Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…
NA MINHA ALDEIA
O campanário entoa a hora
Canta o galo a dar alvorada
Sibila o vento da madrugada
Geme e range o cambão da nora
Lá vai a campainha da Mimosa
A tilintar, caminho do lameiro.
Vai bamboleando trote festeiro
Até ao prado de erva gostosa
Atrás, vem o chocalhar das cabrinhas.
Com elas, o guizo do cão de guarda.
O assobio do pastor não tarda,
Para as manter bem alinhadinhas
Toc-toque!, das ferraduras no chão
Chiam os eixos dos carros de vacas
Grugulham galinhas, perus e fracas…
Por todo o lado onde estão
Crepita o lume que se atiça!
Na torre, castanhola a cegonha.
No berço, o bebé ainda sonha.
E o sino já toca para a missa
À tardinha, está tudo de volta
Há chilreios, arrulhos, campainhas
Entoam os espantalhos das vinhas
E as cantigas que o povo solta
Não tarda o gu…gu que a ronda grita
Sons da concertina e realejo
Timbres fortes, a servir de ensejo
Ao sapatear que logo agita
Há o bater da carta, na sueca,
A espadela a bater o linho,
O andarilho a rodar sozinho,
Leite quente a vazar na caneca!…
Ah, e as castanhas a estoirar
Naquele velho caldeiro, furado
O ventar entre as telhas do sobrado
Que embala o meu terno sonhar!
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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