Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…
O MEU AMIGO PASTOR
«Tem pouco discernimento
Mas um coração bondoso»
Diz toda a gente da terra
E, naquele passo lento,
Arritmado e custoso
Acompanha as ovelhas
Sempre atento, de vigia,
No sobe e desce da serra
Que percorre cada dia
Amparado ao cajado
Gorro a tapar as orelhas
Capote de saragoça
O calçado já cambado
Atacoado com cordel
Cigarro ao canto da boca
Acabado de enrolar
Na mortalha de papel
Lá vai ele serra acima
Taleigo com a merenda
Pão centeio, sim senhor!,
Um «niquinho» de presunto
Que a mãe acabou de pôr
Abrindo uma pequena fenda
Entre o pão. E, ali bem junto,
Vai, também, o seu Amor.
É que aquele seu filhinho
P’la serra dias a fio
Sem conforto e companhia
Passa o tempo sozinho
Com o seu cão e as ovelhas
Sem ter com quem conversar
Apenas a chuva, o vento,
As montanhas e o rio
Mas tem sonhos por viver
Montanhas por escalar
Rios que quer navegar
Conversas, para fazer
Que guarda no pensamento!
Se não tem discernimento
Como dizem as pessoas
Tem sonhos de coisas boas!
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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