A mente, o mais importante para sentir felicidade, faz-nos compreender factos e crenças numa boa qualidade de vida, mesmo em ambiente adverso. Obviamente que temos de estar tranquilos e aguentar calmamente as contrariedades, ou constrangimentos (como agora se diz) e pensar na melhor solução.
Na verdade, tenho feito um esforço para seguir esta conduta. E se procurarmos e analisarmos o que dentro de uma eventual negatividade que nos rodeia, o fado português até nos torna mais fortes.
Num deserto humano, se pesquisarmos bem o que encontramos no caminho da vida, há sempre algo que nos desperta emoção positiva.
Acho inexplicável numa altura que queria «atirar a toalha ao chão», compromisso que toda a gente (portugueses e angolanos) assumiu convictamente que não iria acontecer, surge a oportunidade de fazer voluntariado num hospital, e, facto ainda mais inacreditável ser novamente convidado para integrar uma associação cristã da qual fiz parte. Neste último caso, dada a instabilidade emocional que vivi, achei por bem sair porque não queria criar embaraços inapropriados a gente de bem e que faz pelo bem.
Depois, pensando estar no esquecimento de pessoas amigas em Luanda, que me deram muito apoio no princípio desta minha longa estadia, recebo um convite de uma prestigiada fundação, semelhante à Fundação Calouste Gulbenkian, só que vocacionada para a Arte e Cultura, dar uma palestra sobre a minha pequena vida de escritor e quase poeta, querendo ainda que desse uma entrevista na Rádio Cultura sediada no Centro de Formação de Jornalistas, em Luanda.
Por isso, a Fé move montanhas e quando menos esperamos, mesmo perdidos num deserto, surgem pequenas coisas que nos confortam e estimulam para continuar este caminho que, sinceramente, não sei quando termina.
É claro que o retorno a Luanda para dar o melhor de mim, sentindo-me ainda cauteloso nos passos que dou. Mas devo esta honra (talvez o ponto mis alto da minha vida cultural) à co-autora do livro que se lançou, em Fevereiro de 2021, e que, Graças a Deus tem conseguido evoluir muito bem na sua carreia ligada à cultura, focada essencialmente na promoção da mulher africana que gosta da escrita, da arte e da filosofia. A Isabel Sango, ainda com 27 anos, já pertence aos quadros de uma prestigiada associação, a NEIGUM, ou seja, Núcleo de Estudos Interdisciplinares Dra. Irene Guerra Marques que trabalha em parceria com a União dos Escritores Angolanos.
Escrever era algo que estava a «morrer» no meu subconsciente. Agarrei-me à literatura escrita em inglês, mas o facto é que cada vez mais me ia afastando das minhas origens e, a dada altura, para além do isolamento, a ausência de convívio subitamente desapareceu criando-me sérios problemas emocionais.
Por isso, quando tivemos um passado recente muito conturbado com factos inexplicáveis em democracia, a decisão de me exilar num outro país, como no tempo da ditadura, acabou por ser uma decisão acertada pese embora sinta muita falta da minha família e de muitos amigos que sempre estiveram ao meu lado.
Por isso cá estou. E Graças a Deus, sim repito Graças a Deus, nada é por mero acaso, embora tivesse de fazer, ao longo destes cinco anos, muitas alterações na minha personalidade, nomeadamente em comportamentos egocentristas, protagonistas e materialistas.
Se a mente nos controla é porque, talvez, Deus assim o queira. E se aprendermos na verdade o conceito de Fé, ainda muito mal explicado, conseguimos vencer barreiras que julgamos impossíveis. Tudo está na nossa força de vontade e na Fé em acreditarmos que o amanhã existe mesmo que cheio de contrariedades.
Basta estar preparado para as ultrapassar… Tal como aconteceu esta última semana.
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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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