Cristiano Ronaldo gostava de desportos. Era muito bom no pingue-pongue. Ele e Rio Ferdinand eram os melhores. Também praticava ténis. No ginásio rebentava as máquinas de pessoas. Não gostava de perder e, mais do que uma vez, apesar de ser dos mais jovens, vi-o a dizer umas quantas coisas no balneário no intervalo de algum jogo. Galvanizava-nos. Tinha já então muito caráter… (parte 12).
Depois da escolha de gays ter levado a «bronca» no balneário,
Carlos Queiroz já não tinha dúvidas: «Ronaldo é o Michael Jordan do futebol»…
(Continuação)
Estando Cristiano Ronaldo cada vez mais perto de agarrar a imortalidade a partir de Manchester, Dolores Aveiro revelou-o num desabafo despachado:
– Vejo a minha força nele. Qualquer jogo que vá fazer, Cristiano liga-me e eu digo-lhe: «Boa sorte, filho. A mãe vai acender uma velinha para a nossa Senhora de Fátima iluminar o caminho que tu passares.»
Que a cada dia que passava se lhe refinava o espírito, percebeu-o, de súbito, Gerard Piqué ao cruzar-se com ele em Carrington:
– Vê-lo treinar ou treinar com Cristiano Ronaldo é um espetáculo. É o que faz nos jogos mas multiplicado.
Gostava de desportos. Era muito bom no pingue-pongue. Ele e Rio Ferdinand eram os melhores. Também praticava ténis. No ginásio rebentava as máquinas de pessoas. Não gostava de perder e, mais do que uma vez, apesar de ser dos mais jovens, vi-o a dizer umas quantas coisas no balneário no intervalo de algum jogo. Galvanizava-nos. Tinha já então muito caráter.
Isso revelaria Piqué em «Cristiano Ronaldo – Sonhos Realizados» de Enrique Ortego. E dito assim por Piqué tem mais força ainda por Piqué ser o que é (e ter sido sempre assim): jogador de coração nos pés. Logo que recebeu a notícia do seu nascimento, o avô correu à sede do Barcelona para o fazer sócio do clube. Chamava-se Bernabéu, Amador Bernabéu mas pelo Real (de Bernabéu, o Santiago) não tinha qualquer simpatia, antes pelo contrário. Amigo de Johann Cruyff, Amador haveria de tornar-se vice-presidente do Barça em 2000 – e conta-se que andando ainda Gerard ao colo da mãe já o avô alvitrava:
– Há de ser jogador do Barcelona e presidente quem sabe…
O destino poderia tê-lo impedido quando, pequenino, Gerard caiu da varanda da casa dos avós estando algum tempo em coma no hospital – e mal a idade o permitiu Bernabéu, o Amador, levou Piqué para La Masía.
Vendo-o num jogo de equipa em que também estavam Messi e Fabregas, o irmão de Alex Fergusson encantou-se com ele, o fervor com que o revelou fez com que Alex, ele próprio, se atirasse a Barcelona para convencer Piqué a mudar-se para Manchester. Tinha 17 anos, a custo teve de esconder parte do coração que já tinha nos pés, ao ir para o United…
– Quando cheguei ao Manchester o que mais me chamou a atenção foi Ronaldo ser o jogador trabalhador que era. Antes do treino passava pelo ginásio. Depois do treino ficava a ensaiar pontapés, livres. Convencia sempre algum guarda-redes a ficar com ele. Nem por uma vez deixei de o ver naquela sua obsessão pela procura da perfeição – embora podendo saber que ela não existe, quer estar o mais perto possível. Em muitos treinos fui seu adversário e ele era imprevisível porque faz tudo bem. Controla e sai pela direita, pela esquerda. Quando pode parecer que vai driblar, remata conforme lhe vem à cabeça. Quando está parado, o seu arranque é tremendo. Não é fácil trazê-lo para o nosso terreno. A outros avançados, deixa-se uma saída natural para que eles o façam. Ao Ronaldo não, é ele que toma sempre a iniciativa. É tão bom em tudo que temos de adivinhar em que é que ele está a pensar e o que é que ele vai fazer…
