«A avó Neves» | Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

A AVÓ NEVES
Nove e picos, quase dez!
Mostra o relógio da aldeia
No alto do campanário
A toda a sua plateia
Que gira de lés a lés
No meio daquele cenário.
Uns vão até ao lameiro
Levar as vacas ao pasto
Outros saíram primeiro
E já mal se lhes vê o rasto
Aqui deste meu balcão
Meu púlpito altaneiro
Depois de regar o «tchão»,
Já sob um calor intenso,
Lá vem a avó de chegada
Saia longa até aos pés
Xale leve a pender
«Neve» a sair-lhe do lenço
Avental com a aba cheia
De beldroegas «pró» marrano
E hortaliça para a ceia.
Ao ombro traz a enxada
O balde da rega na mão
Dentro, galhos para o lume,
Coisas do quotidiano
Como é sempre seu costume.
Que cansada ela vem
Num passo lindo de baile
Tentando apanhar o xale
Que lhe escorrega das costas!
Quer saber se estamos bem
Mas diz logo que tem pressa
Tem o jantar por fazer
Roupa a corar na ribeira
Uma ladainha sem tino!
«Não tens nada que te impeça
De vir tomar o café
Daqui não arredas pé»
Diz-lhe a irmã com firmeza…
«Vá, já está a malga na mesa
É só mais um poquenino
E podes abalar a correr
Para onde é o teu destino
Mas primeiro tens de comer!»
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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