Do kit de pedidos que faço à vida destaco, entre os concedidos, a dádiva de poder observar como quem sente. Só se sente o que se olha, quando a observação arrebata e o engendro inebria.
Parto, assim, para cada crónica, sentindo com emoção e tentando pintar o relato com a cor da minha paixão.
O teor dos cenários pode ser diverso. O décor pode chegar pela janela, pode surgir no exterior e ser visto do carro ou do café. Pode emergir a meio da rua ou noutro sítio qualquer. De onde quer que ele se erga é fundamental que seja sentido.
Quer se trate de uma paisagem próxima ou longínqua, uma personagem, um ambiente, o correr ou o desfecho de uma situação, seja qual for a instigação, o que realmente importa é sentir.
Porém, preso na crença de que alguém poderá vir a ler o que escrevo, dedico ao ensejo todo o empenho, levando em boa conta a ambição de ofertar o desenlace ao leitor.
E, sim, reconheço. Este matutar desenhado a que, volta e meia, regresso, também constitui uma mezinha para alguns dos males da vida. Ideando os esqueço para poder colher de cada dia um poucochinho que seja.
:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
:: ::
Excelente.