José Cristino dos Santos Coelho, padre dos Missionários de São João Baptista, nasceu em 27 de Novembro de 1943, na freguesia de Fiães (Trancoso). Faleceu, após um internamento prolongado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no dia 2 de Fevereiro com oitenta anos. O funeral realizou-se, dois dias depois, em Gouveia.

Aos catorze anos José Cristino dos Santos Coelho desceu um pouco neste nosso território interior e foi estudar, em 1957, para a Escola Apostólica de Cristo Rei, instituição dirigida pela União de São João, fundada por João Maria Haw na Alemanha, que chegara a Portugal através do dr. Aureliano Dias Gonçalves. Tinha aberto portas na Vila América, em Gouveia, no ano anterior.
A equipa alemã era composta pelo Superior padre João Czepanski e pelo seu auxiliar Padre Carlos Pfister, Frei Norberto dedicado à cozinha e agricultura, Gotte Fritz (Godofredo) especialista em carpintaria e Sebastião, um grande técnico de artes gráficas.
Em Outubro de 1958, mudaram-se as instalações escolares, tipografia, carpintaria, agricultura, para a encosta do Farvão, inauguradas em Novembro pelo Embaixador Alemão em Portugal e benzidas pelo Bispo da Guarda, D. Domingos da Silva Gonçalves, acontecimento nacional noticiado na RTP com imagens.
Durante sete anos, o adolescente José Cristino realçou-se pela sua inteligência, um dos melhores alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei.
Seguiu estudos universitários, conjuntamente com outros alunos, para Universidade Estatal de Mainz – Alemanha. Um seu companheiro diz-me: «Era um aluno brilhante, notável, as suas notas eram das mais elevadas naquela universidade, o que motivou o respeito e a admiração dos estudantes alemães, deixando de nos olhar com superioridade.»
Regressou a Gouveia. Foi professor de Religião e Moral e Filosofia, além de diversas actividades de apoio aos alunos. Realce-se que na docência, que no seguimento do pensamento do Fundador da Congregação dos Missionários de São João Baptista, com a atenção e dedicação nos doentes e na recuperação e reinserção de alcoólicos e reclusos, organizou e concretizou diversas visitas de estudo a entidades destas áreas. Recordo as duas visitas ao Estabelecimento Prisional de Castelo Branco, com alunos adolescentes a frequentar os últimos anos do secundário, a fim de conhecer «in loco», as realidades e as orgânicas do sistema prisional.
Alguns desses estudantes ficaram de tal forma sensibilizados e interessados que, depois da frequência de estudos universitários, escolheram profissões ligadas à Justiça, Ministério Publico, Magistratura, Técnicos de Serviço Social e Segurança.
Em 1971, conjuntamente com o seu companheiro de estudos António Cecílio, natural de Manteigas, foi ordenado sacerdote na Capela da Casa Rainha do Mundo, das Irmãs de São João Baptista de Gouveia.
Exerceu a docência na Escola Apostólica de Cristo Rei e na Escola Secundária de Gouveia, onde granjeou a estima e empatia dos alunos e alunas, com visitas de carácter social, humanitário, religioso e comunitário.
Em 1976, como trabalhador estudante, frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, licenciando-se em Filosofia e Estudos Religiosos.
Foi para Lisboa, onde durante muitos anos acompanhou estudantes a frequentar os estudos universitários, principalmente oriundos de Moçambique e da Índia, onde os Missionários de São João Baptista fundaram Casas de Missão.
Em Lisboa teve a seu cargo a Pastoral da Saúde, principalmente no Hospital de Santa Marta e na Paróquia de São João de Deus.
Em 2023 a doença agravou-se e, no final de um internamento alongado no Hospital de Santa Maria, faleceu no dia 2 de Fevereiro com oitenta anos, finalizando uma vida consagrada. Dois dias depois, o seu funeral realizou-se em Gouveia, onde participaram centenas de pessoas, com destaque para a presença de muitos antigos alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei.
Realço as diversas referências ao padre José Cristino «como uma pedra angular e um símbolo dos Missionários de São João Baptista, cuja matriz transportou para todos os lados.»
O Presidente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei de Gouveia, António José Ferreira Machado, leu esta importante e significativa mensagem que transcrevo:
«Padre José Cristino! Tanta Vida… de Fiães para Gouveia (vila América e Farvão), depois para a Alemanha e novamente Gouveia, depois Lisboa e finalmente Gouveia.
Estamos a celebrar mais uma etapa da VIDA do Padre Cristino. Porque esta é a nossa esperança; uma esperança que não nos deixa cair no desespero diante da morte daqueles que nos são queridos, como é o Padre Cristino para os Antigos Alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei.
Iniciou esta etapa no dia de São João Bosco, pai e mestre da juventude, quando a liturgia cantava na antífona da Comunhão… “Fazei brilhar sobre mim o vosso rosto, Salvai-me, Senhor, pela vossa bondade, e não serei confundido por Vos ter invocado.”
Estamos aqui neste espaço onde o sagrado nos toca, a viver momentos de afecto, de dor, de saudade, de expressão da amizade que foi vivida ao longo de anos por tantos e tantos Antigos Alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei.
O Padre Cristino foi um homem de Deus. É a síntese que resume toda a sua vida pessoal, quer na cultura, na imprensa escrita, no teatro, na filosofia, na meditação, quer na sua fé, no seu sacerdócio na linha do Vaticano II, e na sua acção pastoral que marcou várias gerações e tocou tantos corações.
Como profeta da esperança e da alegria tinha grandeza de pensamento, inteligência brilhante e memória invejável, o que tornava cada explanação sua ainda mais sedutora pela riqueza de detalhes que trazia aos casos que contava para enriquecer o tema.
O Padre Cristino celebrava a Eucaristia com uma dignidade, uma sabedoria, e uma capacidade ímpar de comunicar a mensagem de Jesus e a todos contagiava.
Para ele, fazer das coisas, dos acontecimentos e das dores uma leitura crente, era necessariamente a sua obrigação, o seu papel, a sua marca distinta.
Vamos recordá-lo sempre, como um Homem, um Amigo, um padre, feliz e em paz. Semeava à sua volta tranquilidade e amizade e motivava outros no caminho da vida, tanto nas paróquias das dioceses da Guarda e de Lisboa, onde colaborou e anunciou o Evangelho, como nesta Escola Apostólica, onde foi colaborador, professor e reitor e também o grande impulsionador da criação da Associação, na Escola Secundária, nas suas brilhantes aulas de Religião e Moral ou no Hospital de Santa Marta, onde foi capelão e tantas iniciativas religiosas, formativas e culturais que promoveu.
Que o seu exemplo seja semente de uma Igreja viva, fraterna, misericordiosa e missionária.
Obrigado à sua Família. Obrigado aos Missionários de São João Baptista.
Ao nosso Padre Cristino a Gratidão, a Admiração, a Oração dos Antigos Alunos.
Nunca o esqueceremos. Até sempre.»
Quando vimos partir um companheiro de estudos, um missionário, um amigo sempre disponível, solidário, um professor, um filósofo, ficamos mais pobres, mais tristes…
:: ::
«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
:: ::
Leave a Reply