Continuo a rememorar crónicas antigas que muita satisfação me têm dado. Há quase 15 anos, saiu-me esta bujarda pela escrita fora… foi publicada no «Viver Casteleiro», de boa memória. Divirta-se, como eu me divirto. Obrigado.
Esta palavra… Casteleiro
Como e quando e fundado por quem nasceu o povoado onde nasci e que hoje começa a ter outra vez projecção? De onde lhe vem o nome de Casteleiro?
Por intuição, sempre pensei que o mais lógico era que estivesse relacionado com castelo: fosse o Castelo de Sortelha, fosse um dos castros que haveria em bom número aqui na zona.
Para tanto, recuo sempre uns 13 ou 14 séculos na História e penso em tempos de dureza, de sobrevivência difícil, de lutas pela terra mais fértil, e também tempos de afirmação de autonomia e mesmo de soberania. Por comodidade, sou levado a pensar em cristãos e mouros.
Fiz umas pesquisas na net. Não há muitos registos. Menos ainda que se refiram mesmo à nossa terra. Mas alusões a castelo, a lendas e a especulações encontrei algumas.
Há por lá muita coisa que faz pouco sentido. Mas há uma linha de raciocínio que se ajusta mais ao que sempre pensei e que não é contrariado pelo que pode ser uma linha de continuidade com a tradição oral – a mais provável fonte de História neste caso, à falta de investigações da UNESCO…
Vamos então ao resultado – sem esquecer que deixei para trás dois registos prometidos e a que regressarei um dia destes: os expedicionários que do nosso Casteleiro partiram para a guerra na França em 1916; e a exploração de produtos da terra para lá dos agrícolas: os metais e os minerais, água incluída – e suas implicações no desenvolvimento da nossa terra, apesar de tudo…
Casteleiro, dono de castelo
Começo pelo que é firme, certo e seguro. Na sua origem, a palavra que está nas placas das curvas de começo e fim da nossa aldeia, relaciona-se sempre com «castelo»: como adjectivo significa sempre algo que diz respeito ao castelo; como substantivo significa «castelão», ou seja, o dono do castelo.
Leia aqui, por todos. Ou então, «casteleiro» pode ser o mesmo que «castelário».
Uma lenda, um beijo, uma fuga
Claro que há aquela lenda agradável e interessante de ler: a princesa apaixonou-se pelo árabe, deram um beijo eterno que está plasmado na rocha… e os pais, donos do castelo de Sortelha, com o desgosto, renunciaram ao castelo e refugiaram-se nas suas terras do vale, na nossa terra. Como eram os «casteleiros», donos do castelo, a terra que fundaram passou a chamar-se assim.
Tem piada, relaciona-se com o facto de o Casteleiro, desde esse século XIII até 1855 ter feito parte do concelho de Sortelha, mas nada mais do que isso: tem pouco a ver com a realidade da época, parece-me.
Nem no Casteleiro resta nada que possa ser levado à conta de casa apalaçada que os senhores de Sortelha certamente teriam construído para viverem. Não estou a ver um senhor feudal a viver numa casinha das mais antigas do Casteleiro.
Casteleiro, construtor de castelos
Mas, mais do que relacionado com os donos do castelo, acho que o nome da nossa terra pode estar relacionado com trabalho no castelo. Casteleiro deve também ser registado como o pedreiro, aquele que construiu com os seus braços o castelo.
Qual castelo? O de Sortelha pareceria ser a resposta óbvia. Mas acho curto. O de Sortelha só foi construído no século XIII. Mas antes dele, no mesmo sítio, havia já construções defensivas.
Acho que estamos a falar de tempos mais recuados. Sinto que uns 500 anos antes disso.
Haveria por aqui outras fortificações não tão elaboradas nem tão poderosas mas igualmente importantes para a sua época: os castros, como hoje se designam, mas que na altura, por influência romana e galega/castelhana, certamente andaria perto de castillo, a palavra do país do lado para essas construções já nesse tempo: «castillo», castilo, castelo, castelano, castelão, casteleiro… sei lá. Uma coisa destas, para designar os donos dos braços que construíam os castros aqui à volta da nossa terra.
A reforçar esta minha preferência, o facto de na nossa terra tradicionalmente sempre ter havido muitos pedreiros, muita gente relacionada com a construção civil.
E nesta coisa da origem das coisas, a tradição vale muito…
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Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local (com ou sem volfrâmio)!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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