Foi tão difícil a emigração dos anos cinquenta…

Lá na «Terra» os «tchões» cada vez eram mais pequeninos porque eram repartidos pelos muitos filhos em cada herança. A terra sachada a pulso até ao cantinho mais recôndito, já não dava alimento para todo o ano, ainda por cima, volta e meia as geadas e secas estragavam as colheitas.
Em muitos lares a fome era de «rabiar». Não era já uma sardinha ou um chicharro para três. Sem peixe até se passava. O pior era não haver batatas, feijão ou dinheiro para comprar pão. E se as galinhas morriam ou não punham ovos?! Então é que era uma aflição. E não era por as pessoas serem preguiçosas. Claro que não, pois se trabalhavam desde que o sol nascia até que o candeeiro tivesse petróleo ou a candeia tivesse azeite!
E foi assim que os nossos pais meteram os pés ao caminho. Poucos sabiam ler e escrever. E falar idiomas só a língua Pátria, o espanhol e alguns gestos que deram azo a situaçoes hilariantes, não fosse o desconforto e o desespero em não saberem dizer o que precisavam.
E se alguns conseguiram um bom pé-de-meia foi porque se sujeitaram a uma vida sem conforto, sem lazer, sem tempo para viver.
Muitos adoeceram por lá, sem que alguém lhes minguasse a dor com uma malga de caldo ou uma caneca de chá. Outros houve que se entregaram ao desalento e ao vinho. Mas, também houve, quem começou por dormir numa barraca de madeira, numa enxerga atirada no tabuado ao lado duma bacia e de um penico… e, mais tarde, conseguiram construir uma casa luxuosa onde criaram os filhos com a qualidade de vida que eles não tiveram em tempo algum.
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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