A tradição já não é o que era; mas mantém-se. Vai o tempo em que parava no «Quiosque da Sorte» do Luís no Largo da Misericórdia a observar as capas dos jornais e a tentar descodificar as «mentiras do Primeiro de Abril».

«Prà mentira ser segura
e atingir profundidade
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade»
(António Aleixo)
Hoje, nas minhas deambulações virtuais, sem me lembrar desta «data mentirosa», fui surpreendido pela partilha de Rui Santos: «CR7 compra Sporting». Não precisei de muitos segundos para perceber que a «mãozinha» da Dona Dolores trazia água no bico…
Têm graça e não vem mal ao mundo – as «mentiras do Primeiro de Abril»! Há males bem piores… Quem nos dera que fossem «mentiras» muitas das notícias que enchem as capas dos jornais, as rádios, as televisões…
Ainda a propósito das «mentiras do Primeiro de Abril», deixo um texto que «roubei» na página de Gonçalo Pereira Rosa (com a devida vénia):
«A tradição do Primeiro de Abril vai esmorecendo na imprensa portuguesa, mas houve uma altura em que os jornais investiam muito na patranha a apresentar aos leitores.
Selecciono estas duas que geraram alarme social antes de serem desmentidas. Em 1894, o «Diário de Notícias» anunciou aos seus leitores que dois leões tinham fugido do Jardim Zoológico, «depois de grande luta e rugidos medonhos». O Zoológico ficava, creio, no local onde hoje está a Fundação Gulbenkian, em Palhavã.
Os bichos arrombaram a jaula e fugiram em direcção ao Campo Pequeno, prosseguindo de seguida para o Lumiar, onde feriram duas lavadeiras de Odivelas em frente da Quinta das Conchas. Embora a notícia desse pistas (foi chamado o «alferes Pimenta com o fim de os fazer espirrar»), gerou pânico e chatices para o jornal.
Em 2003, o «Correio da Manhã» anunciou que Bin Laden estivera em Montechoro. O homem mais procurado do Mundo entrara no Liberto’s Bar, pedira um sumo de laranja (não havia Mecca Cola) e saíra. Meia hora depois, uma patrulha do SIS já não o vira lá. Era burlesco e inverosímil, mas enganou muitos.
O mais curioso é que, apesar de desmentida no dia seguinte, a informação ainda é citada de vez em quando, alegando que Bin Laden passou mesmo pelo Algarve. É o que dá fazer pesquisas no Google e não olhar para a data da notícia!» (Gonçalo Pereira Rosa)
À distância de um clique, estive a recordar mais algumas «mentiras» que ficaram famosas (não propriamente relacionadas com esta data). Como aquela da «núvem de pirilampos» na serra de Sintra… E a «invasão dos marcianos», numa quinta de Carcavelos. Uma história deliciosa, protagonizada por Matos Maia (Rádio Renascença; 25 de Junho de 1958), na senda de Orson Welles (30-10-1938) – dramatização de «A Guerra dos Mundos» (na rádio), o livro de Herbert George Wells.
As «brincadeiras» de Orson Welles e Matos Maia tiveram grande impacto e geraram algum pânico (muita gente dirigiu-se aos locais, sem se aperceber de que se tratava de ficção). O jovem locutor Matos Maia viu o programa interrompido e foi interrogado. Alguém alertou Salazar e este instruiu a PIDE para «dar um puxão de orelhas ao rapazinho»…
:: ::
«Estas coisas da alma», crónica de Manuel Sequeira
:: ::
Leave a Reply