Para ser assim (ser cada vez melhor) – até o sono Cristiano Ronaldo treinava. Algures por 1999, Alex Ferguson recebera mensagem que, ao primeiro olhar, o intrigou: era de Nick Littlehales. O nome nada lhe dizia, o facto de o apresentar como «Sport Sleep Coach», despertou-lhe a curiosidade. Combinaram conversa para troca de ideias e logo aconteceu o que Luís Miguel Pereira contou em «Duelo Nunca Visto» (o criativo e apaixonante duelo que ele criou entre Ronaldo e Messi com o escritor argentino Luciano Wernicke):
– O treinador escocês tinha o controlo absoluto sobre a vida desportiva dos seus jogadores – o que comiam, como treinavam, índices de rendimento, etc. – mas faltava-lhe saber, e até influenciar, alguns aspetos relacionados com o que faziam quando deixavam o centro de estágio em Carrington. A qualidade do descanso era um desses mistérios indecifráveis pelo técnico. Nick Littlehales arrebatou por completo Sir Ferguson quando o escocês lhe pediu para trabalhar diretamente com o defesa Gary Pallister, cujas lesões consecutivas e constantes dificuldades de recuperação coartavam o rendimento do atleta. O especialista descobriu a verdadeira causa de tanto contratempo: Pallister dormia num colchão desadequado. Littlehales resolveu o problema, o jogador abandonou o calvário e Fergunson ganhou um atleta influente.
Acolhida «rotina de descanso» inventada por Nick Littlehales (que fora profissional de golfe e responsável pelo marketing de uma empresa de camas – deu-lhe o hábito (nunca mais perdido da sesta), o Manchester United acolheu-lhe outros dos seus vários truques (que passam por evitar os tradicionais ciclos de oito horas de sono ou os quartos partilhados – e que mesmo depois de deixar Manchester, Cristiano não deixou, não deixando, aliás, mais de trabalhar com Littlehales…) – e a propósito, Luís Miguel Pereira também o escreveu: «Os quartos partilhados levantam vários problemas: o tamanho dos ocupantes, se são mais ou menos dorminhocos, se têm o sono leve ou pesado… ou seja, a personalização que é a base da teoria de Littlehales, cai por terra. O Sport Sleep Coach vai ainda mais longe: os jogadores até podem ter relações sexuais na véspera dos jogos, mas têm obrigatoriamente que dormir sozinhos.»
Depois da sua quase efémera passagem por Madrid como treinador do Real, Carlos Queiroz voltara a Old Trafford outra vez para adjunto de Alex Ferguson – e David Gill, o seu diretor-executivo, afiançou-o:
– Estamos encantados com o regresso de Carlos. E se falar com Alex verá que é o mais encantado de todos nós e uma das razões é que o Carlos irá ajudar Cristiano Ronaldo, especialmente. Tem 19 anos, teve uma primeira época fantástica – e sim: tenho a certeza de que irá beneficiar do facto de ter o Carlos a trabalhar com ele, o Carlos que tanto fizera para que Ronaldo se juntasse a nós.
Ferguson não queria Ronaldo nos Jogos Olímpicos mas Ronaldo queria os Jogos Olímpicos…
Ao Manchester United chegara também Wayne Rooney (que para o levar do Everton desembolsou 25 milhões de euros – e mais 10 milhões por objetivos) – e a ideia que de súbito se soltou foi que apesar de poder contar com uma linha avançada formada por Ronaldo, Giggs, Van Nistelrooy, Rooney e Alan Smith, o perigo poderia estar num rastilho incendiado em Stamford Bridge. Através de Jorge Mendes, José Mourinho tornara-se treinador do Chelsea – e ao aterrar, com a Champions ganha pelo FC Porto a marcar-lhe a história, afirmou-o (de rompante):
– Temos jogadores de topo e, desculpem se sou arrogante, agora temos um treinador de topo. Sim, penso que sou um treinador especial!
e foi assim que se criou o Special One.
