:: 1994 :: :: Em Março uma visita aos Parques Naturais do Alvão e de Montesinho e regresso pelo Parque Biológico de Gaia. Antes uma passagem pelas ruínas romanas de Mérida com colegas e alunos de Humanísticas. Em junho foi tempo de «andar» pelas terras da Gardunha e de Alpedrinha e nas férias de Verão o regresso… sete anos depois a Vale de Espinho, à Serra da Malcata, a Alberca e à Peña de Francia. E por fim um vídeo nostálgico de Vale de Espinho em 94….
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1994
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26.03.1994 – Nos Parques Naturais do Alvão e de Montesinho… com um «desvio» a Mérida
Nas, infelizmente, contínuas mudanças curriculares do Ensino, a disciplina de Ecologia desapareceu do Secundário e a componente geológica voltou a surgir, numa disciplina com o bonito nome de Ciências da Terra e da Vida.
Em 1994, leccionava duas turmas daquela disciplina. Numa delas um dos alunos era sobrinho da minha mulher. A integração da geologia e as noções de geodinâmica deram o mote para conhecer, como actividade de campo, paisagens de caos graníticos, de vales glaciários. E assim surge pela primeira vez a ideia do Parque Natural do Alvão como potencial objectivo de «aventuras» com alunos, podendo sempre associá-lo ao Gerês ou a Montesinho.
Programa-se assim para Março de 1994 uma visita aos Parques Naturais do Alvão e de Montesinho. Dado que não conhecia o Alvão, antes de levar os alunos entendi fazer o reconhecimento prévio do que lhes ia mostrar, pelo que em 11 de Fevereiro partia com a família para três dias no Alvão, com «base» em Vila Real, para preparação daquela visita. A aldeia de Lamas de Olo, as Fisgas de Ermelo, a serra do Alvão em geral… passaram desde logo a fazer parte da minha lista de espaços naturais a recomendar, dar a conhecer, partilhar.
Nesses dias de Fevereiro, grande parte da serra estava aliás debaixo de neve, testemunhando espaços, gentes e vivências perdidas no tempo e calejadas pela labuta tradicional.
No regresso destes três dias, fomos também conhecer o Parque Biológico de Gaia, excelente local para dar a conhecer aos alunos espécies emblemáticas da nossa fauna e flora, para além de aspectos ligados à desejável harmonia do Homem com a Natureza.
Mas antes da visita ao Alvão e Montesinho com alunos, no início de Março acompanhei colegas e turmas da área de humanísticas numa visita às ruínas romanas de Mérida. Curiosamente, destas turmas de humanísticas e das minhas turmas de ciências, havia de vir a formar-se um grupo interdisciplinar que, nos anos seguintes se iria «aventurar» nos Pirenéus e nas ilhas atlânticas dos Açores!
Para além da visita e dos conhecimentos transmitidos e adquiridos, esta excursão a Mérida ficaria também nas memórias por alguns «acontecimentos insólitos»: acampados no parque de campismo local, o pessoal acorda de manhã sem saber dos ténis ou botas que havia deixado junto à entrada das tendas.
Mas, começando a olhar em redor apercebemo-nos de umas estranhas árvores que tinham por «frutos»… ténis pendurados! Quem havia sido? Bem… o motorista do autocarro! O mesmo que inicialmente, de vassoura em punho, limpava os pés ao pessoal antes de entrar no autocarro…! É também neste parque de campismo que se assiste, talvez pela única vez na vida, à tentativa de um professor de Literatura e grande amigo de prender a atenção de um gato para a poesia que ele pacientemente lhe lia! Bem e tudo isto depois de, na tenda dos professores, termos ficado os quatro, até altas horas da noite, a filosofar à volta do fio que nos conduz, da probabilidade da origem e evolução da matéria por uma sucessão de acasos, da inteligência do universo ou daquilo que se lhe queira chamar ou crer.
E, a 23 de Março, os meus alunos de Ciências da Terra e da Vida partem então para a visita ao Alvão e Montesinho. Os meus dois filhos, já ambos alunos da Escola, embora não daquelas turmas, acompanham-nos nessa qualidade, a única que sempre tiveram no que respeita à escola: alunos.
O primeiro dia foi dedicado à zona de Ermelo, no Parque do Alvão, incluindo um pequeno percurso a pé entre as cascatas das Fisgas de Ermelo e a ponte romana do Rio Olo onde houve lugar a banhos naquelas águas límpidas mas gélidas.
