de altitude, o Grimselsee saúda-nos, e entramos no vale do alto Ródano, com espectaculares panorâmicas do respectivo glaciar.
Em Visp começamos a subir para Täsch e para a histórica e mítica Zermatt. A aldeia de Zermatt é talvez a mais célebre estância de montanha da Europa, desde meados do século XIX. Próximo, situam-se numerosos picos com mais de 4 mil metros de altitude, nomeadamente o Matterhorn (4.478m), ou Monte Cervino. A nossa estadia em Zermatt foi de dois dias e meio mas não vimos o Matterhorn! Quase permanentemente a chover, a sensação de estar ali tão perto mas não o vermos foi frustrante. Valeu-nos o carácter da aldeia, com as suas construções tipicamente suíças, de montanha mas demasiado turística. Subimos no funicular do Sunnegga, o primeiro funicular suíço totalmente construído no interior da rocha, que nos levou aos 2288 metros de altitude.
E a Zermatt seguiam-se outros dois locais míticos dos Alpes: o grande e o pequeno S. Bernardo. O Grand St-Bernard separa o sudoeste da Suíça do vale de Aosta, Itália, e o Petit St-Bernard separa este de França. Uma sucessão de paisagens fabulosas, apenas ensombradas pela chuva que teimava em persistir. Entre os dois St-Bernard, Aosta deu-nos um «cheirinho» de Itália, recordando a nossa passagem por aquele vale, em sentido contrário, vindos de Chamonix, sete anos antes. Passámos aliás o cruzamento para o Parque Nacional Gran Paradiso mas desta vez o destino era o Parque Nacional da Vanoise, em França. Os dois parques fazem aliás fronteira. Ao fim da tarde de 5 de Agosto, estávamos assim em Pralognan-la-Vanoise. A previsão meteorológica dava melhoria para os dias seguintes.
O dia 7 de Agosto amanheceu esplendoroso. Rapidamente nos esquecemos que há uma semana que andávamos à chuva! E, de entre as muitas caminhadas possíveis no Parque Nacional, escolhemos a do Mont Bochor, ao qual se sobe de teleférico desde Pralogan, para regressar depois a pé, num percurso de cerca de 10 quilómetros, com espectaculares panorâmicas de montanha. Mas voltaríamos ainda junto da fronteira italiana, para subir a Val d’Isère e aos Cols de Iseran e Galibier; a 2764 metros de altitude, o Iseran foi o ponto mais alto deste périplo. Depois, rumámos a sudoeste, atravessando o Parque Nacional des Écrins, em direcção a Grenoble, Valence, à nascente do Loire e às Gorges de l’Ardèche, onde passámos um dia. O regresso incluiu ainda uma passagem por Andorra e um matar de saudades do Parque Nacional de Aigües Tortes. A partir de Espot, subimos de jeep ao Lago de S. Maurício, recordando as «aventuras» ali feitas com alunos, em 1985 e 1995. E no dia 14 de Agosto fizemos mais de 1200 quilómetros de caravana, desde Sort, nos Pirenéus catalães até casa.
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«Por fragas e pragas…», crónica e fotos (copyright) de José Carlos Callixto
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana)
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