No Queimoso passarsido o Augusto Simão, que tunhe acompanharsido mês rabiscos no papeloso Capeia Arraiana, apreciarsindo-os, lançarsiu-me uno desafierno na noiena reta: «Por que nentes escrevumpes uno mintroso sobre Quadrazais? Toienes é que sunhes a pensante dedada p’ ó fazunhir.» Nentes penhando esperarsa duno desafierno daquesses, penhei sim sabunhir o que galrar senentes uno «dudez!» sim teimosa. A eureca penhou cá no baixo da muchela, sim granjeira chispa de a trazunhir ó de riba.
(Carcho 21.º, continuação).
IV – SAIUMPIDO
Carcho 21.º (continuação)
P’a sê despalado, já no havunhia a alegrosa da militarosa, por desavunhança de manegos. E, se alguno havunhia, inhia na rodas. Os macalos já no sunhiam precos. Já no ovumpiam o dedador nim os estoirantes da chegarsa. E ele que no tunhira o gostoso de fazunhir a só alegrosa, já no voltarsiria a assistumpir àquele globo magicoso da pós-nascida! No tunhira o pró de calcantar unos caturnos fazunhidos p’a Palmira!
Já no se adicavam espigosas, nim cortadores, nim acabadores, nim acacheinadas, nim tira-tomates… Mas havunhia mai quitanos, que os pôcos que vegitavam Códrazais fazunhiram-se locados, vezando-se cumo desprezados.
Já negém levarsia saqueijas ós munhos. Aquestes havunhiam portalado.
O Códrazais da só pós-nascida acabara.
P’os andantilhos do risco, já desalumados p’o granjento de maiosas e atros roçantes, no se adicava negém. Já no havunhia gesnistas nim infixantes. Inda simiriam os fixos da Ti Tomásia, da Concha e do Saturnino?!
Tunhiam-se acabarsido p’a constante p’a éle as inhidas a Valverde! Mas as saudades daquesses relógios continuarsiam, apesar de tunhirem sunhido monte internos.
Quem sabunhe, dudez lá voltarsissem a acabar saudades!
Agora tunhiriam de alentar c’os novernos relógios. Dudez cultivarsir uno horternito p’a acabar saudades, mas nentes p’a granjeiros suarentos. Inda encontrarsiu no coime da méria uno tira-cascosas e una cavadorinha, que le fazunhiram lembrarsir a foleira do Magildro. Servumpiam p’a sacar verdosa e acimar unas cascositas do horterno. Paladariam girior que as do super.
A foleira penhava im desabos. Penado do Magildro! Por lá penhara im Paris, onde fazunhia alento de clochard, esbarrado por una moto.
Já no havunhia quem tapasse una cavadora nim calcantasse unas ferradas nuno gemo. Aliás, já sunhiam valiosos os impensantes e os trupeados. No se adicavam penosas nim vistas-baixas nas passantes. Já nim respos se ovumpiam respoar. Tunhiu saudades do sê gemo, que a méria passara p’a le pagarsir a andantada a doblo. Os abertos negados sunhiam densos p’a runfos. Inté as pôcas gachernas, monte apreciarsidas, acabarsiram por secarsir. O mesmerno se passarsiria c’os verdosos, atrás monte apreciarsidos p’os granjeiradores de trupeados, agora negados e despesarsados, cumo a granjeiria dos terrunhos, passarsido o ciclone de tunhir terrunhos p’a pareçunhirem abondantes. Único os terrunhos ó vento da mata se havunhiam pesarsado muto, granjeirando os coimes por tótio vento. O mesmerno aconteçunhiu c’a gleba do Alcambar, inatiscável nos balanços?.
Os calcanteiros havunhiam acabado. Tútio se marcava agora já fazunhido. Já negém deitarsia fronteiras ós calcantes nim traseiras às galdrinas porque tamém havunhiam acabado ó negado a suarenta os gafanhotos. O que já no servumpia, deitarsia-se ó desprezado.
Contudo, muta maralha inda mantunhia barrosos e atras chausas coimeiras cumo carchos de antigoso. Icho, que os passadores da Malhada Sorda deixarsiram de vunhir a Códrazais e os barrosos único já servumpiam p’a bonito. As pinga-pinga deitarsiam a ânsia que se precisarsisse.
Por aquisso, tamém já no se adicavam as médias baro modadas de barroso na murchoila a andante da Fonte, onde conheçunhiriam os galrados d’além.
As alegrosas, porém, continuarsiam a fazunhir-se, imbora os estoirantes já no tunhissem sustentos. Porém, já no se arrifavam as gâmbias do liteiro. As gebas becas, nim constante lavantadas, havunhiam darsido destino a mocas.
Os balhos ós Sagrados tunhiam acabarsido e, co’eles, as passadoras de chochos, Pitagala e Nunciação Torres, a quem soienes marcava uno conito deles. Inté o fixo do ti Barreiro se escondera, que os gilfos tamém havunhiam deixarsido Códrazais. O gebo Ford imobilava nalguno falhordeiro semi desfazunhido.
Agora Códrazais já tunhia uno reposo p’ós gebos. Quem suava im França podunhiria trazunhir os périos p’ó reposo de Códrazais, onde sunhiriam baro mimados. No havunhia necidade de deixarsirem de suar p’a mimarem os périos im França.