Em Vila Real, alojámo-nos na Pousada de Juventude, para no dia seguinte partir «à descoberta» do caos granítico de Muas e da aldeia de Lamas de Olo. Para a maioria dos alunos – que haviam de ser meus durante três anos seguidos – era mais uma vez a descoberta do mundo rural, de um mundo completamente diferente daquele que conheciam e em que cresceram. Em 94, o velho aqueduto de Lamas de Olo ainda levava a água ao seu moinho…
Depois, foi uma tarde de viagem, entre o Alvão e Montesinho. Pela segunda vez, íamos ficar na Casa da Lama Grande, «perdida» na imensidão da serra, quase na raia espanhola. E o terceiro dia começaria por uma «aventura» a cavalo, no Centro hípico da aldeia de França. Acompanhados por uma guia do Parque Natural, seguiu-se um percurso ao longo do vale do alto Sabor, no seio de carvalhais ainda quase únicos na Europa.
À semelhança de 1990 a posta mirandesa de Gimonde fez as delícias ao almoço…! E à tarde seguiu-se Rio de Onor. Desta vez com guia, pudemos assim inclusivamente conversar com duas simpáticas aldeãs, ouvindo um pouquinho do seu Rio-de-Onorês e aprender a fazer meia.
O fim de tarde foi dedicado ao Castelo e Domus de Bragança e a última noite na Lama Grande ficaria memorável. Desde uma caminhada nocturna até à raia espanhola aos cantares ao desafio, houve de tudo um pouco até mesmo uma sessão de… «levitação»!
A manhã do último dia foi para pôr os sonos em dia! Entre Montesinho e o Porto, o autocarro mais parecia uma camarata ambulante! Mas ainda havia uma visita, pelo caminho, ao Parque Biológico de Gaia, onde aliás almoçámos. E assim, ao longo de quatro dias, se juntou mais uma vez juventude, alegria de viver, vivências e aprendizagens, numa escola muito para além das matérias e das paredes da Escola.
«Estes foram, sem dúvida, os melhores dias da minha vida!»
(Ana Patrícia Santos, 10.º ano, visita aos Parques Naturais de Alvão e Montesinho, Março de 1994)
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10.06.1994 – Por terras da Gardunha com regresso a… Vale de Espinho!
Em Março do ano anterior, tínhamos almoçado na sempre simpática vila de Alpedrinha, terra adoptiva de um dos professores da «equipa» que levou os alunos à Serra da Estrela. Em Junho de 1994, aproveitando o feriado de dia 10, o homem da poesia e da literatura proporcionou ao resto da «equipa» quatro espectaculares dias em Alpedrinha e na Serra da Gardunha.
Éramos três casais e filhos, instalados na vetusta casa de pedra da família Boavida, no centro da vetusta vila de Alpedrinha. A piscina, a velha vinha, e, claro, a Serra da Gardunha, preencheram o feriado. Pelo Fundão e Alcongosta, subimos de carro à casa florestal e à Penha. Não os consegui cativar para uma jornada pedestre.
No sábado, o destino foram as terras de Idanha, bem como o «pog de Monsanto»; e no domingo, 12 de Junho, tinha de ser o regresso.
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29.07.1994 – Vale de Espinho e a Serra da Malcata
A 29 de Julho estava a partir para férias. Passados uns tempos, nem nós próprios acreditávamos: seria possível que há sete anos que não íamos a Vale de Espinho?! Como tinha sido possível? Mais ainda do que naquela época, hoje parece-me impensável que tivessem passado sete anos sem ir à «minha terra», à «minha» Vale de Espinho, à «minha» Malcata, aos «meus» campos e lameiros. A terra já havia levado o velho Zé Joaquim Malhadas, pai de meu sogro, bem como as duas avós da minha arraiana, as velhas «ti Guta» e a «ti Maria Clementa». Mas principalmente o ramo familiar emigrado em Tours continuava a ter lá casa uma das quais tinha sido e iria continuar a ser o nosso «poiso».
E de Vale de Espinho partimos um dia à descoberta das Serras da Gata e da Penha de França, atravessando a região de Alberca e de Las Hurdes. Las Hurdes, onde Luís Buñuel encontraria em 1933 a matéria-prima para as suas idéias cinematográficas. As lentes da câmara captam de maneira crua a vida miserável dos hurdanos, os seus costumes e tradições, as doenças, as migrações, a precariedade da agricultura, a distância que os habitantes precisam percorrer para levar os seus mortos ao cemitério mais próximo; um lugar esquecido, retratado no célebre documentário «Las Hurdes, tierra sin pan».
É também pela primeira vez que, a partir de Vale de Espinho, nos embrenhamos a sério no paraíso da Malcata. A partir da velha estrada da carreira de tiro da Meimoa, chegamos às margens da barragem, passamos o Meimão, subimos ao Alto da Machoca e… maravilhamo-nos com a paisagem a perder de vista da Serra da Estrela às Mesas, com o vale do Côa aos pés… Aquelas eram efectivamente as «minhas terras»!
Mas as férias prosseguiriam a sul com uma volta pelas praias do Sudoeste Alentejano fez-nos recordar a excursão com alunos. E, no fim… Santa Cruz uma vez mais e… mais uma vez uma ida às Berlengas.
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«Por fragas e pragas…», crónica e fotos (copyright) de José Carlos Callixto
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana)
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