Agustina Bessa-Luís é um marco da cultura portuguesa, mas não só. No próximo dia 23 de Novembro, na União de Escritores Angolanos, a Associação Estudos Interdisciplinares Dra. Irene Guerra Marques (NEIGUM), vai promover um evento da obra «A Sibila» onde, segundo o programa, irá ser feita uma análise exaustiva do livro desta figura marcante da literatura lusófona.
A obra «A Sibila» publicada ainda no tempo da ditadura, precisamente há 70 anos, embora o espaço temporal do enredo seja cerca de um século (1850 e 1950), foca-se no papel de uma mulher, a Quina, e no seu espírito libertador numa sociedade cheia de preconceitos, mas sabendo conquistar o respeito dos demais, inclusivamente a de uma nobre, a Condessa de Monteros.
Numa época em que a mulher estava arredada de participar nas grandes decisões, Quina dada a sua inteligência e determinação, consegue por si o estatuto de «Sibila», ou seja a mulher que prevê o futuro, ou oracular, tal como diziam os gregos.
O enredo deste romance está cheio de simbolismo. Começa numa conversa entre Quina e sua grande amiga Gema, com a referência a uma data na sala que recorda a época em que casa se reconstruiu, após um violento incêndio em 1870 reduzindo-a a escombros. Diz o signatário que só quem não quer não renasce das cinzas! E o texto do livro assim o prova.
A narração ê feita em dois tempos distintos: os antecedentes de Quina, sua infância e juventude e a entrada de Gema, mais nova e que transmite ao leitor a sua visão de Quina, curiosamente apontando as virtudes mas também os defeitos. Esta viragem no livro quebra o mito de que ninguém é perfeito.
Quina, só por si, era uma conquistadora, visionária, acabando por ser muito bem sucedida na vida. Contrariando por completo a ideia de que o mundo pertence aos homens!
Mas a casa, que renasceu das cinzas, no final da vida de Quina, era rica e faustosa. E assim por testamento, após sua morte, deixou a Gema. Aqui o signatário reconhece que algum egocentrismo que Quina possa ter tido, com o cair da idade, sua inteligência provou a essência da bondade.
Voltando ao evento promovido pela Associação Estudos Interdisciplinares Dra. Irene Guerra Marques (NEIGUM) o livro vai ser abordado em algumas temáticas nomeadamente, a condição humana vista através da lente do destino e da liberdade, o poder transformador da solidão e a complexidade do feminino.
De facto, destacam-se estes aspetos, não só pela actualidade, mas também porque na opinião do signatário o livro dá uma perspectiva onde se podem encontrar algumas respostas.
A obra passa-se na zona onde Agustina nasceu e cresceu, ou seja, em Amarante (terra natal da escritora) e a região entre Douro e Minho.
Esta obra recebeu dois prémios: Eça de Queiroz e Delfim de Guimarães. Porém Agustina Bessa-Luis recebeu várias distinções como o prémio Camões, a título póstumo, a Medalha de Mérito Cultural, em 1993, e o Grande Prémio do Romance e Novela, pela Associação Portuguesa de Escritores e a Direcção-geral do Livro e das Bibliotecas.
Em 2022, também a título póstumo, o Governo Francês atribui-lhe o grau de «Officier de l’ Ordre des Arts et des Lettres».
Luanda, 16 de Novembro de 2024
:: ::
«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
:: ::
Leave a Reply