«Sincelo de Janeiro na Beira Alta» | Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…
SINCELO* DE JANEIRO NA BEIRA ALTA
Em Janeiro a lua cheia
Prateia com o seu luar
As ruas da minha aldeia
Com diamantes a brilhar
Há gelo nas pedras do chão
Pendem pingentes dos telhados
Que luzem na escuridão
Como tesouros encantados
E quanto mais frio aperta
Mais a Lua se pavoneia
Como se uma porta aberta
Abrisse o céu p’rá minha aldeia
E embrulhadinhas no xale
Toucas de lã, sapatos grossos
Saímos em passo de baile
A dar largas a usos nossos
Trepamos pelas escaleiras
Batemos de porta em porta
Vimos cantar as Janeiras
Nem o sincelo nos importa
Senhores, que estais ao lume
Sentadinhos ao calor
Cá fora afiou o gume
Um sincelo aterrador
Cantadores e cantadeiras
Estamos à vossa porta
Vinde dar-nos as Janeiras
Cá fora o vento até corta…
:: :: :: :: ::
* Sincelo – Pedaço de gelo suspenso dos beirais dos telhados, das árvores ou das plantas, resultante da congelação da chuva ou do orvalho, geralmente em situações de nevoeiro.
:: ::
«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
:: ::
Leave a Reply