Com a reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755, o Marquês de Pombal e a sua equipa sentiram a necessidade de criar um jardim ao qual chamaram «Passeio Público». Era murado e com entrada restrita para uso exclusivo dos membros da nobreza mas a aristocracia lisboeta não o frequentava pois considerava que não tinha beleza paisagística. Passados 50 anos foi finalmente aberto ao público sem restrições. Em 1879 deu lugar à Praça dos Restauradores e à Avenida da Liberdade.
PASSEIO PÚBLICO
na década a seguir ao sismo
reconstruir Lisboa era prioridade
Pombal no seu vanguardismo
sonhou o Passeio Público da cidade
e Reinaldo dos Santos foi encarregado
de conceber a arquitetura da área
cujo portão no rossio ficaria situado
onde hoje é a estação ferroviária
estendia-se 300 metros para norte
por antigas hortas e terras alagadas
foi com o entulho do sismo a dar suporte
que os presos construíram as estradas
o «jardim público» que não o era
estava destinado apenas à nobreza
mas a sua ocupação foi efémera
para os aristocratas faltava-lhe beleza
perante o fracasso do Passeio
meio século depois da inauguração
derrubaram os muros como meio
de abrir o parque à população
mais tarde a Câmara Municipal
introduziu estátuas e uma cascata
obra a cargo de Malaquias Leal
que gerou uma adesão imediata
o barroco deu lugar ao romantismo
e talvez devido a este novo registo
para o burguês tornou-se snobismo
passear ali, para ver e ser visto
e mesmo muitos intelectuais
desciam o chiado para lá ir passear
assistir a espectáculos culturais
ou apenas dizer piropos e namorar
«Passeio Público» situava-se no espaço da atual Praça dos Restauradores
Segundo os historiadores o primitivo «Passeio Público» construído em 1764 era um bosque limitado com muros altos que teria início na zona que é hoje a Praça dos Restauradores (o portão estaria localizado algures entre a entrada da estação ferroviária e a zona que é hoje o elevador da glória) e estendia-se até uma linha que podemos imaginar entre a Praça da Alegria e a Rua das Pretas.
Mais de meio século depois em 1840 com o advento do liberalismo uma comissão camarária executa vários melhoramentos no passeio e torna-o lugar de eleição da Lisboa snobe. A parte norte acabava com uma cascata que debitava para um lago com as estátuas de dois cisnes, um gradeamento mais pequeno substituiu os antigos muros, o Passeio tinha um coreto e eram frequentes os espectáculos que reuniam as pessoas e as levaram a frequentar o espaço.
Conta-se que a própria família real não abdicava de o frequentar e entre os assíduos contava-se várias figuras de proa da sociedade da época.
Com a chegada do gás o Passeio era por vezes iluminado o que facilmente se calcula exerceria uma grande atração.
O Passeio Público manteve-se até 1879 quando começou a ser demolido para que pudesse surgir a Avenida da Liberdade e a Praça dos Restauradores, mas isso será assunto para uma nova crónica.
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«Quiosque da Sorte», poesia de Luís Fernando Lopes
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