Antes, porém, de a bola começar a rolar na Premier League, Alex Ferguson irritou-se:
– Nós é que pagamos o ordenado a Cristiano Ronaldo e somos obrigados a autorizar que perca jogos importantes do campeonato para ir aos Jogos Olímpicos. Não é justo e é ridículo. Teríamos de dar dois meses de férias quando ele voltasse e não o iríamos ver antes de 1 de novembro…
Não, não se resumiu ao amargor, sugeriu que nem Ronaldo nem Gabriel Heinze (que acabara de contratar) aceitassem a convocatória para Atenas – e Cristiano não perdeu tempo a afiançá-lo:
– Estar nos Jogos Olímpicos é uma oportunidade única na carreira de qualquer desportista. Fico sempre satisfeito por representar Portugal e ainda mais numa situação como esta e por isso sim, faço tenções de lá jogar.
Truculento saltou em sua defesa, Sepp Blatter, o presidente da FIFA:
– Dizer a jogadores como Ronaldo e Heinze para não irem aos Jogos Olímpicos porque podem perder o seu trabalho quando voltarem não está definitivamente de acordo com o espírito de solidariedade e não é justo…
e Ferguson deu, sem problema, passo atrás:
– O que eu espero, então, é que os jogadores regressem a Old Trafford sem lesões.
Ronaldo voltou mais depressa do que gostaria – pois dececionante foi a passagem de Portugal por Atenas. Não teve, sequer, duas semanas de férias (quanto mais dois meses) – e com o Manchester United a passar por alguns percalços na Premier League (percalços e escaramuças, como aquela da Batalha do Buffet, assim chamada por no final do jogo com o Arsenal as picardias no túnel entre jogadores e treinador acabaram com uma pizza atirada no meio da confusão a acertar em cheio na cara de Alex Ferguson) se chegou a 26 de dezembro de 2004.
No tsunami do Índico a imagem do que era já a fama de Cristiano (e o que ele fez por Martunis…)
Tsunami no Índico dizimou mais de 300 mil pessoas – da Tailândia ao Sri Lanka, da Malásia à Indonésia.
Ao atacar Banda Aceh, a norte da ilha de Samatra, arrastou na sua fúria, por entre casas e palmeiras, barcos e animais, rapazinho de sete anos que apanhara no seu repelo a correr atrás de uma bola na praia, com camisola da seleção de Portugal vestida, o Martunis Arbini. Mais de duas semanas depois, andava ainda à deriva por entre cadáveres destroços – sobrevivera alimentando-se do que lhe chegasse à mão, bebendo água de charcos.
E quando Ian Dovaston o descobriu no seu drama, com o corpo sujo e quase todo picado por mosquitos, continuava com a camisola da seleção de Portugal vestida. Dando-lhe duas bolachas, o repórter da «Sky News» levou-o ao colo para uma tenda do «Save the Children», em murmúrios lhe apanhou que, para tentar escapar à onda assassina, ia com a mãe e as irmãs no carro, que só se lembrava de se ter agarrado a uma cadeira e depois a um colchão, a uma árvore e depois a um sofá e de ficar a flutuar pela cidade…
A mãe e as duas irmãs morreram, o pai (que era pescador) salvou-se também – e ao ver a reportagem de Dovaston, Cristiano Ronaldo enterneceu-se, comoveu-se:
– Pareceu-me simplesmente assombroso que um menino de sete anos pudesse sobreviver assim ao fim de tantos dias e isso deu-me força para pensar que é possível andar para a frente mesmo nas circunstâncias mais terríveis…
Logo lhe passou pela cabeça, trazer Martunis a ver jogo de Portugal no apuramento para o Mundial de 2006 – ou a Manchester. Gilberto Madaíl, presidente da FPF, mobilizou os clubes para ajuda humanitária à Indonésia, a estrelas da seleção logo se uniram para o apadrinhar, Luiz Felipe Scolari deu voz à solidariedade:
– Quando vimos aquelas imagens pensámos que tínhamos de fazer alguma coisa. Comprar um terreno e pagar a construção de uma nova casa para a família do menino pareceu-nos a melhor ideia.
Cinco meses depois, a FPF trouxe Martunis a Lisboa para assistir ao Portugal-Eslováquia. Na véspera, levaram-no ao hotel da seleção – para enfim conhecer quem nunca escondera que já era o seu ídolo: Cristiano Ronaldo:
– …o Cristiano Ronaldo que já seguia, também, no Manchester United.
