A língua portuguesa, tão rica de vocábulos que gradualmente foram assimilados, suscita comentários que a propósito ou despropósito, com acordo ou desacordo, merecem sugestões. Vamos «computorizar» e enfrentar o «icebergue».

Computorizar
Alguns dicionaristas entendem tratar-se de uma forma sincopada de «computadorizar», como é o caso do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências.
O Grande Dicionário da Língua Portuguesa – Grande Biblioteca Multilingue regista «computorizar» como equivalente de «computadorizar». O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis (edição brasileira), menciona somente «computadorizar». Há estudiosos que apontam a formação de «computorizar» a partir do ingl. computerize e registam as duas formas como equivalentes. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora omite um e outro termo, mas por analogia verificamos na mesma publicação a equivalência de «desodorizante» e «desodorante».
Dada a sua transposição para TAC (tomografia axial computorizada), como é comum dizer-se e escrever-se, entendemos dar prevalência à palavra «computorizar», por ser menos complexa, usada e também registada.
A pretexto, podemos invocar o fenómeno que assiste à formação da palavra «saudoso» (de saudade+oso e não de saúde+oso), embora estejamos aqui em presença de uma contracção haplológica de sílabas semelhantes. No entanto, para o caso vertente, talvez o exemplo mais consentâneo e actual se situe em «consultoria» e «consultadoria», a merecer igual justificação e com opção pelo primeiro termo.
Icebergue
O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências regista «icebergue». O à-vontade (para não dizer leviandade) na fixação de termos de pronúncia descabida ou mesmo de grafia controversa poderia perfeitamente descambar em «aicebergue», evitando assim a incoerência da grafia e da fonética.
A Nova Enciclopédia Larousse do Círculo de Leitores e o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa afinam pelo mesmo diapasão e mencionam «icebergue», tal como o Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo. Outras publicações não arriscam a incongruência e submetem-se exclusivamente à grafia inglesa iceberg. Assim acontece no Grande Dicionário da Língua Portuguesa – Grande Biblioteca Multilingue, no Moderno Dicionário de Língua Portuguesa Michaelis (edição brasileira) e também na Gramática-Prontuário de Álvaro Garcia Fernandes.
Persistimos no termo «icebergue», em que a letra «i» inicial se pronuncia «ai». Assim nos manteremos, até que linguistas e estudiosos abalizados optem por escrever «aicebergue». E sem reservas o poderiam fazer, a exemplo de «naifa» (do ingl. knife), palavra abundantemente utilizada e cuja adopção ter-se-á iniciado por displicência em ambientes de marginalidade, transitando depois para o uso comum.
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«Língua Estufada», opinião de José Leitão Baptista
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