No Fundão e aldeia limítrofes, Aldeia Nova do Cabo, Aldeia de Joanes, Alpedrinha, Castelo Novo, Soalheira, há muitos anos que as populações têm manifestado um perene culto a São Francisco de Assis, possivelmente pela presença na Idade Média dessa instituição.
Na cidade do Fundão, segundo dados recolhidos por António Salvado Dias, que a saudosa esposa «arrastou para esta causa», a fundação da Ordem Terceira Franciscana deve a sua fundação a D. Helena Trigueiros (presidente), António Joaquim Geada Pinto (vice-presidente), Maria Fernanda Vaz Dias (secretária) e António Albano Frade (tesoureiro). Mais tarde aquela associação mudou o nome para Ordem Franciscana Secular. Durante mais de cinquenta anos, foram eleitas diversas direcções, com elevado número de filiados, «que se deve aos activistas, militantes, José Ribeiro, Francisco Moreira, enfermeira Lurdes Soares, Maria Fernandes Vaz Dias e António Dias».
A enfermeira Maria do Céu Antunes foi um dos primeiros elementos das Irmãs Seculares da Ordem Terceira do Fundão, fala das vivências da associação, seguindo a mensagem de Francisco Assis: ajudar os mais pobres, necessitados; colaboração na comunidade paroquial, no grupo musical sacra, mas lamenta que o número tenha diminuído, presentemente apenas com dez elementos activos.
Todo o futuro candidato tem de fazer formação, frequência nos sacramentos, cerimónias litúrgicas e participar em reuniões, a fim de fazer a promessa. Nos tempos que se vivem não é fácil encontrar candidatos.
Pertencem à região centro, «infelizmente estamos muito isolados», têm a sede na Casa da Catequese da Paróquia, mas têm de sair por motivos de obras para a Capela de São Francisco, recebem o jornal franciscano «Caminhos de Assis», e participam em reuniões em Coimbra, Aveiro e Leiria. Organizam anualmente a peregrinação a Fátima no primeiro fim de semana de Outubro.
Este ano a Peregrinação da Família Franciscana Portuguesa decorreu nos dias 5 e 6 de Outubro, sob o tema «Dar Feridas à Vida Nova», recordando os 800 Anos desde que Francisco de Assis, no Monte Arverne, num momento da contemplação da Paixão, foi milagrosamente favorecido com a impressão no seu corpo das Chagas de Jesus Cristo.
No Centro Pastoral Paulo VI decorreu uma cerimónia em que foi recordado aquele acontecimento: «800 Anos – Estigmas de São Francisco a Celebrar a Fé com Alegria e Sacrifício.»
Na Igreja da Santíssima Trindade celebrou-se a Eucaristia, presidida pelo Patriarca Emérito, D. Manuel Clemente, que o mestre de cerimónias considerou um grande amigo dos Franciscanos.
Já não se viram as centenas de bandeiras da Família Franciscana vindas de todas as partes do país. Apenas estavam nove, que foram empurradas para as duas partes do altar. Na Eucaristia apenas estavam quatro. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…
O Cardeal, com palavras cansadas, arrastadas, repetidas, afirmou: «As coisas não estão agradáveis no mundo. No Sínodo de Roma é um assunto presente. Deus conta connosco, pelo menos com a oração. Não fiquemos tristes por não sermos muitos. No tempo de Francisco também eram poucochinhos.»
Salvou a honra do convento a brilhante homília do Reitor do Santuário de Fátima, Padre Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas…
«São Francisco de Assis compreendeu os humildes, os pobres, os fracos, as crianças. À imagem de São Francisco devemos ser sempre instrumentos de paz e amor.»
A este propósito cito uma passagem da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco: «São Francisco de Assis escutou a voz de Deus, escutou a voz dos pobres, escutou a voz dos enfermos, escutou a voz da natureza. E transformou tudo isto num estilo de vida. Desejo que a semente de São Francisco cresça em tantos corações.»
No roteiro desta peregrinação franciscana, não deixo de destacar a inserção de poemas de Frei Agostinho da Cruz, José Régio, Almeida Garrett, Correia de Oliveira, Gomes Leal, Diogo Bernardes e Camões, sob a temática «Orações e Cânticos das Chagas de Cristo».
Meditemos nas palavras de Francisco de Assis: «Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e em breve estará a fazer o impossível.»
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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