Dele recebeu a ternura de um beijo na testa e uma camisola de Portugal com o n.º 1 e Martunis nas costas. À camisola juntou-se-lhe boné e cachecol e foi assim que, no dia seguinte, viu, sentado ao lado de Rui Costa, a vitória por 2-0, o segundo golo marcado por Ronaldo. Com ele viera o pai, que levou cheque de 40 mil euros – os 40 mil euros que se juntaram de donativos recolhidos no seio da seleção.
Semanas antes, após a eliminação do Everton para a FA Cup, Ferguson voltara ao elogio puxado:
– O miúdo Ronaldo é um jogador fantástico. É persistente e nunca desiste. Não sei quantas faltas sofreu neste jogo, que lhe perdi a conta. Levanta-se e quer a bola outra vez, ele é verdadeiramente um jogador fabuloso.
Eliminado na Champions pelo AC Milan, incapaz de evitar que o Chelsea de José Mourinho ganhasse a Premier League e a Carling Cup – o prémio de consolação do Manchester United poderia ter sido a Taça de Inglaterra. Decidiu-se, nos penáltis (o que Ronaldo marcou, marcou-o, primoroso, atirando Lehmann para o lado errado) – e no final do desafio (com Paul Scholes a falhar o golo) Alex Ferguson dividiu-se:
– Podem deitar moeda ao ar para decidir o homem do jogo entre Wayne Rooney e Cristiano Ronaldo porque eles foram ótimos, os dois.
Não o querendo fazer (ou melhor: achando-se incapaz de o fazer…) houve, porém, quem o fizesse – e a FA deu a Rooney o prémio de «Man of the Match».
Duas semanas após, estando-se já por junho de 2005, Cristiano lançou-se de coração quente ao cumprimento de promessa que fizera a Martunis Arbini em Lisboa:
– Brevemente voltaremos a ver-nos!
Aterrou em Banda Aceh – para visita à costa de Ulee Lheu, uma das zonas mais fustigadas pelo tsunami. Chorou com o que ainda apanhou de destruição e ruína – e a Martunis, para além de camisola da seleção já com o n.º 17 (ainda o seu), ofereceu-lhe um telemóvel. Mostrou-lhe fotos e jogos do seu computador, visitaram a Oikos, ONG portuguesa a trabalhar na ilha de Sumatra, ouviu-lhe (em palavras polvilhadas de emoção):
– Martusis é um rapazinho forte e valente. Acho que muitos adultos não seriam capazes de enfrentar o que ele enfrentou, o ter de passar por aquilo que passou durante aqueles dias de tragédia. O que fez, para sobreviver, foi um ato de força, de coragem, de maturidade e se para mim é um exemplo, deve sê-lo para todos nós também…
De Banda Aceh voou Ronaldo para Jacarta. Recebido pelo vice-presidente indonésio, organizou jantar com leilão para recolha de fundos de ajuda às vítimas do maremoto – camisolas do Machester United e de Portugal, umas chuteiras e uma bola autografadas renderam mil milhões de rupias (cerca de 80 mil euros).
Sarbini, o pai revelara-lhe que Martusis passara a ver Cristiano «como irmão mais velho» e que não deixara mais de viver com o sonho a arder-lhe:
– Ser jogador de futebol, jogador de futebol como foi o meu pai, mas melhor, claro…
Com Ronaldo voltaria a reencontrar-se em Singapura e em Itália. A ilusão de se tornar futebolista ainda o trouxe à Academia do Sporting algures por 2015 – percebeu, depressa, que o seu destino seria outro e tornou-se youtuber num canal dedicado a Cristiano Ronaldo e, claro, à sua história de vida. E foi lá que, com 2019 a correr para o fim se viu a namorada a aceitar o seu pedido de casamento. E quando um amigo lhe perguntou se Cristiano estaria na boda, a sua resposta foi:
– Insya Allah… Ele virá… se não estiver ocupado!
