Esta quinta-feira, 31 de outubro, já estava escuro, era um pouco tarde, e tocaram à campainha da minha casa. Demorei e hesitei em abrir a porta. Desconfiado, perguntei quem era. Ao abri-la, constatei tratar-se de um grupo de jovens vestidos de bruxas, esqueletos, caveiras, guiados por abóboras amarelas com lâmpadas no interior que lembravam rostos desfigurados e de morte para nos meterem medo. Pediam guloseimas e o vizinho lá os despachou com um não sei quê de gulodices, o que evitou de lhas dar também.
Festejavam o Halloween, a mascarada comercial americana de origem celta, cujo significado era para celebrar a passagem do mundo la luz para o da sombra que se aproxima com o Inverno, e que já chegou quase a todo o lado.
Devo dizer que eu prefiro a Festa de Todos os Santos e a dos Fiéis Defuntos, que se festejam uma a seguir à outra. A Festa de todos os Santos já quase foi esquecida, mas, na minha aldeia, os afilhados não pretendem esquecer que é neste dia que recebem um bolo de farinha de trigo, espalmado, saboroso, fofinho, untado e azeite que os padrinhos lhes oferecem. O dia dos Santos era também a festa das castanhas, dos magustos que se realizavam no campo, acendendo o lume com as folhas secas das árvores que caíam no começo do Outono.
A festa de Halloween pretendeu esquecer a dos fiéis defuntos e a romagem aos cemitérios para recordarmos os nossos entes queridos e florirmos as suas campas com crisântemos e as melhores flores que há ainda nesta época do ano.
Guardei sempre uma grande ternura pelos cemitérios. Ela acentuou-se mais após ter visitado o da minha aldeia com o meu neto que foi, certamente, a primeira vez que via um cemitério. Foi um momento ternurento. Estávamos sós, e com o privilégio de ter um avô, pôde perguntar-me o que é morrer, onde estão os mortos, para onde vão, ao qual ia respondendo como podia. Pude falar-lhe de cada um que conhecia pela foto colocada na sepultura e isso foi o mais importante para ele.
Foi, sobretudo, em frente da tomba dos meus pais que mais perguntas me fez. Mesmo em silêncio, o meu neto percebeu o amor que eu tinha para com eles, as recordações que lhe pude transmitir. Percebeu também que, embora ausentes, eles continuavam na minha memória e no meu coração.
No final, ele próprio foi colher duas flores numa campa ao lado e colocou-as sobre a laje de granito preto, como sinal do seu amor, pois talvez tenha ali mesmo percebido que o avô também teve pais que o amaram, da mesma maneira como os seus o amam.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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