Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

A CASA EM RUÍNAS
O desprezo a que foi abandonado
O muro firme, aparado e robusto
Hoje pedra solta e enraizada
Com silvados e outras ervas daninhas
Deixa chaga no coração magoado
De quem o sentiu erguer tanto a custo
Por gente de fibra rija, esforçada
Como eu recordo em saudades minhas.
As paredes já não resguardam o lar,
Não criam aquele clima de namoro
Já não abafam gargalhadas ou choro
Nem o incómodo sibilar do vento
Ou da chuva forte que vem fustigar
Nas velhas portadas quase soltas de si
E lhes arranca tão dorido lamento
Nas tábuas rachadas que teimam ali.
Gasta a massa que unia as pedras
Esbatida a firmeza das arestas
Que o vento moldou à sua passagem
Tendo por amigas a chuva e neve
Sem quaisquer ferramentas, arte ou regras
Destelharam a casa, abriram frestas
Deixaram nela, apenas, a imagem
Do tempo ido, que pereceu tão breve.
Os conchelos assomaram nos beirais
As azedas furaram das escaleiras
Das nesgas, eclodiu o musgo veludo
Vieram tempestades e vendavais
Desmantelaram telhados e caleiras
A aspereza tomou conta de tudo
Só as silvas rebentaram e floriram
Com saudade pelas gentes que partiram.
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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Boa tarde
Gostei tanto deste texto! Apesar da idade avançada, meti-me num projeto, e já é o segundo, de tentar renovar, com os meus parcos recursos, mas muita tenacidade, uma casa numa aldeia que devia ser histórica! Não foi assim classificada, por casmurrice das autoridades de então.
Espero que as autoridades de agora, não me venham com os decretos leis e interesses instalados nos GT das CM. Pelo contrario, ajudem com aconselhamento e pedagogia (em termos de estética, técnicas de perseveração do património, etc. etc) quem quer travar a proliferação de ruinas nas nossas aldeias,