O Covid-19 adiou-lhe o casamento – e em abril de 2020 ao saber que matara num ápice 400 pessoas na Indonésia, Martunis Arbini abriu no seu canal leilão de uma das suas camisolas autografadas por Cristiano Ronaldo para ajudar «famílias afetadas pela pandemia». Colocou 4 milhões de rupias como base de licitação (230 euros), ao fim do primeiro dia já tinha a oferta em 25 milhões – e o último lance (de Bong Chandra, residente em Jacarta) foi de 180 milhões de rupias, mais de 10 500 euros.)
A «bronca» que foi escolherem-no para a lista dos homens mais sexies do mundo…
Wayne Rooney ganhou-lhe (à tangente) a eleição para «Melhor Jogador Jovem 2005/2006 na Premier League» – e a uma outra eleição, para a lista dos «Homens Mais Sexies do Mundo», Ronaldo reagiu, folgazão:
– Foi uma bronca no balneário. Pegaram em recortes e penduraram-nos no meu cacifo, toda a gente a gozar comigo. Foi cá uma história… Ficar entre os primeiros, sendo escolhido pelos gays, não sei se é muito bom para mim. Um bocado estranho, é. E se fosse pelas mulheres, ficava mais contente…
Deixando de namorar com Jordana Ribeiro (a irmã de Mário Jardel), paparazzis apanharam fotografias de Cristiano Ronaldo em «férias românticas por Itália» com Merche Romero (a sensualíssima apresentadora de TV que, como modelo, para além de rosto da campanha publicitária do produto naturais Fitform 3, fizera o catálogo Primavera/Verão da Meskla).
O enleio não passou, todavia, de seis meses (e não chegou sequer a 2007) – e não tardou a correr o rumor de que a relação entre ambos se desfizera por a tentação de noctívaga dela poder prejudicá-lo.
O que mais atormentava Cristiano Ronaldo era a doença do pai – e na esperança de que recuperasse a saúde que o vício do álcool abalava cada vez mais, levou-o para Inglaterra. Em Chester Road, a avenida de vivendas em cujos pátios se destacavam Porsches, Bentleys, Jaguares – também estava a mãe e o primo, por vezes o irmão e as irmãs. Era a sua fortaleza, por entre os dois treinos diários – só ocasionalmente se aventurava a saída para um fugaz jogo de snooker pelas redondezas.
«O Ronaldo é dos jogadores que param na cancela…»
Se se insinuava que de quando em quando aparecia igualmente pelo Panacea ou pelo Braz, os clubes noturnos então na moda, não havia quem, contudo, aparecesse a confirmar tê-lo visto por lá – e o não era difícil de apanhar era o que Joel Nelo apanhou (para empolgante reportagem sobre o seu novo mundo, publicada na NS) a John Sullivan, engenheiro reformado (que Alex Ferguson tratava como «traficante de autógrafos» por ser já famoso a que se atiravam fãs aos magotes à porta do centro de treinos de Carrington, em rebuliço):
– Há jogadores que param na cancela e jogadores que não param. O Ronaldo é um dos que param. Quando não param, não lhes podemos levar a mal. Cristiano, por exemplo, sabemos que tem sempre coisas para fazer. E já nos bastará que aprenda de uma vez a fintar dois jogadores e passar a bola, em vez de continuar a fintar cinco ou seis e perdê-la. Quando fizer isso, vai ser tão grande como Wayne Rooney…
Não, não seria preciso esperar muito para se perceber que Sullivan falhou o alvitre – Cristiano Ronaldo não se tornou tão grande como Wayne Rooney, tornou-se muito maior. Carlos Queiroz percebera-o – e nem tardaria muito a afirmá-lo (premonitório, certeiro):
– Para mim, Cristiano Ronaldo é o Michael Jordan do futebol. Tem um dom divino. Será para o futebol o equivalente a Michael Jordan para a NBA. No início, Michael era um solista: brilhava ele, jogava para ele, a estrela era ele. Contudo, aos 33 anos era um maestro que ensinava os outros e fazia jogar os outros. Já não se percebia se era base, ala ou poste. Irá acontecer o mesmo a Cristiano. Não se saberá se é avançado ou extremo, será o jogador de futebol à volta do qual toda a equipa girará.
(Continua)
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«Às voltas da História», crónica de António Simões
(Cronista no Capeia Arraiana)
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