À semelhança de anos anteriores, realizou-se em 2 de março, no salão da antiga escola primária da aldeia de Quarta Feira, a tradicional leitura da «Fama». Foi mais um salutar momento de convívio do povo desta aldeia, que assim deu continuidade a esta tradição antiga e sem igual no concelho de Sabugal. Os poemas são da autoria de João Paulo Reis.

FAMA 2025… por João Paulo Reis
I
Boa noite ao Entrudo,
Um Entrudo de tradição
Que saúda o povo
E bebe pelo garrafão.
II
Boa noite à Entruda,
Que está sempre presente
É insultada todos os anos
Mas vem sempre contente.
III
Boa noite a todos os senhores,
A todos quantos estão
Comeram carne à farta
E beberam o vinho todo do garrafão.
IV
Boa noite às senhoras,
Que bonitas e belas!
E para ficarem branquinhas
Lavaram-se com o esfregão das panelas.
V
Boa noite aos que faltam,
E aqui vai uma saudação
A todos os entrudos desta terra
Que viveram esta tradição.
VI
A Fama do Entrudo já é velha
Nestas terras de Quarta Feira
Por isso vamos manter a tradição
Com uma quadra certeira.
VII
Somos poucos mas somos bons,
Mas já nada é como outrora
E quando não conseguimos sozinhos
Pedimos ajuda aos de fora.
VIII
Mas vamos lá adiante
E deixemo-nos de cortesias
Montemos nos burros do Jorge
Que já lhe conhecemos as manhas.
IX
Mas que manias são essas?
Ficamos sem saber afinal
São as manias do dono
ou são as manias do animal.
X
Se são as do animal
Isso é fácil de resolver
Se são as do dono
Dão mais que fazer.
XI
Estou a esquecer alguma coisa!
Que isto não era assim
Nomeiam-se os mordomos
E todos se riam de mim.
XII
Mas agora o entrudo é diferente
E vejam se é ou não
Antigamente vinha de burro
Agora vem de avião.
XIII
Eu já conto como foi
Se me derem atenção,
Mas agora vou nomear os mordomos
Que é assim a tradição.
XIV
Este ano não vai ser fácil
E haverá muitos descontentes
Bom mesmo era haver
Dez milhões de Presidentes.
XV
Já viram o que seria
Toda a gente a governar
Era um paraíso na terra
Só que não haveria em quem mandar.
XVI
Como isso não é possível
Vai pelo menos haver um sortudo
Nomeio o Capitão «Cuecas»
Para Presidente do Entrudo.
XVII
Vocês não sabem quem ele é,
Porque ninguém o conhece
Mas vai ter vida regalada
Que é o que sempre acontece.
XVIII
Este ano é difícil encontrar mordomos
Mas já era de esperar
Com eleições na Presidência e nas autarquias
Estão os tachos a bombar.
XIX
E o tacho do Entrudo é pequeno
E não cabem lá milhões
É só uma vez por ano
E não enche a barriga a papões.
XX
Não enche a barriga a papões
É uma forma de falar
Se vierem ao Entrudo da Quarta Feira
Comem e bebem até rebentar.
XXI
Se mesmo assim não os conversarmos
A fazer parte da mordomia
Não votamos nas eleições
E já lhe tiramos a mania.
XXII
Portanto vai ser assim
E nomeio já um otário
Quer vir a ser Presidente
Mas nunca passará de Secretário.
XXIII
Tu não deves conhecer-me bem
E com essa atitude me ofendes
Hei-de ser Presidente sim senhor
Ou não me chames Marques Mendes.
XXIV
Se não gostar do cargo
Não tem nada a perder
Agarra-se a um tacho da Europa
Que tem lá muito que lamber.
XXV
Agora é que vai ser difícil
Encontrar um para Tesoureiro
Honestos já não existem
Vem a massa em primeiro.
XXVI
Eu acho que vou arriscar
E vou fazer isto com ternura
E gostem ou não gostem
Nomeio o deputado Ventura.
XXVII
Não nomeeis esse ladrãozeco
Vais ver que vai dar para o torto
O pior é que nós já o conhecemos
Que nos roubou a mala no aeroporto.
