É um termo usado em missões, sejam militares ou civis, quando andamos em territórios sem logística abrangente. Numa deslocação temos de planear um conjunto de factores desde alimentação, água, medicamento, comunicações, mas também o combustível e a conservação das viaturas.

Nesse ponto, de não retorno, tem de se tomar a decisão. Se avançarmos não há condições de voltar. Tem de se ir até ao fim, custe o que custar.
Porém, nas relações humanas, mesmo havendo tolerância, compreensão, moral e disponibilidade, devemos ponderar bem este conceito.
Em missão com condições adversas o stress é um factor crítico para manter disciplina. O tipo de gestão de recursos humano é a Unidade Orgânica, em que o líder essencialmente tem de ter um perfil democrático e cada um tem uma função, embora o factor de interajuda seja fundamental, principalmente nos piores momentos. Curiosamente nessas alturas, com a motivação do grupo, o stress acaba por ter um efeito positivo. É fundamental cada um saber o seu papel e funções.
Mas também nas relações humanas do dia a dia, curiosamente, também existe o Ponto de não retorno.
Acontece muito em casais com um relacionamento conturbado e, apesar do ser humano ter capacidade de perdoar, que resolve muitos problemas, as partes não se reconciliam porque muitas vezes há factores externos que adulteram o papel e missão de cada membro de um dado casal, seja heterossexual ou homossexual.
O «ponto de não retorno» é de facto abrangente e muito importante nas nossas vidas. Porque muitas vezes as pessoas desculpam, mas não esquecem. E a qualquer momento a missão ou objectivo acaba por sair frustrado.
Obviamente nas missões ocorrem erros, falhas, porque as equipas são humanas. E por isso é essencial não empolar a situação e culpabilizar fulano ou cicrano. O líder nessas situações tem um papel fundamental para apaziguar e, regra geral, numa primeira fase deixa desabafar cada uma das partes em conflito e aconselhar sempre que o objetivo da missão é colectivo e não pessoal. E depois reúne com toda a equipa para num «briefing» tentar unir mais a equipa sempre com o objectivo em mente.
Infelizmente entre casais, ou amigos, nem sempre há um mediador. Em tempos os sacerdotes faziam muito esse papel nas crises matrimoniais. Nem sempre resultava, mas, na altura, o papel era louvável.
E nos dias de hoje o problema tem tendência crescente porque os telemóveis são usados não para dialogar, mas para mensagens, que acabam por ser intempestivas, porque a mensagem é um acto de cobardia de não querer enfrentar a realidade. Parece, infelizmente, um jogo de artilharia com míssil para cá, míssil para lá, com o inevitável agravamento da tensão entre as partes.
O povo sabiamente dizia: «É a falar é que a gente se entende.» E por isso nos grandes conflitos quando os recados entre os mediadores terminam e as partes se encontram frontalmente acaba-se por, regra geral, alcançar a paz.
Por exemplo o famoso telefone que ligava no passado os líderes soviético e norte americano, muitos problemas deve ter resolvido. Se fosse com SMS era uma perda de tempo e dinheiro.
Por isso o modelo de gestão de unidade orgânica, preferencialmente com um líder democrático, consegue objectivos que muitas vezes poucos acreditam.
E em muitas missões o uso do telemóvel é restrito. Seja porque não há rede, mas essencialmente é um instrumento que promove o risco de instabilidade.
A frontalidade e a confidencialidade são essenciais para o sucesso e bem-estar das nossas vidas e nunca termos na mente o Ponto de não retorno. Esse só mesmo em missões de risco!
Pelo menos penso assim!
Luanda, 4 de Fevereiro* de 2024
* Data do início da Luta Armada em 1961 em Angola.
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«No trilho das minhas memórias», ficção por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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