Escrevi um Ebook, publicado em Angola, sobre as aventuras do então presidente norte americano e, acima da escrita, deu-me imenso prazer em pensar quão tão seria inimaginável a vida daquele estadista. Entendi, ainda antes de tomar posse, escrever mais uma história num ambiente de azáfama de mudança de casa, dos favores que começam a surgir e de peripécias que acontecem a um desgraçado que ainda não é, mas muita gente pensa que já é.
Uma das leituras preferidas de Donald Trump ao pequeno-almoço, os flocos de milho mais famosos do mundo «Korn Flakes», é ler a ainda banda desenhada preferencialmente do Tio Patinhas, onde se revê como grande gestor. Mas subitamente, onde ia na melhor parte da história, a sua adorável esposa grita. Porém tinha o aparelho dos ouvidos desligado (um dos motivos porque fala muito alto é a surdez) levando a «princesa» a pedir socorro: «Honey o Putin comeu-me o anel oferecido pela menina do aeroporto do Dubay. Adoro aquela joia!»
O desgraçado mal tinha dormido. Foram chamadas atrás de chamadas. E como ainda não tem chefe de gabinete, vem tudo parar ao seu telefone. Um «malandro» do FBI pôs a circular na Net o seu número de telefone pessoal, só que ainda não pode fazer nada, embora se tivesse queixado ao seu antecessor também ele já meio surdo e durante a chamada esqueceu-se de ligar o aparelho auditivo limitando-se a dizer: «Com certeza, pois, sim, não se preocupe, tratarei pessoalmente do assunto.»
Com uma noite tão agitada, acabou por desligar também o seu aparelho porque ainda não aprendeu a colocar o telemóvel no silêncio. Recebeu-o directamente da China, como presente do próprio presidente chinês pela eleição e como sinal de boa vontade de pacificação das relações, mas tendo uma tecnologia tão avançada que ainda aparecem «coisas» em mandarim.
«O Putin comeu o quê?» Putin era o nome do cão que Donald fez questão de baptizar ainda na sua presidência. Era um pacífico dobermann só que tinha a mania de comer coisas bastante estranhas.
O melhor era chamar um canalizador. Se está num tubo digestivo, o Adão (grande canalizador lusodescendente) seguramente resolveria. Mas Melania achava que um veterinário seria mais adequado.
«Eu não nomeei veterinários para o Gabinete. Apenas o médico.»
Melania é um pouco mais sensível e não só se preocupava com a jóia, mas também com a saúde de Putin. Como mulher sempre soube falar com Kamala, a ainda Vice-Presidente, que apesar do mau feitio não tinha «armas» para o charme e educação de Melania. Quando soube da história completa nem quis saber mais: «Melania esse animal tem de vir imediatamente para os laboratórios da CIA. Acredite que será bem tratado e com o problema resolvido. Confie em mim!»
Melania ficou surpreendida, mas não pôs em causa a boa vontade da «Vice», achando melhor nem dizer ao marido, que estava a discutir com o futuro Secretário da Saúde que queria um Mercedes e, que para Donald, «coisas europeias nem pensar».
Nem cinco minutos passaram e Melania recebe uma chamada de número desconhecido. O FBI já estava à porta e pedia para alguém trazer o canídeo.
Uma das empregadas o fez sem antes Melania abraçar o bichinho com todo o carinho.
Enquanto o casal se ia preparando para a mudança, Donald resolve chamar o futuro Conselheiro de Segurança porque com aquele telefone não se entendia. Queria um BlackBerry de teclas um orgulho da indústria americana de alta tecnologia. O jovem quando olhou para a oferta chinesa, diplomaticamente, pediu para o levar a um indiano que entende de telemóveis e colocava-o compatível com as necessidades do futuro Presidente. Porém, foi directamente ao FBI e já com o «estatuto de futuro» teve porta aberta e o aparelho foi logo para os serviços forenses para ser analisado.
Aproveitando a calma, o casal liga a TV, ficando Melania a ler revistas de moda e decoração e Donald a sua série preferida: «Espaço 1999». Pensava que o Musk tinha que ver aquilo. Que visão tinham os americanos naquela época.
Nesse dia o futuro Conselheiro de Segurança não teve «mãos a medir».
Primeiro recebe a chamada do seu homólogo ainda em funções. O anel que estava dentro de Putin estava cheio de microchip que permitia escutar, localizar e até tirar fotos.
«Vocês tiraram um anel ao Putin?» O futuro funções ficou intrigado. O actual desculpou -se e explicou detalhadamente o que se passou, de facto.
O futuro conselheiro só punha as mãos na cabeça e agradeceu. Mas agora como explicar a Melania que não podia usar o anel e que o mesmo foi todo desmontado e os supostos diamantes eram sílica com microchip?
Pouco depois recebe a chamada do director do FBI. Como se esperava o telefone era na verdade de alta tecnologia, mas de espionagem. Os caracteres em mandarim devia ser um «bug» que ainda não detectaram mas o melhor seria arranjar o tal BlackBerry. Quando tomasse posse os serviços dariam um telefone seguro.
O futuro Conselheiro de Segurança vai à mansão Trump, e pelo caminho puxava pela cabeça como resolveria o assunto. Entendeu passar pelo um indiano e tentar adquirir um BlackBerry com bom aspecto, garantindo-lhe o indiano que em meia-hora tinha o que pretendia.
Aproveita para comer um snack com coca cola, já imaginando o que iria ser a sua vida.
Pontualmente volta ao indiano e até caixa tinha só que o preço era 50 dólares americanos (USD).
«Um telefone tão antigo?»
Ok. O indiano baixou 10 dólares. Fechado.
Voltou ao FBI para o telefone ser analisado e os serviços forenses não detectaram nada de especial, embora metade do equipamento já tivesse componentes indianos.
Vai então em direcção à mansão. O cão já la estava e pulava de alegria. Por sorte Melania estava no jardim sorridente a ver o seu canídeo. Obviamente que a conversa seria o anel.
«Entregaram-me apenas o Putin, mas sobre o anel disseram que alguém falaria comigo.»
«Sim, fiquei eu incumbido dessa tarefa dada a missão que terei na próxima administração. Infelizmente o acido do estômago destruiu o anel e os diamantes devem ter saído quando o animal defecou e ninguém reparou. Como imagina as fezes foram para contentor adequado e agora sabe-se lá onde estarão.»
«Mas não há nenhuma possibilidade?»
«Só com a permissão do actual Secretário da Saúde e envolveria muitos meios de investigação. Acho imprudente nesta fase de tomada de posse envolver mais membros da anterior administração. O assunto ainda pode vir na imprensa e prejudicaria a imagem do Presidente eleito.»
Após Melania entender e aceitar aquele ponto de vista vai ter com Donald Trump, levando a caixa com o tão desejoso telefone.
Entrega-lhe orgulhosamente a caixa e Donald sorri: «Belo trabalho senhor conselheiro. Os meus parabéns!»
Deixa a residência e vai até ao seu escritório porque ainda tinha muito trabalho particular antes de tomar posse.
Entretanto recebe uma chamada do futuro Secretário de Estado:
«Olá meu caro. Diz-me apenas onde arranjaste aquela porcaria de telemóvel. É que com tanta segurança esqueceram-se de mudar o chip e o Presidente passa a vida a receber telefonemas numa língua esquisita e de números do oriente. Obviamente que já tratámos do assunto.»
«Mas para a próxima não te esqueças de tratar de mudar o chip. Mas seguro!»
Luanda, 18 de Dezembro de 2024
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«No trilho das minhas memórias», ficção por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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