XXVIII
Disso falaremos mais tarde
Mas vocês vejam bem
O dinheiro do Entrudo está a salvo
Porque roupas e maquilhagem é que lhes convém.
XXIX
Este ano foi difícil
De arranjar uma mordomia coesa
Mas tudo se resolve
Porque isto é tudo malta tesa.
XXX
Já só falta mais um arranque
E vai mesmo de empurrão
Para nomear o Entrudo e o suplente
Tenho de beber do garrafão.
XXXI
Agora regalados e contentes
E como o prometido é devido
Nomeio o Vítor Proença para Entrudo
Senão ficava todo «lixado».
XXXII
Assim é a tradição,
E assim no ano passado lhe foi prometido
Se cá voltasse este ano
Seria de certeza promovido.
XXXIII
Agora já só falta o suplente
E estou mesmo ali a vê-lo
Nomeio o Jorge da Azenha
Para não ficar com dor de cotovelo.
XXXIV
Eu sei que podia dizer Jorge dos burros
Mas disse Jorge da Azenha
Para lhe dar graxa
E pode ser que para o ano cá venha.
XXXV
É que enquanto cá vier
A comer e a beber
Posso lhe roubar um burro
E não me manda prender.
XXXVI
A mordomia já está
Como manda a tradição
Agora conto a história do Entrudo
Deste grande aldrabão.
XXXVII
Se fosse tudo como ele conta
Seria uma triste sina
Nasceu numa noite fria
E foi abandonado numa esquina.
XXXVIII
Sem conhecer pai nem mãe
E ali abandonado no mundo
Berrou quanto podia
Mas berrou bem do fundo.
XXXIX
Levou-me para a Quarta Feira
Que é a terra do Entrudo
Mas levaram-se para o Brasil
Que lá tinha direito a tudo.
XL
Tive lá direito a tudo
Mas aí também não há mal
Abri uma Escola de Samba
E inventei o Carnaval.
XLI
Por lá fiquei uns anos
Mas a saudade apertava
Tinha de vir embora dai
Que outra terra me chamava.
XLII
Não sabia como fazer a viagem
Mas uma coisa era certinha
Vinha para Portugal
E trazia uma negrinha.
XLIII
Fomos pedir informações
Um pouco por todo o lado
Mas o melhor conselho
Era que fossemos ao Consulado.
XLIV
Mas lá fomos rapidamente
Todos contentes e com alegria
Mas a fila era tão grande
Que nem a ponte se via.
XLV
Tanta gente junta!
Só pode ser Carnaval
Mas a verdade verdadinha
É que iam todos para Portugal.
XLVI
Mal me lembro de cá sair
Este país do caraças
Os portugueses vão-se embora
E vêm para cá todas as raças.
XLVII
Não tenho nada contra isso
Nem nunca poderei ter
Também trouxe uma brazuca
E olhem no que me fui meter.
XLVIII
Lavar roupa não sabe
Lavar loiça também não
Cozinhar não é com ela
E passa a roupa debaixo do colchão.
IL
Mas voltemos à viagem,
Não falemos mais de amores
Queríamos ir para Lisboa
O avião levou-nos para os Açores.
L
Os Açores são muito bonitos
E tudo corria de feição
O pior foi quando chegámos
Não tinhamos mala nem malão.
LI
Que raio tinha acontecido
À nossa humilde bagagem
É que nem tínhamos nada de valor
Apenas roupas de viagem.
LII
Parece que não é nada de mal
Mas vejam bem a situação
A Entruda anda há trinta dias sem cuecas
E eu perdi o roupão.
LIII
É mais roupão menos roupão
Mas não é assim afinal
Como é que posso andar
Sem o roupão do Rei do Carnaval.
LIV
E tudo isto aconteceu
Por uma simples razão
Os políticos são mal pagos
Que mal ganham para o pão.
LV
Mas sabem coisas valiosas
Não sujam a casa por tostões
Muito menos por roupas velhas
Que isso só dá confusões.
LVI
Só que o vício é tanto
E tudo é permitido
E homem é muito fraco
Diante de fruto proibido.
LVII
Mas a viagem tinha de continuar
E tínhamos de arranjar solução
Pedíamos roupas emprestadas
E resolvemos a situação.
