Aquando da apresentação do livro de Joaquim Tenreira Martins – «Memórias e Afectos» – no passado dia 13 de Fevereiro, na Casa do Concelho de Sabugal, em Lisboa, sua irmã quis fazer-lhe uma surpresa e pediu ao moderador para dizer as palavras que a seguir se publicam e que… verdadeiramente muito o emocionou.

A homenagem de uma irmã
Gostaria também eu de falar agora sobre o nosso escritor Joaquim José Tenreira Martins.
Como irmã mais velha que sou, lembro-me do seu nascimento. Todos sabiam que a Ti Cândida, a mulher do Ti Zé Sacristão, estava grávida e como já tinha 4 raparigas, a expectativa de ter um rapaz era grande. E aconteceu mesmo.
Lembro-me da alegria generalizada na aldeia. Ora uns, ora outros, todos iam dar os parabéns ao meu pai que se encontrava sempre no seu lugar de trabalho, a alfaiataria. E o meu pai e nós todos comungávamos dessa alegria, desse ambiente festivo.
A minha avó Isabel, a mãe da minha mãe que assistiu ao parto, dizia-nos que era um rapaz forte, bonito e certamente prometedor de um grande futuro.
Os meus pais tinham uma situação económica diferenciada relativamente ao que existia nessa aldeia. Os pobres eram muitos e as casas eram pequenas. A nossa considerava-se grande. No comércio de tecidos, chapéus, botões…, situava-se a alfaiataria onde o meu pai trabalhava. Da parte de trás, encontrava-se a loja do cavalo. No primeiro andar havia duas salas, três quartos e cozinha.
A minha mãe, com cinco filhos, tinha de recorrer a criadas que a ajudavam no cuidado das lides de casa.
O nosso escritor desenvolveu-se rapidamente e depressa chegou a altura de sair da aldeia para ir estudar no Seminário do Fundão. Era o destino dos rapazes com raízes solidamente cristãs e em que a família mostrava desejo de ter um filho sacerdote.
As condições familiares eram privilegiadas. Os meus pais, sobretudo a minha mãe, gostaria de ter um filho padre e tudo indicava que assim seria.
A cultura que se adquiria no seminário era mais vasta e profunda do que no liceu. Tinham disciplinas como o latim e o grego, que são as origens da nossa língua portuguesa que os outros não tinham.
Cedo percebeu que pelas crises que os seminários enfrentavam, teria de seguir outro rumo e procurar realizar-se noutros lugares.
O nosso escritor não se perdeu. Pelo contrário. As bases adquiridas naquela instituição serviram-lhe para continuar os estudos na Bélgica onde fixou residência e ali frequentou a Universidade de Lovaina onde se licenciou em várias disciplinas, sempre com distinção.
Esta riqueza adquirida, levou-o a transcrevê-la nos seus escritos.
Nos livros «Viagens na minha Infância», «Rostos da Emigração, Meu País é a Diáspora» e outros revelam uma escrita rica, abordando aspectos psicológicos, sociológicos, históricos, sempre em narrativas alegres, ternas, emotivas, muitas vezes romanceadas. Escreve numa prosa poética e aventurou-se também na poesia, publicando um livro de Sonetos. É realmente um escritor completo que a todos encanta e nos deixa surpreendidos e fascinantes.
Os seus artigos semanais ou hebdomadários revelam-nos um trabalho fecundo a que se dedica diariamente, sempre com sede de se cultivar e de procurar investigar sem descanso.
Desejamos que o nosso escritor continue a brindar-nos com outros livros e que a sua inspiração nunca se esgote.
Deve sublinhar-se que, profissionalmente, foi nomeado, em 1975, para exercer na Bélgica o cargo de Delegado da Secretaria de Estado da Emigração. As Delegações foram instituídas logo após o 25 de Abril para se ocuparem dos problemas sociais e jurídicos dos nossos emigrantes, junto dos Consulados e Embaixadas, já que estes tinham adquirido uma má imagem junto das nossas Comunidades.
Por último, queria pedir-lhe que já que nos contou o seu trabalho no Serviço Social e Jurídico da Embaixada de Portugal em Bruxelas, no seu livro Rostos da Emigração, gostaria que pensasse em brindar-nos também em livro o seu trabalho com as animações que promovia aquando das festividades do Dia de Portugal, com as numerosas associações existentes na Bélgica.
Estou convencida de que continuará a escrever no mesmo ideal como até agora, sempre valorizando a escrita e realçando aspectos que nos encantarão.
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Maria Olívia Tenreira Martins Anjos Lopes
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