As castanhas são um alimento muito apreciado pela população portuguesa, praticamente desde os tempos da nossa nacionalidade…
Se recordarmos a nossa história, é sobretudo na Época dos Descobrimentos, séculos XV e XVI, que este fruto – dado a sua natural conservação prolongada – se torna um dos alimentos de navegadores, tripulação e passageiros.
Nesses idos tempos as encostas da Serra da Gardunha eram um território revestido de muitos castanheiros e a correspondente produção de castanhas enviada para a então capital do império. Aí eram descarregas nos armazéns das Caravelas, pequenas embarcações resistentes, movidas a velas e até a remos, de fácil navegação marítima, as primeiras a dobrar o Cabo da Boa Esperança.
Na região raiana, quando eu era criança, as gentes da Bismula possuíam castanheiros na vizinha freguesia de Vale das Éguas, com a curiosidade de que os terrenos onde estavam plantados pertenciam a outros donos. Diziam que os proprietários com dificuldades económicas vendiam os castanheiros, mas nunca o terreno onde semeavam centeio. Ali fazíamos a safra, a chamada apanha durante duas, três semanas, nos finais de Outubro e em Novembro.
Infelizmente os fogos destruíram essas pequenas plantações, onde agora cresce mato e na região raiana restam alguns castanheiros nos Fóios, Sabugal, Vale de Espinho, Soito…
Naquela época, nos lares dos nossos pais, as castanhas eram consumidas de três formas: cozidas, assadas e raramente cruas, porque era preciso dentição. Para consumo durante o ano deixavam-se alguns quilos que num processo natural ficavam secas, as chamadas «castanhas piladas». Actualmente as castanhas entram em muitas ementas da restauração portuguesa em muitas localidades.
Além dos locais da região raiana que já citei, há castanheiros na zona do Marvão, Trancoso e com muita abundância na província de Trás-os-Montes, salientando-se três variedades: a judia, a martaínha e a longal.
A variedade judia está muito centralizada no concelho de Valpaços, gentes que a consideram a melhor castanha do mundo, porque tem um calibre excelente, um brilho intenso e um sabor muito agradável. É consumida fresca, mas tem qualidades para ser transformada em outros produtos, sendo usada no fabrico de doces ou nas farinhas. A maior mancha de castanheiros desta produção centraliza-se perto da Serra da Padrela.
A martaínha é uma castanha produzida em Trancoso, o concelho que está em quinto lugar na produção deste fruto, com grande peso na economia local. Esta produção estende-se a diversos concelhos limítrofes localizados a norte.
É uma variedade mais precoce do que a judia e longal, com uma forma achatada, que lhe permite ter a classificação de marron, com calibre médio grande.
A produção da longal estende-se por todos os espaços do território nacional onde existem as outras duas variedades.
Há muitos anos atrás os castanheiros davam-nos as castanhas sem problemas de aplicação de produtos fitofarmacêuticos. Nos tempos actuais, estas frutas são acometidas com doenças como a podridão negra e outras pragas, muitas causadas pelo impacto devastador das alterações climáticas.
Quando escrevo este texto inicia-se a faina da apanha da castanha por diversas regiões de Portugal. Muitas seguirão viagem para os países da Europa, Brasil, Estados Unidos, Canadá…. Cá vamos saboreá-las em muitos magustos organizados pelas juntas de freguesia, instituições oficiais e de solidariedade social particular, escolas, convívios familiares e sociais.
Não posso deixar de transcrever um poema «Castanhas», inserido no seu último livro «Rudimentos», da autoria do médico António Lourenço Marques, natural do Souto da Casa, a Terra da Rama do Castanheiro:
Quentes e boas… Que graça!
Chamam-lhe o pão dos pobres,
Pancadas secas ou fomes.
Ainda há. Passam nobres…
Vivemos nos nossos territórios geográficos o mês das castanhas, um dos frutos outonais por excelência, consumidos no património gastronómico deste País, nas suas espécies, longal, martaínha e judia. Também comercializadas em feiras e mercados, recordadas em simpósios, palestras, conferencias, galas, festivais, confrarias, encontros, magustos familiares, sociais, instituições…
Quem não tem saudades de participar em tantos destes convívios, saboreando umas castanhas assadas acompanhadas com uns copinhos de jeropiga? Eu tenho muitas, principalmente nos magustos anuais da Catequese da Paróquia da Bismula (Sabugal) e dos Escuteiros da Aldeia de Joanes (Fundão), quando nos enfarruscávamos uns aos outros à grande e à francesa e saltávamos as fogueiras.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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