LVIII
Deram-nos dois contentores
Com roupas usadas
E como não éramos fidalgos
Vestimos logo umas bem passadas.
LIX
Agora vocês não percebem
Como é que em dois contentores de roupa
A Entruda não arranjou cuecas
Ou porque é maluca ou anda na poupa.
LX
Mas eu já tiro isso a limpo
Digo-vos que não tem mal
É que só lá havia cuecas de gola alta
E ela gosta de fio dental.
LXI
Mas seja como for
A viagem continuou
Vínhamos de barco
Mas tudo se alterou
LXII
Não tínhamos dinheiro
E documentos também não
Fizeram-nos parar
E levaram-nos para a prisão.
LXIII
Mas quando desembarcamos
Os guardas olharam-nos de surpresa
Então nós prendemos o Entrudo
E não haverá carnaval em Veneza.
LXIV
Bem nos rogaram para lá ir
Ao mais antigo carnaval
Mas não era essa a intenção
E viemos para Portugal.
LXV
Como é que vieram?
Perguntam vocês nesta sala
Viemos de boleia todo o caminho
Para não nos roubarem a mala.
LXVI
De Madrid para Paris
De Paris para Nova Iorque
E daí para Lisboa
Aí é que tivemos sorte.
LXVII
O Marcelo a recebernos
O Montenegro a fazer-nos o convite
Para jantarmos nas casas dele
Aquilo é que trazíamos um apetite!
LXVIII
Depois de comer e beber bem
Ainda nos fez esta aposta
Viajai por todo o Portugal
Que assim eu ganho a aposta.
LXIX
Que raio de aposta seria essa?
Que me deixou intrigado
Pôr o Entrudo a viajar pelo país
É o que ele teria apostado.
LXX
Mas o gajo é bicho fino
E tinha tudo planeado de antemão
Soube que o Entrudo tem a mania
De levar os burros da oposição.
LXXI
Se isso acontecesse
Era uma maravilha sem igual
Era uma limpeza a seco
Da oposição em Portugal.
LXXII
Trinta e oito mil da oposição
Mais trinta e oito mil e um no Poder
Era preciso uma quinta enorme
Para tudo lá caber.
LXXIII
Olho nas malas, mas o Entrudo não quer nada disso
Que assim não é tradição
Só rouba um burrito aqui ou ali
E bebe uma pinga do garrafão.
LXXIV
Ele viu que eu fiquei contrariado
E falei-lhe desta maneira
Aguenta com eles como puderes
Mas a nós, se faz favor, leva-nos para a Quarta Feira.
LXXV
Ele consentiu e anunciou
E até nos arranjou boleia
Se é para os lá da Guarda
Ireis entregues à Dulcineia.
LXXVI
Mulher de tomates essa Dulcineia
Mas também mulher de ternura
Não sei se é do frio da Guarda
Que ela até descansa o Ventura.
LXXVII
Mas isso são outras guerras
Guerras de tachos superiores
E já não são para qualquer um
É só para grandes senhores.
LXXVIII
A senhora deputada deu-nos boleia
E foi mesmo um regalo
Só não ficou contente
Por fazermos concorrência à morte do galo.
LXXIX
Na Guarda já nós estávamos
E não estávamos nada mal
Agora é só pedir boleia
Além dos quatro mil que vêm para a Câmara Municipal.
LXXX
Ó gente mal agradecida
e com telha
Tivemos que vir no camião do alcatrão
Que vinha para Sortelha.
LXXXI
Demorou muitos anos para vir
Mas agora é mesmo de verdade
Só que nós ficámos todos farruscos
Foi mesmo uma maldade!
LXXXII
O Entrudo até aguentou bem
Porque não é de queixinhas
O pior foi a Entruda
Até enfarruscou as cuequinhas.
LXXXIII
Há trinta dias que não as usa
Já deve ter mesmo esquecido
Coitadinha da Entruda
O que deve ter sofrido.
LXXXIV
Lá chegámos a Sortelha
Aos saltos e solavancos
A camioneta não tinha teto
E faltavam-lhe bancos.
