Mais por ignorância do que por negligência ou provocação, a língua portuguesa é maltratada sem que os erros se apontem ou sejam corrigidos. Exemplos constantes aparecem em frases curtas na parte superior ou na inferior do ecrã de diversos canais televisivos. Cingimo-nos por enquanto a erros na acentuação obrigatória das sílabas tónicas de alguns vocábulos…

Com alguma frequência surgem imperfeições ortográficas em mensagens, avisos e sinalizações em lugares públicos. Há uma incidência constante nos erros de acentuação. Vêm a propósito palavras como:
– Proíbido em vez de proibido;
– Líbido em vez de libido;
– Biópsia em vez de biopsia;
– Diospiro em vez de dióspiro
Além da consulta de dicionários e de sites vocacionados para o ensino e esclarecimento de dúvidas, a gramática portuguesa contém regras definidas quanto à acentuação, consoante se trate de palavras oxítonas (agudas), paroxítonas (graves) ou proparoxítonas (esdrúxulas).
Nas oxítonas convém ter presente que as palavras são acentuadas quando em geral terminam em -a(s), -e(s), -o(s), -em ou -ens.
Exemplos: pá, pás; pé, pés; trenó, trenós; armazém, armazéns.
Nas paroxítonas são acentuadas palavras terminadas em -i(s) ou -u(s); em sílabas nasaladas como -ã(s) ou -ão(s); em -um ou -uns; com as consoantes -l, -n, -r ou -x: em ditongo.
Exemplos: dândi, ónus; órfão, órfãos; fórum, fóruns; hábil, pólen, sóror, fénix; pónei.
Nas proparoxítonas todas são acentuadas.
Exemplos: sílaba, modéstia, ciência, sátira.
Retenho um episódio ocorrido em Oeiras, quando, na companhia de um poeta intransigente em questões de ortografia, nos encontrávamos em amena cavaqueira sentados num banco de jardim público.
Dois agentes da PSP-Polícia de Segurança Pública aproximaram-se e pararam em frente, indiferentes à nossa presença, mas podíamos verificar que os blusões que usavam tinham nas costas indicações diferentes. Num constava a palavra «POLÍCIA» e, no outro, «POLICÍA».
O meu companheiro, fazendo jus à sua intransigência ortográfica, comentou em alta voz, tomando-me como interlocutor, mas em jeito de provocação:
– É proparoxítona, não é?
Após um breve silêncio, a pergunta pairou no ar mais uma vez:
– É proparoxítona, não é?
Notámos que um dos agentes comentou para o outro:
– Parece-me que estes estão a pedi-las.
À terceira pergunta, o agente que se mantivera em silêncio olhou para nós e disse:
– O erro vai ser corrigido.
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«Língua Estufada», opinião de José Leitão Baptista
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