Com Rúben Amorim de adeus ao Sporting o que aqui se recorda é como Rúben Amorim foi parar ao Benfica – e antes disso ainda houve uma zanga que o levou do hóquei em patins para o futebol…
Se não fosse uma zanga no hóquei em patins
talvez Ruben Amorim não estivesse a caminho de Manchester
Antes ainda de Rúben Amorim se aconchegar ao galarim onde já está, sem deixar de reconhecer que havia nele influência de Jorge Jesus (que o treinara no Belenenses e no Benfica), afiançou-o:
– Trabalhei muitos anos com ele, é óbvio que o meu nível de exigência é um bocadinho parecido com o dele mas não serei treinador como ele porque temos feitios diferentes.
A confissão apanhara-se-lhe com 2017 a correr para o fim, meio ano após ter fechado a carreira de futebolista, desdobrando-se, então, entre o curso de Grau I da AFL e uma pós-graduação na Faculdade de Motricidade Humana – mais confidenciando, então:
– Há treinadores que têm uma forma de ver o jogo que eu gosto, como o Guardiola, mas, para mim, a referência é o Mourinho, porque vejo a bola de forma mais parecida com o mister Mourinho, ou seja, analisa muito bem os adversários e mete a sua equipa, não só com um determinado modelo de jogo mas a pensar muito como é que se adapta para ganhar. E eu sou um bocado assim…
Rúben Filipe Marques Diogo Amorim nasceu a 27 de janeiro de 1985 – sendo (tal como Mauro, o irmão) tocado desde pequenino pelo futebol (e pelo Benfica), Virgílio Amorim, o pai, contou-o:
– Levava-os, quase bebés, à Luz, ainda tenho presente a imagem de estarmos a mudar a fralda ao Ruben na bancada.
«Nem os patins levou…»
Logo que Mauro pôde ir jogar futebol para o Alverca, foi – mas o Rúben não: amigo desafiou-o para o hóquei, como guarda-redes do Alverca ainda ganhou torneio internacional em Vila Franca. Tinha o destino marcado – e, por portas travessas (ou talvez não…) lá chegou:
– O Rúben teve um dia menos bom, terá dado um franguito ou dois, e o treinador teve comentário infeliz com ele: «Dormiste pouco esta noite, foste sair?» Ficou muito sentido, nunca mais lá apareceu. Fui eu que tive de ir buscar os patins dele ao pavilhão. O Rúben foi sempre criança adorável, excelente, mas quando metia uma coisa no juízo, não havia forma de lhe dar a volta. Por isso desistiu mesmo do hóquei e, chateado com o treinador, pediu-me para ir treinar às escolinhas do Benfica… (isso também se apanhou a Virgílio Amorim).
Estava a caminho dos oito anos – e bastou um treino para que de Rui Oliveira e António Bastos Lopes, treinadores das escolinhas, se desse o alvitre:
– Temos aqui um pequeno génio!!!
O engano em Alvalade
Incendiou-se-lhe fascínio por João Vieira Pinto – marcando-o a mais famosa vitória do Benfica em Alvalade, na noite dos 6-3…
– Lembro-me de ver cassetes do Milan com Maldini, Baresi, Gullit, Rijkaard, Savicevic… os meus sonhos de miúdo eram jogar no Benfica e no AC Milan.
e, andando pelos 13 anos, Vale e Azevedo mandou fechar as equipas B da formação – Virgílio Amorim recordou-lhe a mágoa (ou talvez pior):
– O Rúben foi um dos dispensados. Chorou baba e ranho, todos os miúdos choraram. Muitos deles acabaram por ir com o Ruben para o CAC da Pontinha, o Miguel Veloso, por exemplo.
Na Luz criara amizade forte com Bruno Simão e, pelo caminho, ainda ambos se aventuraram a Alvalade para um teste. Não chegaram, porém, a treinar, falharam o dia: em vez de ser na terça-feira, como julgaram, era na quinta – e fora um diretor leonino que lhes dera a ideia, ao saber, que o Benfica não os quisera.
O divórcio dos pais levou a que Anabela, a mãe, fosse viver para a Charneca da Caparica – e os filhos também. Ao cabo de duas épocas no CAC da Pontinha, lançou-se ao Ginásio de Corroios, o seu génio arrastou o clube a campeão de Setúbal, no dia da consagração, partiu um braço – e Virgílio tratou de arranjar forma de sentido ao desejo que nunca se lhe apagara: o regresso ao Benfica:
– O José Luís, o Bastos Lopes e o Chalana adoravam o Ruben. Assim que o viram logo uma festa. Tinha dado salto muito grande, crescido bastante, e esses grandes senhores tudo fizeram para que voltasse. O Ruben treinou, no máximo, duas semanas no Benfica. Infelizmente, quem mandava em tudo era o senhor Nené. Embirrava com todos os pais, não houve nenhuma conversa e acabou por ir treinar ao Belenenses, desafiado por um grande amigo». (a revelação soltou-se de Virgílio Amorim).
O grande amigo era Bruno Simão. Estava-se em 2002, não deixou mais de espalhar o seu fulgor pelos relvados. Algures por 2008, o Benfica foi buscá-lo ao Restelo, dando um milhão de euros por ele, tendo, porém, uma outra força a empurrá-lo para lá:
– Assinei pelo Benfica com o coração. Iria ganhar mais num clube alemão que me queria do que alguma vez ganhei no Benfica, mesmo no último ano, em que já tinha renovado e já com algum estatuto. Lembro-me de estar reunido com um empresário alemão, que fazia ligação com o Carlos Gonçalves, que era o meu empresário, e ele só metia as mãos na cabeça, não percebia como é que era possível eu assinar pelo Benfica, que nem me dava metade do que os alemães davam. E isto nem contando com os prémios.
E o resto é o que se sabe – com muito, muito mais fulgor, no banco do que foi o seu esplendor na relva…
PS: E agora também se ficou a saber que o Rúben afinal não é… Rúben, é Ruben (sem acento no registo)…
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«Às voltas da História», crónica de António Simões
(Cronista no Capeia Arraiana)
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