LXXXV
Os bancos eram só à frente
Disse-me logo a Entruda baixinho
Nós vamos no depósito do alcatrão
E temos de falar mansinho.
LXXXVI
Nós somos clandestinos
Porque eu sou brasileira
Se nos descobrirem aqui
Nunca mais chegamos à Quarta Feira.
LXXXVII
Isso é que não pode ser
Disse eu com altivez
Fomos lá estes anos todos
E este ano vamos lá outra vez.
LXXXVIII
Lá vínhamos muito caladinhos
Mas vejam bem o azar
Na Rotunda do ti Zé Ricardo
A polícia a mandar parar.
LXXXIX
Revistaram o camião
E nada nem ninguém encontrou
E quando iam dar os documentos ao chaufer
Logo a brasileira se peidou.
XC
Ela refilona e em alta voz
Disse: O que queres tu?
Eu não tive culpa nenhuma
Foi o alcatrão que me entrou p’ro cú.
XCI
Nunca se perde tudo
Mesmo andando pelos maus caminhos
O alcatrão é de fraca qualidade
Que não tapa os buraquinhos.
XCII
Já estávamos quase presos
Assim ninguém nos reconhecia
Mas quando souberam que eu era o Entrudo
Trataram-nos com cortesia.
XCIII
Ali sujos e famintos
Até me deu uma tontura
Disse o Cabo p’ro Sargento
Entregue-os ao Vereador Amadeu que fazem parte da cultura.
XCIV
Ele teve muita pena dos Entrudos
Mas vejam o que mandou fazer:
Metam-nos quinze dias de molho na barragem
Que depois já os posso receber.
XCV
Saímos de lá bem lavadinhos
Fresquinhos e preparados para a reunião
Mas quando nos lá viu
Ainda nos deu um sermão.
XCVI
Vocês não têm vergonha
De aparecer assim no Sabugal
É todos os anos a mesma merda
E de certeza que já roubaram algum animal.
XCVII
Ele já sabe como é
Já começa a conhecer a tradição
Que roubamos todos os anos dois burros
E fartamo-nos de beber pelo garrafão.
XCVIII
Ele até nos devia agradecer
Mas isso também não é preciso
É que burros tem ele cá tantos
Para lhe darem cabo do juízo.
XCIX
Mas não se preocupe Senhor Vereador
Que isto vai acontecer outra vez
E este ano em vez de roubamos dois
Até podemos roubar três.
C
Três. Sim, Senhor
Que a família dos Entrudos pode aumentar
Não pode vir um Entrudo
E não ter um burro para montar.
CI
Já está além preocupado
Com o que vai ser dos animais
Mas pode ficar descansadinho
que na Quarta Feira são bem tratados muitos mais.
CII
Mas ele sabe que o Entrudo é matreiro
Matreiro e espertalhão
E só rouba burros a ele
P’ra lhe fazer comichão.
CIII
Mas este ano vai ser diferente
Até porque é ano de eleições
E o Entrudo não precisa de três burros
Que já comprou três aviões.
CIV
Ah pois, é assim!
E ninguém diga que não
Cada voto posto na urna
Vale muito bem um avião.
CV
Mas onde é que nós vínhamos?
Que me perdi com a cultura
Vamos a ver do povo da Quarta Feira
Senão nem o diabo o atura.
CVI
Saímos dali envergonhados
Mas depressa recuperamos
Ficamos pela cidade
Por lá jantamos.
CVII
Com a fome que tínhamos
Era difícil aguentar
Comemos os pratos todos do Templo
E não tínhamos dinheiro p’ra pagar.
CVIII
Ponha na conta da Câmara
Disse um cavalheiro distinto
Eu também já comi carne do Entrudo
E já lá bebi um tinto.
CIX
Satisfeitos e regalados
Tínhamos de arranjar onde dormir
Ainda pensámos em Sortelha
Mas isso ainda dá que rir.
CX
A tentação é muito grande
E é difícil de controlar
Dormimos com os tais burros
E de manhã toca a andar.
CXI
Qual avião qual quê?
Este transporte é que anda
Coxeiam-se todos os anos
E todos os anos têm de coxear.
CXII
«Meta ferraduras novas aos burros» [disse o dono]
Disse o advogado com determinação
«Se os burros coxeiam
Tem direito a uma grande indemnização».
