Sismo de 1531 em Lisboa | Numa quinta-feira, 26 de Janeiro de 1531, a cidade de Lisboa era sacudida por um violento terramoto que causou abundante destruição, numa cidade que à época era das mais importantes da Europa e, quiçá, do mundo conhecido.

SISMO DE 1531
era mais uma madrugada
na Lisboa medieval
quando assim do nada
a Terra tremeu de forma brutal
arrasando de uma assentada
cerca de um terço da capital
Lisboa, a cidade das descobertas
fugiu, deixando as ruas desertas
foi em 1531 que ocorreu
a 26 de janeiro, precisamente
mas aos poucos Lisboa esqueceu
esta tragédia, estranhamente
até que de novo a Terra tremeu
em novembro de 1755, justamente
E o Marquês compilou informação
do acontecido e da devastação
a igreja de São Domingos colapsou
o Paço real foi danificado
toda a Rua Nova desabou
o Palácio dos Estaus foi afetado
no Tejo a água borbulhou
e do leito terá extravasado
são poucos os relatos disponíveis
ainda assim bastante credíveis
Instalou-se o medo, o pavor
e logo discursos inflamados
espalharam o rumor
onde os judeus eram culpados
e a causa de tanta dor
tinha origem nos seus pecados
então o escritor Gil Vicente
com grande lucidez, fez-lhes frente
sem se conhecer a dimensão
do marmoto que lhe foi associado
a história atribue a decisão
do bairro alto ser edificado
ao medo de novo abanão
que deixasse de novo tudo alagado
ergueram assim o bairro alto
em São Roque, no Planalto
são grandes as semelhanças
entre os dois terramotos violentos
originaram profundas mudanças
geraram novos acontecimentos
hoje com a fobia das seguranças
pasma os poucos investimentos
em tornar Lisboa estruturada
para resistir mais bem preparada

Com origem na falha geológica da região do vale do Tejo tal como o de 1909 e contrariamente ao de 1755 que teve origem no mar Atlântico o terramoto foi sentido de forma intensa em Lisboa e em vários lugares do Reino e até para além das fronteiras.
O sismo de 1531 é considerado o segundo mais importante evento que afectou Lisboa embora já tivessem ocorrido importantes sismos em 1321 e 1356.
Lisboa esqueceu o sucedido e só em 1755 na sequência da investigação mandada fazer pelo Marquês de Pombal foram de novo estudadas as crónicas que foram feitas na altura.
Lisboa teria na altura perto de 100 000 habitantes e os historiadores não chegam a consenso sobre o número de mortos sendo referidos desde 15000 a 30000 cerca de um quinto da população da capital e talvez 2000 casas tenham desabado.
Também não se consegue determinar o tamanho do tsunami que acompanhou o sismo mas alguns relatos afiançam que a população construiu o Bairro Alto para estar a salvo de novas inundações.
Na altura as pessoas eram profundamente crentes e facilmente foram levadas a acreditar que os cristãos-novos antigos judeus convertidos eram os culpados da tragédia, refira-se que Gil Vicente chamou à liça o próprio Rei Dom João III para evitar um massacre e tomou a defesa dos perseguidos afrontando os monges que espalhavam a acusação.
Dizer ainda que numerosas procissões foram feitas na altura no intuito de aplacar a ira divina.
Por último deixo-vos os deliciosos versos do poeta Garcia de Resende que só por si descrevem o ambiente vivido…
Todos com medo que haviam
deixaram casas, fazendas;
nos campos praças dormiam
em tendilhões e em tendas
casas de ramas faziam;
as mais noites velando
temendo e receando;
porque tremor não cessava;
a gente pasmava andava
com medo da morte esperando.
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«Quiosque da Sorte», poesia de Luís Fernando Lopes
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