O Beco do Chão Salgado, em Belém, guarda a memória da condenação e execução dos Távoras no dia 13 de janeiro de 1759. Era rei D. José I e secretário de Estado do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, que recebeu o título de Conde de Oeiras a 15 de julho de 1759 e é conhecido na história como Marquês de Pombal (1770).
BECO DO CHÃO SALGADO EM BELÉM (LISBOA)
eu hoje vou contar
um episódio pouco divulgado
que batizou com um nome invulgar
o beco do chão salgado
Dom José gostava de «comer»
fora da cama real
e esse hábito fê-lo sofrer
um atentado quase fatal
o Rei escapou com um ferimento
mas diz-se que o Marquês de Pombal
decidiu aproveitar o momento
para tecer uma cabala monumental
os suspeitos foram encarcerados
e sob suplício grosseiro
confessaram ter sido contratados
pelos Távoras e pelo duque de Aveiro
então numa acusação sem suporte
os réus foram condenados
e sentenciados à morte
sendo os seus brasões «picados»
e dado o suposto envolvimento
do jesuíta confessor da Marquesa
Pombal condenou ao desaparecimento
a Companhia de terra portuguesa
o palácio foi arrasado
e proibido ali construir
e aquele chão foi salgado
para mais nada ali florir
É em Belém que se situa
perto da fábrica dos pastéis
no beco um obelisco perpétua
este acto de contornos tão cruéis
e o [Azar dos Távoras] virou adágio
tornou-se uma expressão popular
quando temos um mau presságio
ou falamos de uma tragédia invulgar
Quiçá envergonhado pelo episódio que traz à memória o «Beco do Chão Salgado», em Belém, permanece acanhado guardando a sua história.
Quase passa despercebido ali ao lado da fábrica dos pastéis de Belém. De facto quem estiver na habitual fila que se forma para adquirir aquele doce tradicional se olhar com atenção descobre umas escadinhas que dão acesso a um pequeno beco onde um obelisco perpétua a história do local.
Ali situava-se o Palácio do Marquês de Aveiro que em consequência do processo que ficou para a história como o «Processo dos Távoras» foi demolido depois dos réus terem sido barbaramente executados e o chão foi salgado à maneira romana para simbolicamente nada mais ali crescer. Foi também dada ordem para naquele local não ser permitido construir, mas logo no reinado de Dona Maria essa determinação foi revertida e hoje um pequenino beco com a sua coluna preserva este facto marcante do reinado de D. José.
A intriga política que deu azo a estes acontecimentos é por demais conhecida e foi merecedora aqui no «Capeia» de uma crónica de Adérito Tavares, em 22 de janeiro de 2011, ninguém sabe ao certo o que se terá passado mas muitos defendem a tese que o Marquês de Pombal aproveitou o atentado à vida do rei para desencadear uma acusação que desmantelou a principal oposição à sua política no seio da nobreza mais importante do Reino.
Termino opinando que o espaço devia a meu ver ter outra atenção de quem de direito, descrevendo aquele incidente do nosso passado colectivo e até uma legenda junto da coluna ficava bem para explicar a história daquele local.
Crónica de Adérito Tavares… [aqui]
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