Com a reconstrução da cidade de Lisboa após o grande terremoto nasce, em 1782, nas arcadas da Praça do Comércio o Martinho da Arcada. É, atualmente, o café mais antigo em atividade na capital.

O MARTINHO DA ARCADA
Com mais de 240 anos de idade
é dos estabelecimentos lendários
o mais antigo café em atividade
assistiu a acontecimentos vários
loja com história na cidade
teve clientes grandes dignitários
o café Martinho da Arcada
é uma casa justamente afamada
casa da neve foi o nome comercial
com que a nova casa foi fundada
em 1782, na abertura formal
Pereira Castro não poupou nada
ele funcionário na casa real
convidou a nobreza abastada
a inauguração do novo botequim
foi de arromba, um grande festim
Arrendado, vendido e revendido
o café conhece várias gerências
o nome é mudado ou mantido
a gosto dos donos e das vivências
até que em 1829 é adquirido
por um Martinho e descendências
é batizado café Martinho da Arcada
porque havia outro, noutra morada
foi o freguês mais famoso
teve a sua assiduidade premiada
Fernando Pessoa poeta prodigioso
tinha sempre mesa reservada
dizer que ele ali vivia, era jocoso
mas a frase não era exagerada
Pessoa foi ali com Almada beber
um café, três dias antes de morrer
mas a lista de clientes afamados
não esgota em Pessoa e Negreiros
letrados e políticos prestigiados
abancaram ali os seus traseiros
Bocage e Botto ali sentados
escreveram poemas, livros inteiros
quantas história viveu aquele local
situado no coração da capital
na Praça do Comércio o Martinho
defende e mantém viva a tradição
naquele local mítico e velhinho
celebra-se a história à refeição
mastiga-se poesia com um vinho
tertúlias numa cozinha de eleição
casa bastas vezes galardoada
eis a vida do Martinho da Arcada

Martinho da Arcada na Praça do Comércio em Lisboa
A história de mais de dois séculos do Martinho começou a escrever-se a sete de Janeiro de 1782 quando um funcionário da casa real inaugura a Casa da Neve. Tempos mais tarde um italiano adquire o café e torna-o na «casa do café italiano».
Em 1829 já adquirido pela família Rodrigues um neto muda-lhe o nome para Café Martinho e acrescenta «da Arcada» para evitar confusões com outro café Martinho que estava na sua posse.
A preservação das raízes históricas do espaço tem sido uma constante preocupação dos actuais proprietários, o que lhes tem merecido muitos reconhecimentos e prémios nacionais e internacionais.
É impossível falar do «Martinho da Arcada» sem falar em Fernando Pessoa. O poeta terá passado ali vários momentos da sua vida e antes de ser internado no hospital de São Luiz no Bairro Alto onde viria a falecer terá saboreado no Martinho um café com o igualmente genial Almada Negreiros.
Também o Nobel José Saramago era cliente assíduo e muitos outros escritores e poetas como Bocage, Cesário Verde, António Botto e políticos como Afonso Costa, Bernardino Machado e França Borges sentaram-se naquelas mesas para degustarem uma refeição ou simplesmente beberem o seu «cafézinho».
A loja foi englobada no projeto das lojas com história e é considerado imóvel com interesse público.
Em 1999 foi eleito «Café do Ano» pelo guia de cafés da Europa.
:: ::
«Quiosque da Sorte», poesia de Luís Fernando Lopes
:: ::
Leave a Reply