A Casa do Concelho do Sabugal nasceu a 13 de Fevereiro de 1975 nas asas do vento da revolução ocorrida meses antes e pela vontade de sabugalenses (alguns deles estudantes) residentes na região da Grande Lisboa. A escritura de constituição da associação foi assinada por Antero de Seabra, Adelino Brito Dias, Alberto da Cruz Gata, Benvinda de Seabra, Fitz Quintela, José Baltazar Roque e José Lourenço Paula. Em 2025 passam 50 anos dessa data e a direção da «Casa» entendeu desenvolver uma programação ambiciosa com atividades culturais e gastronómicas que vão decorrer até Dezembro. Estivemos à fala com Ramiro Matos em jeito de lançamento destes acontecimentos que vão passar a fazer parte da história da «Embaixada» do concelho do Sabugal em Lisboa…

O sabugalense Ramiro Matos é sócio da Casa do Concelho do Sabugal praticamente desde o primeiro dia. Nesse tempo, protagonizou a irreverência revolucionária própria de um jovem estudante do Instituto Superior Técnico «deslocado» em Lisboa. Viveu os tempos do fim da ditadura na «capital do império» enquanto saboreava com satisfação a novidade das liberdades de pensamento e ação nascidas com a revolução do 25 de Abril. Cidadão com pensamento livre e irreverente mas que peca por algum maniqueísmo é uma personagem incontornável da história da «Casa». «As comemorações dos 50 anos são a minha prioridade», atirou antes de iniciar esta nossa conversa…
– A actual Direção que já vem de anteriores eleições tem, pouco a pouco, recuperado a dignidade e a saúde económica da «Casa». O que foi mais difícil de resolver quando começaram?
– Em primeiro lugar reganhar o prestígio e a confiança dos sócios que se tinham afastado da Casa. E, muito importante, reatámos o diálogo com o poder autárquico do Sabugal que é fundamental para a existência da Casa. Em termos económicos a conta bancária estava a «zeros», não havia receitas e não tínhamos como responder às nossas obrigações…
– Como ultrapassaram essas dificuldades?
– Conseguimos dialogar com a Câmara Municipal do Sabugal e logo no primeiro ano tivemos um apoio de 20 mil euros, a maior parte para custear as obras de requalificação que terminaram muito recentemente. Hoje temos uma sala de reuniões com condições para reuniões aonde havia apenas uma espécie de arrecadação. Mas os investimentos são permanentes. Na semana passada tivemos uma rotura de água que teve um custo avultado, ou seja, ainda estamos na gestão do dia-a-dia.
– A Casa faz 50 anos em 2025. Já há ideias para este número redondo?
– Estamos a programar estas comemorações dos 50 anos sobretudo em termos culturais. A Casa do Concelho de Sabugal tem, até pelos problemas de sobrevivência económica, apostado nos eventos gastronómicos que ajudam a pagar as nossas despesas. E ao mesmo tempo contribuem para o convívio dos sabugalenses e dos sócios e isso… é o mais importante. A Casa tem a obrigação de ter um papel cultural e de ligação aos empresários e ao movimento associativo do concelho e à diáspora sabugalense na região da grande Lisboa. Em 2025 vamos incentivar a que mais aldeias organizem como, por exemplo, Ruivós, o Soito, Quadrazais, Vale de Espinho, a Ruvina, Santo Estêvão e outras já fazem e que é um encontro anual dos seus naturais e descendentes na Casa mesmo tendo a limitação a 60 lugares. Em paralelo estamos a apresentar livros de autores do concelho como os da Georgina Ferro e da Felismina Rito, da Sofia Manso e da Gabriela Matos, de seguida será o livro de Joaquim Tenreira Martins a 13 de Fevereiro e a obra de quadrazenho Franklim Costa Braga. Estão, igualmente, previstas duas exposições de pintura e uma de escultura. O programa está a ser construído à medida das disponibilidade dos autores. Depois da férias de verão tencionamos organizar um grande encontro com as associações do concelho.
