A emigração naqueles idos de 50-60 não se deu apenas para a França, como muita gente pensa. Não! Já antes dessa vaga – como já escrevi algumas vezes – tinha havido três destinos de alguns poucos emigrantes da aldeia: primeiro, a Argentina (anos 35-40), depois a Alemanha e também Angola.
Repetidamente sinto necessidade de afirmar estas duas vertentes: a minha família teve vários membros que fizeram as suas migrações dentro e fora do País. Um exemplo concreto que pouco refiro por modéstia: o meu pai e nós todos lá de casa, foi feitor numa Quinta do Dr. Salgueiro em Santarém. Ou seja: nós fomos migrantes nesses anos… Mas hoje começamos por Angola (poucos), França (a maioria esmagadora) e Alemanha…
Primeiro ponto
Receio que alguns leitores não meçam bem o peso do que sinto quando falo de epopeia da emigração.
Para mim, foi uma grande, enorme e múltipla «travessia» dos mares da vida dos emigrantes. Sem dúvida, foi duro, agreste e quase desumano, tal como as viagens marítimas.
Mas depois… que bom melhorar a vida, dar melhor vida à família, ter meios para algum prazer na vida… Valorizo muito essa epopeia.
Emigração para a Alemanha e para Angola
Deixaremos a Argentina para a próxima semana. Hoje aqui falaremos da Alemanha e de Angola.
É que, em geral, quando falamos de emigração nas terras onde nascemos, pensamos sobretudo na França. Mas isso não é correcto…
A massa de emigrantes que procuraram a França foi enorme, sem dúvida. Essa debandada massiva deu-se, como sabemos, no início dos anos 60. Saiu mais gente e entrou mais dinheiro vindo dali. Ninguém ignora isso.
Mas cada caso é um caso, e portanto, quando numa família houve outros destinos para os nossos emigrantes… isso ganha também importância e consideramos injusto não o referir.
E isso, por acaso, aconteceu na minha Família:
– um tio paterno por afinidade foi para a Alemanha;
– quatro tios (dois casais) também do meu lado paterno foram para Angola.
Alemanha foi destino eventual
As idas para a Alemanha, ao que conheço, foram muito poucas. Mas o meu tio Martinho não quis ir para a França porque ganhava-se menos e havia mais concorrência do que na Alemanha, pois muita gente foi «a salto» naqueles tempos. E ele optou pela Alemanha. Deu-se bem.
Por lá andou alguns anos. Estabilizou e a sua vida e a da minha tia mudaram radicalmente.
Não foi na aldeia que brilharam muito no sentido de mostrarem que tinham «carcanhol» como tantos outros. Mas sei que passaram a ter uma vida muito boa e que por lá foram ficando todo o tempo que puderam.
Outros foram para Angola
Foram poucas as emigrações para Angola. Mas na minha Família, do lado paterno, houve os quatro casos que já referi.
Os meus tios por lá andaram. Os meus dois primos por lá nasceram. A vida que lá faziam era muito boa.
Havia trabalho qualificado, um dos casais fazia comércio local, tudo de vento em popa.
Mais: um dos meus tios era responsável da energia eléctrica de uma grande Fazenda no Lobito/Benguela, onde a produção principal era a cana-de-açúcar.
Mantiveram-se lá até que com a Revolução de Abril, se tornou insustentável a permanência e vieram, integrados nas ondas de «retornados» que na altura ficaram famosas.
Reorganizaram na aldeia a sua vida como puderam e tudo correu razoavelmente, dada a situação.
E como eles, muitos outros a quem aconteceu o mesmo percalço de vida. A minha solidariedade para com eles foi sempre continuada e tranquila.
:: :: :: :: ::
Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
:: ::
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
:: ::
Leave a Reply