Continuo a recordar algumas das muitas crónicas que desde 2006 vou publicando aqui e ali, em páginas, blogs, facebooks, etc., tais como este nosso «Capeia Arraiana», a «Serra d’Opa – Gazetilha Regional», «LisboaLisboa», «Viver Casteleiro» ou «LisboaLisboa2», entre outros…

Quinta de Santo Amaro
Em 2013, publiquei no «Serra d’Opa – Gazetilha Regional» a seguinte transcrição que me dá muito prazer levar até si:
«Santo Amaro
Em 1615 era esta Quinta praso da ordem de S. Bento de Aviz, pertencendo o domínio útil a António Camelo. Pertence actualmente o domínio pleno da Quinta ao Dr. Eduardo Tavares de Melo da Costa Lobo, mais conhecido por Morgado de Santo Amaro, e a seu filho, Dr. Tavares de Melo, notável «sportman».
O Dr. E. Tavares de MeIo da Costa Lobo é filho dum Coronel de Milícias da Covilhã, cujo nome completo nos não ocorre agora.
Formado em direito pela Universiaade de Coimbra, nunca precisou de utilisar-se das cartas por ter avultada fortuna; mas, além de notável «sportman», é artista distintíssimo, sendo digna de visita a sua belíssima vivenda. Os seus trabalhos de torneiro em madeira e marfim são perfeitíssimos, tendo sido premiados em exposições.
Reside ordinariamente em Coimbra, onde tem um bom palacete. É-nos grato escrever estas singelas palavras de homenagem a um homem ilustrado, que é ao mesmo tempo um artista consumado e um carácter honesto e primoroso, que faz parte dessa galeria de homens ilustres da freguesia do Casteleiro.
A povoação de Santo Amaro era toda foreira (ou paga ainda) ao Sr. Dr. Tavares, que ali tem, além da vivenda, extensas propriedades que deu de arrendamento a longo prazo.
São de notar as saborosas melancias, criadas nesta quinta, sempre as primeiras, maiores e mais saborosas que aparecem à venda nas feiras e mercados dos concelhos limitrofes. Têm igualmente grande fama os queijos de Santo Amaro.
Na povoação há uma ermida decentemente ornada, onde se venera a imagem de Santo Amaro».
In «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», de Joaquim Manuel Correia, editado em Lisboa, em 1946.

Em 2010, publiquei no blog da minha terra «Viver Casteleiro» a seguinte crónica com laivos de História da aldeia:
«Esta palavra Casteleiro…
Como e quando e fundado por quem nasceu o povoado onde nasci e que hoje começa a ter outra vez projecção? De onde lhe vem o nome de Casteleiro?
Por intuição, sempre pensei que o mais lógico era que estivesse relacionado com castelo: fosse o Castelo de Sortelha, fosse um dos castros que haveria em bom número aqui na zona.
Para tanto, recuo sempre uns 13 ou 14 séculos na História e penso em tempos de dureza, de sobrevivência difícil, de lutas pela terra mais fértil, e também tempos de afirmação de autonomia e mesmo de soberania. Por comodidade, sou levado a pensar em cristãos e mouros.
Fiz umas pesquisas na net. Não há muitos registos. Menos ainda que se refiram mesmo à nossa terra. Mas alusões a castelo, a lendas e a especulações encontrei algumas.
Há por lá muita coisa que faz pouco sentido. Mas há uma linha de raciocínio que se ajusta mais ao que sempre pensei e que não é contrariado pelo que pode ser uma linha de continuidade com a tradição oral – a mais provável fonte de História neste caso, à falta de investigações da UNESCO…
Vamos então ao resultado – sem esquecer que deixei para trás dois registos prometidos e a que regressarei um dia destes: os expedicionários que do nosso Casteleiro partiram para a guerra na França em 1916; e a exploração de produtos da terra para lá dos agrícolas: os metais e os minerais, água incluída – e suas implicações no desenvolvimento da nossa terra, apesar de tudo…
Casteleiro, dono de castelo
Começo pelo que é firme, certo e seguro: na sua origem, a palavra que está nas placas das curvas de começo e fim da nossa aldeia, relaciona-se sempre com «castelo»: como adjectivo significa sempre algo que diz respeito ao castelo; como substantivo significa «castelão», ou seja, o dono do castelo.

Uma lenda, um beijo, uma fuga
Claro que há aquela lenda agradável e interessante de ler: a princesa apaixonou-se pelo árabe, deram um beijo eterno que está plasmado na rocha… e os pais, donos do castelo de Sortelha, com o desgosto, renunciaram ao castelo e refugiaram-se nas suas terras do vale, na nossa terra. Como eram os «casteleiros», donos do castelo, a terra que fundaram passou a chamar-se assim.
Tem piada, relaciona-se com o facto de o Casteleiro, desde esse século XIII até 1855 ter feito parte do concelho de Sortelha, mas nada mais do que isso: tem pouco a ver com a realidade da época, parece-me.
Nem no Casteleiro resta nada que possa ser levado à conta de casa apalaçada que os senhores de Sortelha certamente teriam construído para viverem. Não estou a ver um senhor feudal a viver numa casinha das mais antigas do Casteleiro.
Casteleiro, construtor de castelos
Mas, mais do que relacionado com os donos do castelo, acho que o nome da nossa terra pode estar relacionado com trabalho no castelo. Casteleiro deve também ser registado como o pedreiro, aquele que construiu com os seus braços o castelo. Como se lê aqui, por exemplo.
Qual castelo? O de Sortelha pareceria ser a resposta óbvia. Mas acho curto.
O de Sortelha só foi construído no século XIII. Mas antes dele, no mesmo sítio, havia já construções defensivas.
Acho que estamos a falar de tempos mais recuados. Sinto que uns 500 anos antes disso.
Haveria por aqui outras fortificações não tão elaboradas nem tão poderosas mas igualmente importantes para a sua época: os castros, como hoje se designam, mas que na altura, por influência romana e galega/castelhana, certamente andaria perto de castillo, a palavra do país do lado para essas construções já nesse tempo: «castillo», castilo, castelo, castelano, castelão, casteleiro… sei lá. Uma coisa destas, para designar os donos dos braços que construíam os castros aqui à volta da nossa terra.
A reforçar esta minha preferência, o facto de na nossa terra tradicionalmente sempre ter havido muitos pedreiros, muita gente relacionada com a construção civil.
E nesta coisa da origem das coisas, a tradição vale muito…».
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Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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