O povo diz que «janeiro é mês dos santos do garruço» porque algumas aldeias do concelho do Sabugal homenageiam, no início de cada ano, com festas religiosas os seus padroeiros sempre com muito frio e, por vezes, debaixo de grandes intempéries. No mês dos dias das gotas de chuva com sabor a neve e do cortante e gelado vento com cores de geada as chaminés fumegantes sinalizam as casas com vida. Mais uma vez os de Ruivós voltaram a festejar com muita religiosidade no dia 25 a conversão do apóstolo São Paulo na estrada de Damasco. Ao som da Banda Filarmónica de Pínzio e de foguetes… sem canas.

A tradição da Festa de São Paulo no dia 25 de Janeiro em Ruivós perde-se no infinito dos tempos. Os meus pais e os da sua geração tudo faziam para estar presente todos os anos quer vivessem em Lisboa ou em França. Era um chamamento sentido por aqueles que nasceram na aldeia mas nunca conseguiram ser crianças em consequência das durezas da vida difícil e honrada do campo e de onde muito jovens partiram com o sonho de uma vida recompensada deixando para trás a saudade de pais e avós.
Nesse tempo eram nomeados todos os anos três casais de mordomos: um por Ruivós, um por Lisboa e outro pela França. Agora, a cada ano que passa, fica mais difícil «arranjar» mordomos e o futuro não é muito risonho.
Banda Filarmónica de Pínzio dignificou as cerimónias
Neste ano de 2025 os mordomos foram a família Lourenço Leitão e Zélia Domingues, os seus filhos José e Célia e o filho desta, o Lucas com pouco mais de um mês.
Na sexta-feira à noite debaixo de chuva pouco intensa mas impediadosamente fria foi realizada a tradicional procissão que vai buscar o andor de São Paulo à sua capela no cemitério local lá para os lados da Tapada das Cruzes onde ainda existem vestígios de uma das mais antigas povoações do concelho do Sabugal datada do tempo dos romanos.
Dia de São Paulo – 25 de janeiro
No sábado, 25 de janeiro, o dia acordou sem chuva iluminado por um sol gelado e envergonhado. Pela manhã a Banda de Pínzio foi recebida pelos mordomos à entrada da aldeia. Depois seguiram todos em formatura e passo cadenciado estrada abaixo para acordar os mais dorminhocos ao som de alegres melodias.
Igreja cheia para a missa solene
Com a igreja cheia a missa contou com o acompanhamento musical da Banda e de um coro que cantou afinadinho. O padre Daniel Cordeiro recordou um pouco da vida de Saulo e da sua conversão na estrada de Damasco quando perseguia os cristãos.
No final da missa formou-se a procissão para levar de volta São Paulo à sua capela acompanhado pelos guiões e pelos andores da Senhora da Graça e de Cristo Crucificado. A volta à aldeia foi em passo acelerado porque já estava mais do que na hora do almoço.
E, como todas as festas religiosas, a de São Paulo também tem aquele lado profano que inclui à noite, depois do jantar, o bailarico. E pelo meio ainda foi possível assistir ao concerto do grande artista Nélson Caramelo que teve a assistir um entusiástico e ruidoso grupo de fãs. Agora já não há o baile mandado do saudoso Manuel Leitão mas mantém as muitas conversas junto ao balcão do bar do salão de festas de Ruivós e… ao que dizem até quase ao nascer do sol.
E nunca é de mais destacar a presença de muitos carrinhos de bebé e de crianças que brincaram no Salão de Festas.
No domingo foi celebrada a tradicional «Missa do Emigrante» com a procissão à volta do cemitério debaixo de violenta chuvada. Depois do almoço a… «Volta das Adegas».

Mordomos nomeados para 2026
Para o ano de 2026 foram nomeados o Manuel Cunha (por Ruivós), o Jorge Lages (por Lisboa/Luso) e o Bruno Neves (pela França).
Vivam os de Ruivós! Viva Ruivós! Viva São Paulo!
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«A Cidade e as Terras», por José Carlos Lages
(Fundador e Director do Capeia Arraiana desde 6 de Dezembro de 2006)
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