Assim passarsiu a alentar co’a só Palmira e gilfos. A aquestes escolava as gravadoras do passado, mas co’a alteada d’eles já no vunhirem a passarsir p’os suarentos e assém por que soienes passarsira.
(Fim)
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NOVELA NA RAIA – EPISÓDIO 24 (continuação)
(publicado originalmente a 28 de Dezembro de 2018)
A minha intenção é sempre a mesma. Avivar a memória da cultura de Quadrazais para que não se perca, sobretudo entre os jovens que não nasceram ou não cresceram em Quadrazais, tendo ouvido apenas dos pais e avós algumas histórias e cenas da vida quotidiana da terra onde haviam nascido, tão longe do local onde agora se encontram. Na «Novela na Raia» vou utilizar personagens reais da aldeia, tentarei descrever quadros da aldeia e narrar os factos do dia-a-dia, embora não obrigatoriamente protagonizados por estas personagens.
QUARTA PARTE – EMIGRANTE
Episódio 24 (continuação)
Para seu desgosto, já não havia a festa da inspecção, por falta de rapazes. E, se algum havia, ia na carreira. Os cavalos já não eram precisos. Já não ouviam o tocador nem os foguetes da chegada. E ele que não tivera o prazer de fazer a sua festa, já não voltaria a assistir àquele mundo maravilhoso da infância! Não tivera a sorte de calçar uns caturnos feitos pela Palmira!
Já não se viam cearas de pães, nem ceifadores, nem gadanheiros, nem matanças, nem capadores… Mas havia mais ciganos, que os poucos que visitavam Quadrazais transformaram-se em residentes, multiplicando-se como bichos.
Já ninguém levava taleigas aos munhos. Estes haviam encerrado.
O Códrazais da sua infância morrera.
Pelos trilhos da raia, já apagados pelo crescimento de giestas e outros arbustos, não se via viv’alma. Já não havia contrabandistas nem ambulantes. Ainda existiriam os comércios da Ti Tomásia, da Concha e do Saturnino?!
Tinham-se acabado para sempre para ele as idas a Valverde! Mas as saudades desses tempos continuavam, apesar de terem sido tão difíceis.
Quem sabe, talvez lá voltassem a matar saudades!
Agora teriam de viver com os novos tempos. Talvez cultivar um hortito para matar saudades, mas não para grandes trabalhos. Ainda encontrou em casa da mãe um gancho e uma enxadinha, que lhe fizeram lembrar a forja do Magildro. Serviriam para sachar e arrancar umas batatitas do horto. Saberiam melhor que as do supermercado.
A forja estava em ruínas. Coitado do Magildro! Por lá ficara em Paris, onde fazia vida de clochard, atropelado por uma moto.
Já não havia quem concertasse uma enxada nem calçasse umas ferraduras num burro. Aliás, já eram raros os animais e os gados. Não se viam galinhas nem marranos nas ruas. Já nem cães se ouviam ladrar. Teve saudades do seu burro, que a mãe vendera para lhe pagar a viagem a salto. Os campos abandonados eram matos para fogos. Até as poucas vinhas, tão apreciadas, acabaram por secar. O mesmo se passava com os lameiros, outrora tão apreciados pelos criadores de gados, agora abandonados e desvalorizados, como a maioria das terras, passada a fúria de ter terras para parecerem ricos. Só os terrenos junto da povoação se haviam valorizado muito, crescendo as casas por todo o lado. O mesmo aconteceu com a gleba do Alcambar, irreconhecível nas partilhas.
Os sapateiros haviam acabado. Tudo se comprava agora já feito. Já ninguém deitava tombas aos sapatos nem cuedas às calças porque também haviam morrido ou abandonado a profissão os alfaiates. O que já não servia, deitava-se ao lixo.
Contudo, muita gente ainda conservava cântaros e outros objectos caseiros como peças de museu. Sim, que os vendedores da Malhada Sorda deixaram de vir a Quadrazais e os cântaros só já serviam para decoração. As torneiras deitavam a água que se precisasse.
Por isso, também já não se viam as moças bem arranjadas de cântaro à cabeça a caminho da Fonte, onde conheceriam os futuros namorados.
As festas, porém, continuavam a fazer-se, embora os foguetes já não tivessem canas. Porém, já não se arrematavam as pernas do andor. As velhas tabernas, nem sempre asseadas, haviam dado lugar a cafés.
Os bailes aos Domingos tinham acabado e, com eles, as vendedoras de tremoços, Pitagala e Nunciação Torres, a quem ele comprava um cartuchinho deles. Até o comércio do Ti Barreiro fechara, que os filhos também haviam deixado Quadrazais. O velho Ford jazia nalgum palheiro meio desfeito.
Agora Quadrazais já tinha um lar para os velhos. Quem trabalhava em França poderia trazer os pais para o lar de Quadrazais, onde seriam bem tratados. Não havia necessidade de deixarem de trabalhar para cuidarem dos pais em França.
Assim passou a viver o Miguel com a sua Palmira e filhos. A estes ensinava as memórias do passado, mas com a satisfação de eles já não virem a passar pelos trabalhos e miséria por que ele passara.
(Fim)
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Notas
Caçoilo – caneca larga de barro amarelo.
Chão – terreno de cultivo.
Jé – José.
Lapacheiro – lamaçal.
Ó – ou.
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Crónica «Novela na Raia» – «Episódio 24»… [aqui]
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