Um grupo de Amigos de Castelo Branco de diversas profissões e alguns já reformados, tem vindo a realizar visitas culturais por terras da Beira Baixa, com maior centralidade no norte da Gardunha. Já percorreram a Rota do Queijo – Peraboa, (Museu) Três Povos/Salgueiro, (Casa da Pastorícia), Soalheira, Aldeias do Xisto, Lavacolhos, (Terra), Telhado, (Terras do Barro), Fundão, Covilhã, (Museu dos Lanifícios) e Donas (Casa das Memórias de António Guterres)…
Desta vez escolheu-se a freguesia do Souto da Casa numa visita ao Museu de Arte Sacra, na recuperada Capela de São Gonçalo, Casa dos Ofícios e a Biblioteca do Médico António Lourenço Marques.
Esta Capela foi da devoção do Espírito Santo, passou para a de São Francisco, graças à existência de uma grande devoção franciscana, e mais tarde passou a designar-se de São Gonçalo, como testemunham as imagens daqueles dois santos no altar mor.
Somos recebidos na Junta de Freguesia pela sua presidente Maria das Dores Ladeira Filipe Figueira, que há quinze anos exerce aquele cargo.
Sobre a temática dos Ofícios e Profissões no Souto da Casa, esclarece que se pretende a sua reactivação, que passe das gerações antepassadas para as gerações presentes e futuras.
A freguesia do Souto da Casa dispõe de Casas-Museus, da tecedeira, ferreiro, sapateiro, latoeiro, carpinteiro, casa do ganhão e azenha da figueira.
Também esta Freguesia está ligada ao Fado através dos avós paternos de Amália Rodrigues, que residiram numa casa situada na Rua Abade do Souto da Casa. Nesta residência, Celeste Rodrigues, a Irmã de Amália, ouvindo a sonoridade das águas da ribeira que ali passa, inspirou-se para a canção «Águas da Gardunha».
Bruno Jorge Baptista da Fonseca, guia turístico e apoiante nas diversas actividades, informa que têm sido muitas as pessoas que ali se deslocam para workshops: do pão, do ferreiro, da tecelagem, da moagem…
As Casas dos Ofícios integram a Rede das Casas e Lugares do Sentir do concelho do Fundão. A Rede foi criada pelo Município do Fundão, com o apoio das Freguesias e outros parceiros, sendo um projecto intermunicipal. As dos Souto da Casa têm o selo da Unesco e fazem parte do Património Imaterial da Humanidade.
A componente das visitas guiadas procura uma imersão nas vivências da aldeia, a oferta de experiências, onde o visitante contacta com os materiais e experiência dos ofícios. É importante e interessante salientar que são recebidos alunos de diversas escolas, que contribui indiscutivelmente com as suas actividades para consolidar conhecimentos através de praticas pedagógicas e educativa, a fim de preservar tradições e modos de produção artesanal.
Acompanhados pela Presidente da Junta e o Bruno Fonseca, inicia-se a caminhada pelas ruas do Souto da Casa. A primeira visita decorre numa casa de xisto onde estão instaladas no rés-do chão, a oficina de latoaria, e é explicada a arte de fazer utensílios de utilidade doméstica, de uso agrícola… No andar superior, a original oficina de tecelagem, onde outrora «havia treze tecedeiras, actualmente ainda há quatro».
Na carpintaria e sapataria observam-se ferramentas com muitos anos de utilização. Na casa do ferreiro, uma típica casa da ruralidade do Souto da Casa, são explicadas as técnicas de fabrico do material agrícola, como enxadas, foices…. É-nos apresentado um grande osso que ninguém conhecia a sua função. Somos esclarecidos… «é para afiar as foices».
Encontramos muitas ferramentas de ferreiro, oferta da extinta oficina de Virgílio Pedro Fernandes e seu irmão. Chama-nos a atenção um fole com duzentos anos, fabricado na cidade de Sheffield em Inglaterra.
Pedro Silveira, dinamizador cultural do Município do Fundão, afirma: «Estamos numa aldeia de gente lutadora, com garra, defensora dos seus ideais, com uma grande marca ligada aos ofícios diversificados. Aqui nasceu a ideia da ramificação dos roteiros do Concelho do Fundão. Não são só espaços físicos, mas também espaços humanos, porque preservam as casas, os utensílios, as peças… Este é um mérito destas gentes que ficam para memória futura.»
A tarde foi ocupada com uma visita à Biblioteca, que se aproxima dos vinte mil livros, do médico António Lourenço Marques. Os livros estão muito bem arrumados, catalogadas por letras do alfabeto e arquivados com fotos da capa e contracapa através de uma aplicação informática. As obras abrangem temáticas de Medicina e da sua História, Literatura de autores nacionais e internacionais, Arte, Filosofia, História nacional e internacional, Religião, Política, entre outros assuntos. António Lourenço Marques fala-nos dos seus livros e ressalta a qualquer ouvinte a sua paixão.
O Dr. Paulo Samuel, filósofo, professor universitário, conferencista, organizador de uma Exposição bibliográfica e iconográfica da Comemoração do V Centenário do Nascimento de Camões na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, diz-nos: «É a primeira vez que venho ao Souto da Casa e fiquei muito impressionado pelo cuidado e interesse em reconstituir estes espaços oficinais tradicionais. As novas gerações irão receber esses conhecimentos, que constituem uma memória identitária do lugar.»
Nas minhas mãos tenho além de obras de grande interesse histórico, a primeira edição de «A Manhã Submersa» de Virgílio Ferreira, natural e sepultado em campa rasa em Melo (Gouveia), a Aldeia Literária onde acaba de ser inaugurada «Casa Vergílio Ferreira – Para Sempre».
As horas passam sem se dar conta e aproxima-se o fim do dia. Em todos os rostos há a alegria e a felicidade pelos momentos culturais vividos no Souto da Casa. Para esta realidade contou-se com a colaboração, a gentileza, o bem receber, o acolhimento e a transmissão das vivências do povo da rama do castanheiro, através da Maria das Dores Ladeira, Presidente da Junta da Freguesia, do Médico Lourenço Marques, do guia turístico Bruno Jorge Batista da Fonseca e Pedro Silveira.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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Muito interessante este Roteiro Cultural.
A página do Pelouro da Cultura no site (Internet) deverá divulgar os horários de abertura e fecho corretos de modo aos visitantes não encontrem os espaços fechados. Já me aconteceu com frustrada visita ao picadeiro real em Alpedrinha.