A PRISÃO DE LEONOR FERNANDES | Na região de Sortelha é frequente ouvir falar de Bruxas! No Arquivo Nacional da Torre do Tombo encontra-se o processo de Leonor Fernandes, «Cristã-Velha», que decorreu entre 6 de setembro de 1714 e 27 de fevereiro de 1716. Foi acusada de feitiçarias e bruxaria pelo Tribunal do Santo Ofício. Em 9 de Março de 1715 foi entregue no cárcere da Inquisição de Lisboa. (parte 6).

PARTE IV – PRISÃO DE LEONOR FERNANDES
Requerimento da prisão de Leonor Fernandes
Esta satisfação ao mandado desta mesa fazendo fé judicial na forma e estilo do Tribunal do Santo Ofício**, o sumário de que a esta remeteu o Promotor da cidade da Guarda e pelo que deste se vê e consta com certidão de bem que enfermando o Capitão-Mor da vila de Sortelha, Luís de Pina e presumido que o seu mal era malefício e que lho faria Leonor Fernandes, viúva de Sebastião Fernandes Gázio, do lugar do Casteleiro, termo da vila de Sortelha, Arciprestado de Penamacor, por esta ser tida e reputada feiticeira mandando-a chamar a obrigou com rogos a confessar lhe tinha feito malefício, por tentação com o demónio com o qual tinha um pacto com ele e lhe fizera os malefícios ao dito Capitão-mor da vila de Sortelha.
Chamada e instada logo tratou de lhe desfazer os ditos malefícios com várias ervas, e rezando e proferindo algumas palavras de que sucedeu achar-se bem, o que tudo se acha provado como todas as linhas do sumário.
Também consta que a dita, chamada à vila de Sortelha, proferira até palavras que renegava a fé em Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo, desde a hora em que nasceu e do leite que mamou, o que se prova pelas linhas 1. 2. 3. 5. do sumário.
Também consta pelas 1. 3. 5. e 6 linhas que desata repentinamente a causa dos achaques e a cura deles. Pelas 3. e 9. e 10 faz secar o leite às mulheres também repentinamente e aos animais e sendo rogada, dando-lhe alguma coisa, com o mesmo de repente lho restitui e facilita o parto das mulheres. Os quais factos se acham provados, tendo pacto com o demónio sem o qual não poderia fazer as ditas cousas.
Ato de entrega
Anno do Nascimento de Jesus Cristo de mil setecentos e quinze annos.
Aos nove dias do mês de Março, em Lisboa, nos Estaos e porta dos carcereiros desta Inquisição de Lisboa, aí foi entregue pelo familiar Vaz Pedroso da Cruz ao Alcayde dos mesmos, Agostinho da Costa, a presa Leonor Fernandes, que veio da vila da Covilhã, e sendo buscada na forma do Regimento, lhe não foi achado coisa alguma, e de com o dito Alcayde se houve por entregue a dita presa. E se fez este assento que assinou Fabião Bernardes e escrevi.
Agostinho da Costa
Notas
(*) O Palácio dos Estaus, também conhecido por Paço dos Estaus ou Palácio da Inquisição, situava-se no topo norte da Praça do Rossio, no Centro de Lisboa. Ardeu em 1836 e em 1846 foi inaugurado, no mesmo local, o Teatro Nacional D. Maria II.
(**) A Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício, foi instituída em Portugal pelo papa Paulo III, bula «Cum ad nihil magis», de 23 de Maio de 1536, no reinado de D. João III, sendo extinta em 1821. Perseguia, julgava e punia as pessoas acusadas de crimes heréticos, práticas judaizantes, feitiçarias e bruxarias.
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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