Bom Ano de 2025 para todos nós. Inicio hoje uma série de recordações que me são especialmente agradáveis: as maneiras de falar, as palavras e, quase sempre, a malandrice dos ditos populares. Prevejo mais uma série de crónicas a recordar belos tempos. Espero que se divirta…
Má-língua popular com piada, sempre!
A gíria e muitas das expressões populares são parte de um universo que especialmente aprecio: o da «má-língua» do nosso Povo, no mais puro de si mesmo. Leia e divirta-se com mais umas quantas fórmulas e expressões.
Logo para abrir, esta a que acho sempre muita piada:
– Não é fruta de ter.
Sabem o que significa quando se fala de alguém? Quer dizer que não é muito fiável, que não se pode contar muito com a pessoa. E seguem outras…
– É um exemplo que ali anda! – esta expressão é demonstrativa de um certo desprezo, de uma certa crítica destrutiva. Um tipo que não sabe fazer nada ou que se porta mal «como o diabo» (c’mò dianho, c’mò diacho), esse «é um exemplo que ali anda». E, quando falam para ele, dizem-lho na cara: «És cá um exemplo…» Ou então fala-se com terceiros e diz-se: «É um bom exemplo!» Isto, tenham a certeza, é uma crítica feroz, apesar da aparente lisura das palavras usadas…
– Aquilo é uma maria-vai-com-as-outras! – diz-se de uma pessoa (sobretudo, claro, uma mulher) quando não dá provas de personalidade: faz o que vê fazer, vai atrás: «É uma maria vai com as outras!»
– Cabeça de alho choucho – pessoa que não tem capacidade para dirigir a sua vida, incapaz de raciocinar sobre a vida.
– Tirar de hoje é sempre assim (leia «tirar d’oj’ è sempr’assim») – isso significa que é sempre tudo igual. Que a pessoa em causa faz sempre as mesmas asneiras.
– Meteu-se a mordomo sem devoção – quer dizer que se pôs a fazer coisas de que nada sabia e se deu mal com o desfecho.
– Burro podre – pessoa que mal se tem em pé, ou seja, e sem exageros que anda sempre a tropeçar e até a cair.
Palavras bonitas com enquadramento antigo
– Rebusco, ir ao… – é apanhar o resto das uvas nas vinhas ou das castanhas nos soitos. Bons tempos em que havia soitos.
– Restelo, andar ou ir ao – é apanhar o resto da azeitona, depois da apanha.
– Barredela – é uma varridela, ou seja, varrer depressa e mal.
– Barrela – calda para branquear a roupa que se lavava na ribeira ou na presa de algum prédio.
No Casteleiro, quase toda a gente é «tia». Geração mais velha, tia. Então e se… as jovens tàtás que chamam tias às amigas da mãe… se isso afinal fosse uma deriva sofisticada ou presunçosa do velho hábito da aldeia? Sei lá, a linguagem dá cada volta por esse país fora.
E sabem o que é na minha terra a «aldraba»? É nada mais, nada menos, do que a aldrave da porta, uma peça que servia de «pega» e de campainha. Ao bater com ela fazia-se barulho para os donos da casa atenderem o visitante.
Já agora, fique a saber que «pôr o pão de costas para baixo era pecado»… E que quando um carro fica «am’lancado», isso quer dizer que levou uma batida na chapa e ficou… amolgado.
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Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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