Nesta longa caminhada terrena, tive o privilégio de conhecer e conviver com alguns Bispos da Diocese da Guarda, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Setúbal e Aveiro, dos quais guardo boas memórias. Aqui ficam breves relatos sobre D. Domingos da Silva Gonçalves, D. António Ribeiro, D. Manuel Martins, D. Augusto César, D. António dos Santos, D. António Francisco dos Santos e D. José Miguel Pereira…

Sei que a missão pastoral de um Bispo na sua Diocese é um trabalho muito difícil, de muitas responsabilidades em diversificadas áreas, principalmente na gestão da administração geral, de conflitos…

1 – Domingos da Silva Gonçalves – Bispo da Guarda – era um homem com origens em terras do Minho, (sacerdote secular de Braga), que em Novembro de 1957, chegou à freguesia da Nave, no concelho do Sabugal, de automóvel. Desta localidade percorreu num bom cavalo, caminhos íngremes, para chegar à Bismula. Ali a comunidade esperava-o, a fim de administrar o Sacramento do Crisma, a mais de trinta adolescentes, onde estava incluído o meu irmão Manuel Fernandes.
A imagem que recordo era de alguém muito simples, bondoso, compreensivo, características muito visíveis, que mais tarde observei, quando a pedido me recebeu na Escola Apostólica de Cristo Rei, em Gouveia.

2 – António Ribeiro – Patriarca de Lisboa – outra personagem episcopal. Bispo de Lisboa, fez a transição na grande comunidade católica portuguesa para a democracia pós-25 de Abril.
Entrava todas as semanas na nossa casa, através de um programa na RTP, com mensagens evangélicas e pastorais muito significativas.

3 – Manuel Martins – Bispo de Setúbal – entrou na Igreja de Santa Maria da Graça (Sé), no Verão Quente de 1975. Tempos muito polémicos em que se dizia «só nos faltava em Setúbal termos um bispo reaccionário do Norte». Mas, ao fim de vinte anos de serviço pastoral, na luta contra a fome, contra as desigualdades, denunciando abusos do poder e injustiças, acabou por se apelidado de «Bispo Vermelho». Hoje o seu nome está inscrito na toponímia de avenidas, ruas, praças, em estátuas e nas Escolas de muitas localidades da Diocese de Setúbal. D. Manuel Martins tornou-se uma referência nacional.
Tive muitos contactos com ele e sempre admirei a sua sensibilidade pelos que sofriam, pelos desfavorecidos, pelos reclusos e pelos desempregados. Visitou o meu saudoso Pai quando esteve acamado em casa.
Disponibilizou-se a colaborar, escrevendo os prefácios de dois livros «Pater Famílias», uma homenagem a meu saudoso Pai, José Maria Fernandes, da autoria de Ezequiel Alves Fernandes e «História do Escutismo em Setúbal e na Região» de Francisco Alves Monteiro, meus irmãos.
No primeiro escreveu: «Eu que vivi lado a lado com ele podia ter gozado mais das suas riquezas. Mas sabia-o como uma luz que brilhava lá por onde andava e especialmente na bela e sempre querida para nós os dois, a cidade de Setúbal… Com estas simples palavras, quero associar-me à acção de graças dos filhos do Zé Fernandes pelos pais que tiveram, mas quero também prestar a minha homenagem a tantos, tantos, pais exemplares, que conheci em Setúbal.»
Já no prefácio do livro «História do Escutismo», D. Manuel escreveu: «Estive em Setúbal onde tudo era maravilhosamente difícil, e sempre encontrei força, alegria, novidade, coragem, nos nossos Escuteiros que, logo a partir dos assistentes, sempre conheceram um caminho de progresso crescente, sendo a Região considerada uma das melhores do País. Parabéns e obrigado ao Chefe Francisco Monteiro por este serviço que presta à Juventude, ao Escutismo, à Sociedade e à Igreja.»
D. Manuel Martins, um Bispo que acompanhava assiduamente o Movimento Escutista da Região de Setúbal e que «considerava o Escutismo uma escola de formação e crescimento dos nossos jovens».

4 – Augusto César – Bispo da Diocese de Portalegre/Castelo Branco – com espírito vicentino, aberto, missionário em Moçambique e em Portugal, teve sempre a preocupação de estar nas proximidades das comunidades. Não posso esquecer os diversos contactos pessoais, a maioria com o saudoso missionário redentorista, Padre Ramiro, assistente religioso prisional, nortenho de origem, que contava anedotas de fazer rir as pedras. Aliás, há tempos o Papa Francisco convocou um encontro no Vaticano com mais de cem humoristas e comediantes de todo o mundo, «um deles disse-me que é bom tentar fazer rir Deus…»

5 – António dos Santos – Bispo da Guarda – com preocupações socio-caritativas, apelava para que todas as paróquias tivessem um Núcleo da Cáritas. Em Aldeia de Joanes/Aldeia Nova foi ouvida a sua voz e concretizou-se esse desejo.
Quando faço referências a estas figuras eclesiásticas, entendo que a gratidão é uma das grandes regras da vida de qualquer pessoa.

6 – António Francisco dos Santos – Bispo de Aveiro e mais tarde do Porto – faleceu muito prematuramente, infelizmente, mas ainda o conheci em diversas actividades da Cáritas Portuguesa, e admirava a sua simplicidade e proximidade. A sua morte deixou um vazio no coração de muitos portugueses.
A propósito da missão pastoral na sua diocese, D. Domingos da Silva Gonçalves afirmava que «é muito importante ser um líder».
Todos estes Bispos não devem ficar fechados nem esquecidos mas trazidos à luz pela lembrança.
Estamos a viver o Ano Jubileu, em que o grande tema é «Peregrinos da Esperança», pelo que desejo, na nova caminhada do novo Bispo da Guarda, D. José Miguel Barata Pereira, que vai tomar posse no dia 16 de Março, que se assuma como um verdadeiro líder, na administração diocesana, no diálogo, na amizade, em mudanças, nas interajudas, na tolerância e no acolhimento, ouvindo sempre o contraditório.
Na «Autobiografia do Papa Francisco», de sábias considerações, podemos ler: «Sonho com uma Igreja cada vez mais mãe e pastora… os bispos, em particular, devem ser os homens capazes de apoiar com paciência os passos de Deus no seu povo, de modo a que ninguém fique para trás, mas também de acompanhar o seu povo, o rebanho, que tem o faro para encontrar novos trilhos.»
Espera-se, pois, que o novo timoneiro da Diocese da Guarda, D. José Miguel Pereira, com raízes familiares no Fundão, consiga para o bem do presbiterado, do diaconado, dos colaboradores, das comunidades em geral, das suas gentes, enfim, do seu povo diocesano, desbravar e abrir novos caminhos de Esperança. Que seja a simbologia bíblica da «Flor da Amendoeira», a Esperança. Que a semente da «Palavra» caia em bom terreno, que nasçam novos sinais de «Esperança».
O Salmo diz-nos: «Feliz o homem que pôs a Esperança no Senhor.»
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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Dá prazer ler estas crónicas do meu padrinho. É um bom observador e muito bom pensador. Abraço