Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…
DESPEDIDA DE 2024
Lindo, este dia de invernia
Que me deixa sentada à braseira
A garatujar à minha maneira
Ping… Ping… e teclado em sintonia
Soltam-se lembranças dos tempos idos
Outros dias de chuva na aldeia
À lareira e à luz da candeia
A recontar os contos já sabidos
Mais uma vez eu lembro esses contos
As pessoas que eu tanto amei
Todas as histórias que hoje sei
Com o acrescento de todos os pontos
Bato à porta da tia Palmira,
Espreito a vaca na manjedoura
Depois de mais um dia de lavoura
Mas não a oiço, o que me admira!…
Não há cheiro de lenha a arder
Nem mau odor do monte de estrume
Ou da carqueja a atear o lume
E do café na cafeteira a fazer
Não há jogo da sueca na mesa
Aquela bisca que ficou sozinha
Gerando algazarra lá na cozinha
Onde a chama tremelica acesa
Acordo e vejo-me no espelho
Cabelo cinza com madeixas leves,
Não tão branquinho como o da avó Neves,
E, no rosto, um ou outro engelho
Que bem me fica, ter esta idade
Lembrar com tão doce exactidão
Coisas que transporto no coração
Com Amor misturado em saudade.
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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