Os adivinhos preveniam: «A tempestade virá do norte!»

O sol apresentava-se em sorrisos curtos que não aclaravam a minha incerteza.
A presença da Serra era austera. Os montes, erguidos e tensos, perfuravam o cinzentão dos céus.
Empolgava-se a vegetação ondulando-se, perturbada.
Mantinham-se as rochas, estáticas, em preparação para a contenda.
As aves, assustadas, voavam voos altos. Inábeis para o confronto, calculavam convictos refúgios.
A cidade padecia a iminência do temporal e guardava, em casa, os seus habitantes que, à cautela, fechavam portas e janelas.
O vento não tardou. Percorreu todas as ruas e bateu a todas as portas. Fez do seu sopro um uivo medonho veiculando, dessa forma, a tormenta.
Pouco depois chegou a chuva. Veio em pingas remansas e encorpadas. Logo a seguir fez-se copiosa. Desceu aos telhados. Inundou as ruas. Forçou zonas proibidas. Entrou onde foi capaz, antes de se organizar em espessas torrentes.
E a tempestade insistiu. Passou da tarde à noite, da noite ao dia seguinte e, depois, ao outro dia.
Por fim regressou um sol apaziguador. Expôs-se em raios de ouro e, intransigente, sentenciou:
– Termina aqui o conflito. Venho investido de luz para decretar a bonança. Fiquem, pois, as partes sabendo que à discussão se segue o entendimento e que a harmonia determina o seguir da vida.
A tempestade susteve-se, respeitosamente. Mas não sem dizer para consigo:
– Um dia estarei de volta! Apesar da violência do meu abraço a Serra não pode passar sem ele.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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