CXIII
Uma grande indemnização!!!
Pusemo-nos logo a fazer contas de cabeça
Eu dou-lhe cinco ou seis milhões
E que nunca mais cá apareça.
CXIV
Isso queria mesmo ele
Mas não vai ter essa regalia
Mantém os animais impecáveis
Senão o meu advogado tira-lhe a mania.
CXV
Quer dizer, roubam-me os três
Ainda tenho de pagar
Que raio de país é este
Que nem posso imaginar.
CXVI
Já chega destas tretas
E vamos mesmo mudar de rima
Fomos direitos ao Dirão da Rua
E viemos pelas Águas Belas acima.
CXVII
O caminho não era por aí
Mas ando-lhe com uma vontadinha
Com o desenho que fizeram à igreja
Até a Entruda foi doidinha.
CXVIII
Ou eu não percebo nada
Ou os engenheiros são uns arrochos
Como é que se entra naquele entroncamento
Com três aviões e três burros coxos?
CXIX
Até de carro é difícil
Ou sou eu mau condutor!
E com esta comitiva toda
Então é que é mesmo um horror!
CXX
Já estou a imaginar
E vou-me rir à farta
Quando passarem as caravanas da política
Quantas vão ficar sem carta?
CXXI
Por via das dúvidas
E para que não haja asneira
Vêm pelo lado da Bendada
Senão não conseguem vir à Quarta Feira.
CXXII
Mas agora que estamos a chegar
Temos de nos portar como deve ser
Estão cá os ilustres todos
E tudo pode acontecer.
CXXIII
Já se cá fizeram grandes convívios
E já se cá arranjaram alguns tachos
Mas agora está a dar outra coisa
Cultivam-se amendoas, medronhos e pistache.
CXXIV
A Entruda ao ver a Quarta Feira
Ficou arrebatada do coração
Esta terra é mesmo assim
Mas agora tenho de beber do garrafão.
CXXV
A sede é muita
E já começa a faltar a coragem
Mas isto acontece todos os anos
Quando é o fim da viagem.
CXXVI
Preparem-se agora bem
Que isto passa a ser diferente
Tenho-me portado bem
Agora vou dizer mal de toda a gente.
CXXVII
Então começamos por cima
E vimos por aí abaixo
Começamos pelo Presidente
Que vai deixar o tacho.
CXXVIII
Acabaram-se as selfies
Mas ainda ficam com as mordomias
E se quiser protagonismo
Vá cultivar melancias.
CXXIX
Se as melancias não resultarem
Nem tiver ganha pão
E o facto de ninguém lhe ligar
Fica com um grande melão.
CXXX
Agora sem demora vamos a outro
E vamos com toda a afeição
O dinheiro é todo da família
A ele dá-lhe um feijão.
CXXXI
Os da oposição também merecem
E merecem mais do que ninguém
Andam todos a rapar os fundos
Não enganam ninguém.
CXXXII
Agora vamos aos da terra
E vamos mesmo com atitude
Deixem-se de tretazinhas
E tratem-nos da saúde.
CXXXIII
As coisas são o que são
E ninguém as pode mudar
O Presidente Proença mande para cá dinheiro ao Entrudo
Se quiser cá voltar.
CXXXIV
Queria fazer uma oposição
Mas é difícil de a mimar
Hoje é um um, amanhã é outro
E não sei como vai ficar.
CXXXV
Para o Presidente da freguesia
Vai mesmo esta atinada
Faça pela vida com força
Que fica velho não tarda nada.
CXXXVI
Isto é mesmo assim
E devia ser de outra maneira
Quando mal se descuidar
Também o encostam na prateleira.
CXXXVII
Para as mulheres casadas
Vai assim devagarinho
Isto já não o quero
Mas portem-se bem e juizinho.
CXXXVIII
As velhas continuam assim
A falar da vida alheia
Têm de passar o tempo de alguma maneira
E ninguém se chateia.
CXXXIX
Agora chegou a vez
De acabar com as brincadeiras
Ouçam bem com atenção
Ou vamos falar das solteiras
CXL
Há cá uma menina
Que é uma menina fina como tudo
Não anda online
Nem se pinta no Entrudo.
