Em 2006, publiquei num dos meus blogues da altura uma história que entusiasmou muitos leitores. Fala-se aqui muito do Soito, mas na verdade, podíamos falar de toda a Raia. No Casteleiro, estas histórias divertiam-nos como se fossem sobre membros da nossa família…

Na altura, há 18 anos, escrevi o que segue:
«Agora mesmo ouvi num telejornal uma notícia de contrabando de tabaco apreendido hoje lá para as minhas bandas. Isso fez-me lembrar de imediato uma história do diabo que se contava na minha adolescência e que diz respeito ao alto contrabando feito por um senhor a quem chamavam simplesmente “O Toninho do Soito”.»
Contrabando a sério…
Parece que era contrabando a sério e em alta escala. Tanto que um dia – e por isso é que a história era contada quase como anedota, porque dava a dimensão da rede – um professor do Soito, ao atravessar a fronteira entre a Suíça e a França (julgo que era isso) foi mandado sair do carro com voz de autoridade de poucos amigos como se ele fosse um criminoso. Começou a ficar muito preocupado quando os guardas desataram a falar muito alto e a referir várias vezes a palavra (mal pronunciada) «SOITO» com ar de grandes exclamações.
Os guardas fronteiriços lá se entenderam para desgraça do professor que não tinha culpa nenhuma e estava a pagar as favas. Às tantas, percebeu tudo. Os guardas – conta-se, mas de tão abstrusa, confesso que nunca engoli muito bem esta parte da história mas lá que a contavam assim, isso contavam –, num segundo momento, passaram a falar descaradamente de «TÒNI» e de «SÒITE».
Aí fez-se luz. Era tudo por causa do «Toninho do Soito», que se gabava de atravessar exactamente aquela fronteira sempre com o carro carregado de relógios, e quando lhe perguntavam se nunca o apanhavam, ele respondia com a maior das latas: «Apanham-me muita vez. Mas dá bem para a despesa.»
O que é certo é que o professor, sem culpa nenhuma, estava a pagar as favas, só pelo facto de no passaporte ter o mesmo nome de terra natal. E desmontaram-lhe as longarinas do carro à procura de relógios de contrabando.
O Toninho
Claro que, quando chegou ao Soito e à região contou a história a todos, a começar pelo Toninho, o qual só se sorriu!! Nada mais! Para ele, era normal que aquilo tivesse acontecido: «Sabe? Julgavam que você estava a fazer o frete (igual a transporte) para mim…» E a história correu todos os cafés da região.
Um amigo chama-me a atenção para o que se conta que o guarda de fronteira dizia para o colega: «Portugal! Soito! Toninho!» Isso, antes de desmontarem o carro do homem que não tinha culpa nenhuma…
Contaram-me uma do «Toninho do Soito» que não conhecia e que tem piada. O Toninho, quando comprava lá fora calçado para trazer para Portugal, comprava logo dois camiões. Mas organizava a coisa de forma especial. Mandava abrir as caixas todas e mudar um pouco a arrumação habitual. Carregava num dos camiões apenas os sapatos do pé direito e no outro só os do pé esquerdo. Para quê? Para o caso de os Carabineros ou a Guarda Fiscal lhe aprenderem o material e o levarem a leilão… Aí ele aparecia no leilão e avisava os potenciais compradores de que tinha havido engano da fábrica e que o calçado era só do pé tal e não havia nada para o outro pé. Claro que ninguém lhe pegava. Acabava por comprar ele por baixíssimo custo. Mais uma do espertalhão do «Toninho»…
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Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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