A aventura dos emigrantes: foi uma saga ou foi uma epopeia? Se calhar, ambas!…
Foi uma saga e foi uma epopeia! Mesmo!
Quero deixar claro que, quando iniciei esta «série de artigos» sobre as emigrações, hesitei muito na escolha de um título genérico que cobrisse em duas ou três palavras todo o universo diversificado que eu conheço deste assunto. Foi nessa busca atenta, que cheguei a duas palavras e as conectei numa só «frase-título»: «Saga e Epopeia».
É que de facto as emigrações tiveram aspectos de uma e de outra dessas realidades míticas que imaginamos nos nossos cérebros.
Ou seja, deixando de lado o positivismo frio, este assunto merece mais calor humano e imaginário do que é habitual. Esta grande epopeia vivida pelos nossos conterrâneos merece ser valorizada e até mesmo «fixada» entre as nossas Memórias (com maiúsculas, pois então…).
Narrativa forte e empática
Ou seja, uma saga será então uma narrativa cheia de peripécias (e as emigrações foram isso mesmo), muitas vezes cheias de incidentes quase violentos e com nalguns casos com aspectos quase míticos – e nas emigrações houve momentos que foram isso mesmo: míticos, pelo que todos sempre ouvimos os emigrantes contarem – e não se trata só de atravessar as fronteiras «a salto» e de serem abandonados pelos «passadores». Foi muito mais do que isso…
E foi também uma epopeia? Aí mudamos de patamar…
Grandes heróis – a nossa homenagem
Neste novo patamar estaremos a falar de um cenário de «acção grandiosa e heróica, na qual se exprime um mito colectivo». Por isso, honra seja feita à Junta de Freguesia do Casteleiro que, em tempo oportuno, mandou erigir o monumento que pode ver na imagem.
Cabe aqui tudo o que se passou com os nossos casteleirenses emigrantes. Passou e passa mas sobretudo quero frisar bem o que sucedeu nestes nesse tempo dos anos 60 a 80-90:
1 – A grandiosidade deste fenómeno é patente porque abrangeu milhares e milhares de cidadãos e porque em cada um deles cabia um sonho completamente abrangente: mudar de vida, mudar de hábitos, mudar de país, procurar trabalhos o mais bem pagos possível, arrecadar-poupar todos os francos (esqueçamos os outros países por um momento);
2 – O carácter heróico destes tempos é para mim muito evidente, muito claro: os nossos conterrâneos tiveram a coragem de renunciar ao «rame-rame» do seu dia-a-dia no Casteleiro e partirem mundo fora à aventura – e que grandiosa aventura. Aos próprios nessa altura isto não pareceu heróico, pois doía muito e a sério. Mas para nós que analisamos a situação nos dias de hoje isto é inegável: tratou-se de dias de muito heroísmo;
3 – Finalmente, sublinho o carácter colectivo abrangente e avassalador deste fenómeno: embora fosse cada um destes nossos compatriotas a sofrer o dia-a-dia, o facto é que, no global, o resultado é muito similar para todos e muito abrangente – trata-se de anos de grandes mudanças na vida de quem partiu e nas vidas de quem ficou: mulheres, filhos, família toda.
Ou seja, um sofrimento colectivo e uma nova situação que melhorou ano após ano, lentamente, sentidamente, sofridamente. Impossível não frisar e sublinhar estes aspectos. Eles todos merecem muito esta nossa homenagem que por aqui foi ficando registada.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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