Contar histórias, de essência mais ou menos real, é como tecer enredos que vale a pena revelar.

Sei de quem fabulize de viva voz, dramatizando, quase cantando, entoando e vibrando as cordas vocais, sustendo uma divulgação entusiasmada, eufórica, enfim, numa esbelta inspiração.
Mas, verbais ou escritas, as histórias são feitas de palavras que saem de dentro, talvez do coração, ganhando forma definitiva quando se soltam da boca ou quando, de alguma forma, são averbadas. Todas são histórias, apenas diferem na forma.
Às que circulam de boca em boca, renascidas, rememoradas nem sempre se lhes reconhece a procedência e suporta-as a lembrança. Às outras, às escritas, sabe-se que crescem em frases desenhadas, alinhadas e sequenciadas com acuro e que seguem, depois, os seus desígnios por caminhos incontroláveis. Todas são frágeis e efémeras e todas se embalam na esperança de se tornarem duradouras. Todas lutam contra o esquecimento que, cego, surdo e mudo se presta, teimosamente, a ocultá-las. Mas a dinâmica de uma simples pena pode, nesta briga com o olvido, vencê-lo, sobretudo se a escrita prometer mais vida e memória futura.
Na verdade, ao escrever, abre-se um campo onde é possível cinzelar ideias e lembranças estanciando-as no tempo.
Dito de outra forma, a escrita cria uma ligação misteriosa entre quem escreve e quem lê e coloca a guarda de relatos, sonhos e pensamentos ao dispor da posteridade. Pois, que as histórias possam beneficiar deste (ou de outro) ensejo.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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