– E a Capeia…
– A capeia do último ano deu dois mil e quinhentos euros de prejuízo. Vamos sensibilizar a Câmara do Sabugal e os autarcas das freguesias a disponibilizar transportes que possam motivar os sabugalenses a vir a Lisboa. Isso ajuda os seus familiares que aqui vivem a juntarem-se a eles à festa…
– Estamos em ano de eleições autárquicas. Poderá ajudar ou prejudicar?
– A Casa do Concelho do Sabugal não se mete nessas questões. Vamos fazer o que fizemos há quatro anos. Enviar uma comunicação a todos os candidatos disponibilizando o espaço para as respetivas campanhas e mais do que isso não fazemos. E não acreditamos que a Câmara Municipal do Sabugal no seu apoio actue por questões de ano autárquico.
– A mais recente obra é a requalificação da chamada biblioteca. Já era tempo…
– O primeiro protocolo entre a Câmara e a Casa visava criar dois espaços. Um que se destinava à divulgação turística do concelho em Lisboa e isso foi feito logo no primeiro ano. O outro era a criação de um espaço que permitisse aos setores sociais, empresariais ou aos autarcas do concelho fazer reuniões sem terem de ir para outros lados. Agora já temos condições para oferecer essa disponibilidade.
– Sei que está a ser feita uma atualização da listagem dos associados. Quem quiser ser sócio da Casa do Concelho do Sabugal o que deve fazer?
– Tem que ser por contato direto para o telefone da Casa ou através de algum sócio da Casa. Durante algum tempo houve uma política que consideramos errada e que era a de fazer, quase obrigar, a ser sócio quem viesse à Casa mesmo sem afinidade ao concelho. Nós não fazemos isso. Privilegiamos os pedidos dos naturais e descendentes de sabugalenses e esperamos que se tornem frequentadores ativos. Depois da inscrição os sócios são inseridos numa base de dados e passam a receber informação por email. A nossa página no Facebook também divulga todas as actividades na «Casa» e, até, das associações e freguesias do concelho do Sabugal.
– E quanto custa?
– Tem uma quota de 15 euros anuais. E aproveito para dizer que o ano de 2025 já está a pagamento e que precisamos da ajuda de todos para levar a cabo toda a programação que estamos a desenvolver para as comemorações dos 50 anos da Casa do Concelho do Sabugal.
– E a partir de que idade se pagam quotas?
– Embora os estatutos não sejam claros quanto a isso apenas estamos a cobrar quotas a partir dos 18 anos. Até por isso aqui fica o convite a todos os sabugalenses que façam os seus filhos sócios desde que nascem…
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A finalizar recordei ao Ramiro Matos uma experiência pessoal. Quando vou com grupos de amigos à «Casa» todos elogiam a qualidade da confeção da comida e o ambiente familiar mas fazem reparos ao estado das cadeiras. Aproveitei para lhe dar um exemplo que me «cativou» na minha primeira visita a Londres. Num espaço verde junto ao rio Tamisa com obeliscos «trazidos» do Egipto as cadeiras do jardim têm uma placa onde está gravado o nome de escritores ingleses. Assim deixei a sugestão para que fosse feita a «Campanha das Novas Cadeiras» que possibilitasse aos sócios pagar uma cadeira e onde fosse colocada uma placa com o seu nome. É apenas uma sugestão mas inscrevo-me, desde já, para o efeito…
Iniciei-me no associativismo com 17 anos… na «Casa», como não podia deixar de ser, integrando uma direção do saudoso presidente Adelino Dias. E ainda hoje tenho responsabilidades associativas como, por exemplo, na Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Amigos do Ruivós. E continua a ser motivador. Aqui ficam os meus votos de muito sucesso e participação dos sabugalenses para as comemorações dos 50 anos da Casa do Concelho do Sabugal que frequento há mais de 40 anos.
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«À fala com…», entrevista de José Carlos Lages
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