Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

MALHA NA EIRA
Chegam os malhadores convidados
Aos pares como manda a tradição
Desenfaixam-se os molhos atados
Espalha-se, na laje, a eirada
Ao de cima as espigas de grão
Depois do «mangual» verificado
Colocam-se todos em posição
Fica a metade de cada lado,
Dá-se por começada a malhada
Um cantar uníssono e ritmado
Que vai marcando o compasso do malho
Bem como o uivo chicoteado
Dos «manguais» a fustigar o grão
Desvendam quão duro é o trabalho,
Que deixa um lamento magoado
Esculpido em nosso coração
Os malhadores limpam o suor
«Espalhadeiras» retiram a palha
E sacodem-na bem de qualquer grão
(Mas há sempre um ou outro que falha!)
Apertando-a, de novo, em «fachas»
Lançam uma «eirada» maior
E recomeça a operação
Ao mesmo ritmo das vozes e marchas
Concluída a malhada na eira
Puxa-se a palha com um ancinho
Lançam-se pazadas de grão ao vento
Ou arremessa-se de uma «ceira»
Adequada a este evento
Os homens bebem um copo de vinho
Que enganam com um naco de pão
Bom presunto, chouriço, requeijão
As «rebuscadeiras» dão mais um «geio»
Com vassouras feitas do «almeirão»
«Acuanheiras» juntam o centeio
Que ficou espalhado pelo chão
E dá-se por acabado o malho
O grão é medido e ensacado
E colocado no carro de bois
Com destreza e máximo cuidado
Para ser acarretado depois
E irá ficar muito bem guardado
Em arcas de castanheiro ou carvalho
:: ::
«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
:: ::
Estou encantada com estas narrativas. Não vivi estas experiências duras, mas lembro-me de ouvir a minha mãe contar histórias semelhantes. Também conheci nas Sarnadas senhoras que viviam sozinhas em cortes como estas choças. Obrigada por nos trazer estas memórias.
Teresa Lucas