A narrativa do amor que envolveu Dom Pedro I e a nobre castelhana Dona Inês no século XIV é talvez na nossa história coletiva a que mais apaixonou poetas e trovadores. Não resisto a também escrever sobre ela…

Os factos parecem simples de perceber pois Dona Constança* ao falecer deixou um herdeiro que viria a ser o Rei Dom Fernando mas os nobres portugueses incluindo o Rei pai de Dom Pedro temiam que o amor assolapado deste o levasse a favorecer os filhos que tinha da bela Dona Inês** e assim pôr em causa a independência da monarquia portuguesa.
Variadíssimas razões condenaram este amor e algumas delas levaram a que Dom Afonso IV mandasse assassinar a nobre castelhana mãe de alguns dos seus netos.
Todos estes ingredientes levaram a que numerosos poetas e trovadores cantassem este amor, entre eles Luiz de Camões no canto III de «Os Lusíadas» e Fernão Lopes o grande cronista da corte.
Como quem conta um conto acrescenta um ponto várias lendas foram ganhando forma acerca deste idílio. Entre elas uma que relata como verdade ter Dom Pedro exumado a amada e obrigado os nobres a beijar a mão do cadáver sentado no trono.
Mas, não obstante os séculos que passaram o facto de descansarem lado a lado no Convento de Alcobaça em túmulos mandados edificar pelo apaixonado, é uma vitória do amor e, ajuda a perpetuar este episódio da História de Portugal.
* Constanza Manuel de Villena foi uma nobre castelhana, rainha de Leão e Castela, consorte do infante D. Pedro de Portugal e mãe do rei D. Fernando de Portugal.
** Inês de Castro (Reino da Galiza, ca. 1320/1325 — Coimbra, 7 de janeiro de 1355) foi uma nobre galega, rainha póstuma de Portugal, amada pelo futuro rei D. Pedro I de Portugal, de quem teve quatro filhos. Foi executada por ordem do pai deste, o rei D. Afonso IV.


PEDRO E INÊS
vou recontar aquela que talvez
seja a paixão mais afamada
falo de um Pedro e de uma Inês
do cruel e da sua amada
Pedro era filho do rei
e como consequência
o interesse do reino era lei
e casaram-no por conveniência
de Castela veio Dona Constança
para celebrar uma união séria
e reforçar a aliança
entre os reinos da ibéria
o destino quis que na comitiva
viesse uma fidalga de beleza tal
que segundo a narrativa
apaixonou o príncipe de Portugal
e este sem se acautelar
fez-lhe um namoro descarado
que veio a muito irritar
a nobreza do reinado
para potenciar a tragédia
Dona Constança morreu num parto
coisa que na idade média
era acontecimento normal e farto
Dom Pedro aproveitou para morar
maritalmente com a sua amada
o que teve o condão de tornar
a contenda mais inflamada
o Rei decidiu condenar
a bela Inês à morte
Dom Pedro que estava a caçar
quando soube perdeu o norte
e partiu para a guerra civil
contra o seu próprio progenitor
para vingar o assassinato vil
e denunciar o seu mentor
mais tarde o Rei faleceu
E Dom Pedro a nova majestade
jamais se esqueceu
e fez vingança à sua vontade
ordenou ele exumar
o corpo da namorada
e no trono fê-la sentar
perante a nobreza ajoelhada
aos que a foram matar
mandou arrancar o coração
enquanto assistia a almoçar
mostrando grande satisfação
em Alcobaça no convento
dois túmulos a par
perpetuam o casamento
e o amor que acabo de vos contar
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«Quiosque da Sorte», poesia de Luís Fernando Lopes
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A história de Inês de Castro e Pedro I de Portugal é um trágico exemplo de como o amor pode ser destruído pelo poder e pela política.
O assassinato brutal de Inês evidencia a crueldade da época, enquanto a vingança de Pedro e sua coroação póstuma mostram a força do sentimento que desafiou a nobreza.
Esse romance trágico ainda emociona por sua intensidade e sofrimento.