Por amabilidade foi-me sugerido este tema para hoje: como era a Televisão antes do 25 de Abril… Aqui vai aquilo de que me lembro…


Televisão a preto e branco e sem opinião (é do que me lembro)
A RTP-Rádio e Televisão de Portugal tinha nascido na minha meninice mais concretamente em 1957. A preto e branco, claro! A cor só viria bem mais tarde.
Ora, na altura do 25 de Abril, eu não estava em Portugal. Andava em Angola pela Floresta do Maiombe, em Cabinda, a defender sei lá o quê…
Por tudo isto, apenas meia dúzia de notas para não deixar a «coisa» em branco:
1 – A televisão era um encanto, sobretudo no seu início e era vista em grupo nos locais onde havia aparelho. Depois, começou a entrar nas casas, e, no 25 de Abril de 1974, já muitas casas tinham o seu televisor.
2 – Ouvia-se muita rádio quer em casa quer no automóvel. A televisão era mais à noite e ao fim-de-semana.
3 – Rádio e televisão, mas primeiro a rádio foram portanto os canais de divulgação das primeiras passadas da Revolução, quer nas ruas de Lisboa, quer no Terreiro do Paço e depois sobretudo no Largo do Carmo.
4 – Nem por sombras a Televisão Portuguesa podia, nos dias anteriores ao 25 de Abril, ter transmitido qualquer alusão a uma mudança de regime: as várias polícias nem o teriam sequer permitido – para lá da confidencialidade total da parte do MFA em formação, claro. Mas o mais significativo de como a televisão desse tempo era «oca» no que se refere à Informação é o facto de o 16 de Março de 1974 ter ficado completamente fora da Televisão. Nem a Censura teria permitido qualquer referência, seguramente…
5 – Quanto a nomes das caras nos programas de informação e de diversão, lembro-me de quatro deles, sem desprimor para nenhum outro: Fialho Gouveia, Nicolau Breyner, Camilo de Oliveira, Florbela Queiroz.
6 – Depois do 25 de Abril, sim: a televisão abre as portas à Informação e tudo o que se vai passando é objecto de trabalhos notáveis de divulgação permanente do que de mais importante vai mudando dia-a-dia no País todo.
7 – O ano de 1977 foi marcante para a RTP e para a televisão portuguesa. Os portugueses ficaram «reféns» de dois programas que mudaram para sempre a ainda televisão «a preto e branco». O primeiro deles o concurso televisivo «A Visita da Cornélia» da autoria de Fialho Gouveia e Raul Solnado e apresentado pelo comediante na companhia de uma «vaca inteligente». O segundo a novidade de «Gabriela, Cravo e Canela» uma telenovela brasileira adoptada de um livro de Jorge Amado. O seu impacto foi tal que obrigou mesmo a suspender uma sessão da Assembleia da República para que os deputados pudessem assistir ao último dos 132 episódios.
Primeiro telejornal da RTP no dia 25 de Abril de 1974
Já agora, veja e oiça – a preto e branco, claro – Fialho Gouveia a ler o primeiro comunicado do MFA na emissão histórica do dia 25 de Abril de 1974.
O primeiro telejornal da RTP no 25 de abril. Assim era a televisão desse tempo, segundo me recordo.
Última anotação que me apraz trazer-lhe aqui. Acrescento que a electricidade chegou à minha aldeia (Casteleiro) em 1956, que a televisão começas as suas emissões regulares em 1957 e que pouco tempo depois havia já quem visse televisão – mas na Quinta da Senhora ou Quinta da Dona Maria do Céu.
No Centro (Cultural), só uns anitos mais tarde…
Assim eram esses dias, tanto quanto me recordo.
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Para si que me lê… «Tudo de bom» – tanto quanto possível – e ainda e sempre com todo o cuidado, pf…
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«Postal TV», por José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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