:: 1991 :: :: Nova «geração de alunos» tinha-se estreado, em Dezembro, nas «andanças» e «aventuras» do Clube «Amigos da Natureza», na Tapada de Mafra. Gente muito novinha, basicamente de sétimos e oitavos anos sem grandes «percalços» escolares, falar-lhes em quatro dias no Gerês… era falar-lhes numa história em que dificilmente imaginavam poder participar…
:: :: :: :: ::
1991
:: :: :: :: ::
19.03.1991 – Do Gerês à Costa Vicentina…
No dia 19 de Março, dia do pai, juntamente com a já habitual «equipa de professores» lá fizemos de pais e mães de mais um «grupo expedicionário» às terras do Gerês! Pela sexta vez…!
O circuito escolhido não podia ser muito diferente do já tantas vezes realizado com outros grupos. Mas desta vez começámos pela zona das Caldas do Gerês, alojando-nos, mais uma vez, nas camaratas do Vidoeiro, cujo salão foi, também mais uma vez, ponto de encontro de cantorias e de divertimentos.
A Barragem de Vilarinho da Furna, o percurso da geira romana, os marcos miliários, tudo fez as delícias dos muitos que pouco mais conheciam do que o perímetro casa-escola. O almoço foi nas piscinas naturais do rio Homem… e até houve aventureiros que mergulharam naquelas águas geladas e verde-azuladas.
O autocarro do Parque Nacional foi-nos buscar à Portela do Homem. Contei-lhes a história de que anteriores grupos de alunos não tiveram transporte tão cómodo! Seguiu-se a Pedra Bela e a Cascata do Arado. A processionária do pinheiro chamou-lhes a atenção e… deu o mote a uma «aula» sobre parasitas e infestantes.
E depois de um jantar na vila do Gerês, o serão foi à chama da fogueira no cruzamento do Vidoeiro. Por entre anedotas e cantigas… aprende-se a localizar estrelas e constelações, fala-se da velocidade da luz, da viagem no tempo que é a simples contemplação do céu estrelado.
E o dia seguinte, 21 de Março, era Dia da Árvore. Mas, a caminho de Pitões das Júnias, o céu cinzento ameaçava chuva… ou neve! Visitámos Tourém… e no regresso ao Planalto da Mourela a neve começou a cair. Que festa para todos!
Almoçados na nossa boa amiga senhora Maria, as ruínas do Mosteiro de Pitões receberam o grupo… debaixo de uma mistura de chuva e neve e de muito nevoeiro. O regresso foi assim antecipado, a deslocação à cascata tornava-se perigosa naquelas condições. E foi assim ao calor da lareira da «Casa do Preto» que passámos o fim de tarde e noite, ouvindo histórias perdidas no tempo, contando também àquela jovem gente a «aventura» da travessia da serra, feita dois anos antes com colegas deles. Mas o serão à lareira ainda proporcionou uma experiência de concentração e de «transmissão de energias», conduzida por uma aluna brasileira supostamente com essa capacidade. Outros, também artistas, deixaram o emblema dos «Amigos da Natureza» desenhado a canivete no madeiro da lareira da senhora Maria. O emblema perdurou ali durante largos anos, até à transformação da lareira e à substituição do madeiro. E no dia seguinte… era o regresso.
:: :: :: :: ::
:: :: :: :: ::
28.05.1991 – Pouco mais de dois meses depois acompanhei uma actividade organizada pelo grupo de História da Escola, num passeio de bote fragateiro, no Tejo, seguido de visita aos moinhos de maré de Corroios e ao EcoMuseu do Seixal. Estando a componente natural e ecológica incluída… eu tinha de estar lá! E dois dias depois estava a levar o Clube «Amigos da Natureza» para novas actividades. Pela primeira vez na Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, percorremos todo o litoral, do Cabo de São Vicente a Porto Covo.
Na viagem para sul, dia 30 de Maio de 1991, subimos à Foia, ponto mais alto da Serra de Monchique e do Algarve, almoçando já em Sagres. No Cabo de São Vicente, aliámos a natureza à história, na contemplação do mar impetuoso e na evocação dos Descobrimentos Marítimos.
Já quase verão, os primeiros banhos foram na praia da Arrifana e na Zambujeira do Mar, em cujo camping montámos as tendas para a primeira noite. Seguiu-se o Cabo Sardão e Vila Nova de Milfontes. O emblema do Clube tinha sido desenhado num grande pano branco que, entre estacas de madeira, se erguia orgulhoso na praia, identificando a nossa presença!
A segunda noite foi já em Porto Covo, frente à ilha do Pessegueiro. Assim, o dia seguinte (que viria a ser o último) foi de caminhada até à vila, pelas falésias, e, também, na praia frente à ilha à qual ainda levei mais quatro «nadadores». Demos uma grande volta pela ilha, subimos à fortaleza mas… não encontrámos o pessegueiro na ilha!
Ao fim da tarde havia nuvens ameaçadoras. Vinha lá chuva. E o regresso seria no dia seguinte quase de certeza com as tendas encharcadas. Assim resolvemos levantar o acampamento e regressar antecipadamente com a promessa de que viriam todos passar a noite em minha casa!
E assim foi. Já passava da uma da manhã quando os «Amigos da Natureza» «acamparam» na minha garagem e sala, espalhados por colchonetes, cobertores, etc.! Foi uma noite memorável! Ouvimos música, vimos filmagens de «aventuras» anteriores e assistimos ao Sol a nascer sobre o Tejo!
A propósito de filmagens, as nossas técnicas iam evoluindo com novos equipamentos adquiridos pelo Clube de Audiovisuais. As legendas e créditos finais (mesmo sobre as imagens do «acampamento» em minha casa) já não precisavam de ser escritas em folhas de acetato.
O verão de 1991 foi marcado pelo desaparecimento de um meu carismático Tio, irmão de meu Pai, a quem muito estava ligado. São as fragas e pragas também da vida. Quanto às oscilações da minha companheira, uma estabilidade não duradoura, mas significativamente melhor que em 89, permitiu umas férias relativamente calmas, com um regresso a Valença do Minho e à casa dos amigos que nos haviam recebido naquele difícil verão. E no fim de Agosto… Santa Cruz.
:: ::
«Por fragas e pragas…», crónica e fotos (copyright) de José Carlos Callixto
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana)
:: ::
Leave a Reply