CXLI
Parece uma santinha
Mas vejam bem o que fez
Não lhe chega um ou dois
Namora com quatro de cada vez.
CXLII
É para se manter atualizada
E nunca estar sozinha
Mas mesmo muito pior
É a sonsa da vizinha.
CXLIII
Mas por vezes anda a pé
Para se fazer atleta
E não tarda mesmo nada
Está a andar de bicicleta.
CXLIV
Há cá outra menina
Que anda de sapatos altos
Espeto-te uns comprimidos ao burro
Que até dá pinotes e saltos.
CXLV
Ainda cá há outra
Que não posso dizer mal
Porque se fizer a sério
Vai ser um Carnaval.
CXLVI
Ainda cá há outra menina
Que se a coisa não correr mal
Com a envergadura que tem
ainda vai ser Miss Portugal.
CXLVII
A Quarta Feira é mesmo assim
Tem um pouco de tudo
Gente nobre e importante
Para fazer o Entrudo.
CXLVIII
Já me esquecia desta
E de dizer como anda
Anda maluquinha de todo
Dança na pelota da varanda.
CXLIX
A dança é muito difícil
Difícil e complicada
Mas se não se põe a pau
Ainda a queima a geada.
CL
Acho que já estão todas
De uma não quero falar
Anda sempre em sobressalto
Quando ouve a cadela ladrar.
CLI
Mas que se deixe de desculpas
Faça como a vizinha
Já arranjou um engate
Para não ficar sozinha.
CLII
Já chega deste assunto
Vamos ao que interessa
O senhor era bom rapaz
Mas logo quebrou a promessa.
CLIII
Prometeu-lhe o sol e a lua
E outras coisas mais
Mas trocou-a por uma galdéria
e não voltou dos Trigais.
CLIV
Triste e muito aflita
E sem saber o que fazer
Dedicou-se a podar urtigas
Para chá sempre fazer.
CLV
O chá de urtigas é muito bom
Para doenças do coração
E se não se curar assim
Faça uma viagem de avião.
CLVI
O Messias aqueceu o forno demais
Mas também já é tradição
Que se queimem os bolos
E se esturrique o pão.
CLVII
Não deu ouvidos ao compadre
Que lhe gritou muito aflito
Já deixaste queimar tudo
Queima também o pito.
CLVIII
Ó Adelino tem lá calma
Disse a Glória à primeira
O Máximino ranhou bem o forno
E o pito está à maneira.
CLIX
Estão s´com brincadeiras
E a mim só me apetece chorar
Ando com umas ideias na cabeça
Que tenho de me confessar.
CLX
Eu ainda não faço esse serviço
Disse o Gonçalves de repente
Mas se tens tanta urgência
Levo-te ao Bispo do banco da frente.
CLXI
As Joaquinas aprovaram
Vai lá que ele pode
Resolvia-se bem o problema
Só a Guiomar é que torceu o bigode.
CLXII
Mas eu não quero assim
Tenho vergonha de lá ir
A Luísa dá-te uma pica
E vais lá a dormir.
CLXIII
Eu dormir com o Bispo!
Ai, Deus e guarde
É só para ser confessada a dormir
Não é para fazer alarde.
CLXIV
Agora ficamos assim
Vamo manter-nos atentos
Guardar o Trump e o Putin
Que podem dar-nos tormentos.
CLXV
São estúpidos e arrogantes
E muito matreiros
Para burros do entrudo é que era
Para burros eram os primeiros.
CLXVI
Não se esqueçam de voltar
E votar com atenção
E castiguem os cacheiros
E não lhes deem a mão.
CLXVII
Este povo é assim mesmo
Com matrafonas e tudo
Nunca deixará morrer
A Fama do Entrudo.
CLXVIII
O vinho Zé era uma pomada
e Maximino um graminês
O Adelino fez pouco
E o André nem o vês.
CLXIX
Todos os Entrudos que andaram pelo mundo
Tenham sempre esta em primeira
Sejam os melhores
Porque somos da Quarta Feira.
CLXX
Continuem a fazer bem
E continuem na brincadeira
Adeus até para o ano
viva a Quarta Feira.
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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