Muito já foi dito sobre a eleição de Donald Trump e, até à sua tomada de posse, a 20 de Janeiro, não faltarão comentários, palpites, especulações, até mesmo aqui neste jornal, sobre o que o 47.º Presidente dos Estados Unidos irá fazer.
No princípio deste ano, já tinha feito um artigo sobre as eventuais consequências da eleição de Donald Trump com título: «Se Donald Trump regressar.» Agora eleito, gostaria também de abordar o assunto, sobretudo no domínio da política internacional.
Como se sabe, o mundo enfrenta conflitos bélicos na Ucrânia, no médio Oriente, assim como na Síria, no Líbano e no Iémen. Para as tensões entre Israel e a Palestina não se vêm soluções à vista. E a União Europeia tem tomado posições, por vezes, em desfavor dos seus próprios interesses.
Relativamente à guerra da Ucrânia, Donald Trump adoptou sempre uma posição muito ambígua. Conservou uma relação quase amistosa com Vladimir Putin, e pode-se quase dizer que nunca levou a sério a agressão militar russa.
Irá agora negociar com a Rússia para pôr fim à escalada militar, preferindo uma solução diplomática para pôr fim ao conflito, contrariamente a uma posição mais agressiva e mais firme de apoio à Ucrânia da parte dos líderes europeus?
Relativamente ao Médio Oriente, é possível que Donald Trump continue com uma política agressiva em relação ao Irão, como foi na anterior presidência, intensificando as sanções contra este país e cativando outros países árabes para alargarem e aprofundarem os Acordos de Abraão. É provável que não lhe interesse a continuação da presença militar em países como a Síria e o Iraque, incentivando Israel e alguns estados do Golfo a prosseguirem uma acção mais focada no combate ao terrorismo presente na região.
Quanto à ambição nuclear iraniana, é muito provável que seja brevemente gerida em coordenação com Israel.
Não estamos livres de Trump adoptar uma atitude errática em relação aos jazigos de petróleo do Irão que se traduziria na autorização de um ataque efectuado por Israel. As consequências seriam desastrosas para a Europa que teria de pagar o petróleo a preços de três a quatro vezes mais elevado, o que seria uma grande catástrofe económica.
No que diz respeito à sua acção para com a União Europeia, vai, certamente, ser muito diferente da de Joe Biden que tem procurado reforçar os laços com a União Europeia. Donald Trump tem preferindo soluções bilaterais e unilaterais, estabelecendo assim muitas incertezas e desigualdades na abordagem dos problemas, já que a União Europeia prefere o multilateríssimo e a acção diplomática para resolver os desafios que vai enfrentando.
Se Donald Trump reduzir o seu apoio militar à Ucrânia, a União Europeia será forçada a aumentar o esforço de ajuda, o que está já a resfriar alguns países que irão diminuir a sua contribuição.
Quanto à concretização da sua política de imigração, sobretudo a da expulsão de milhões de estrangeiros, que constituiu um cavalo de batalha da sua campanha eleitoral, muitos autores são de opinião que será difícil de concretizar. Estes imigrantes constituem uma mão de obra bem necessária à economia americana, sobretudo para fazer trabalhos difíceis e a baixos preços. Será difícil e polémico colocá-los em parques à espera de serem deportados. Além disso, é sempre necessário o acordo dos países para os quais têm de ser expulsos, o que requer o acordo dos mesmos. Foi talvez um slogan eleitoral que fez ganhar muitos votos a Donald Trump, mas a sua execução vai comportar uma tal despesa que o outro slogan «America first» impedirá de o concretizar, mesmo idealizada pelo 47.º presidente dos Estados Unidos.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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